Título: Tensa divisão dos cargos no DF
Autor: Medeiros, Luísa; Tolentino, Lucas
Fonte: Correio Braziliense, 02/01/2011, Política, p. 15

Distritais descartam acordo firmado e exigem nova rodada de negociações para viabilizar a eleição da Mesa Diretora

Após oito horas de intensas negociações, os deputados distritais conseguiram chegar a um consenso para eleger os membros da Mesa Diretora da Câmara Legislativa (CLDF). Apesar de existir um acordo preestabelecido sobre a partilha das vagas, um grupo de 14 deputados decidiu medir forças com o governo e provocou a reabertura das negociações. A primeira crise entre os dois poderes só foi debelada depois de muitas conversas, que chegaram a envolver o vice-governador, Tadeu Filippelli (PMDB), e o secretário de Governo, Paulo Tadeu (PT). Às 20h, os 24 distritais confirmaram Patrício (PT) na Presidência da Casa, enquanto a vice-presidência ficou com Dr. Michel (PSL). Para a Primeira Secretaria, o escolhido foi Raad Massouh (DEM) e, para a Segunda e Terceira secretarias, os eleitos foram Cristiano Araújo (PTB) e Joe Valle (PSB), respectivamente.

Nas primeiras horas à frente do Palácio do Buriti, Agnelo Queiroz (PT) enfrentou a primeira crise entre os poderes Executivo e Legislativo. Enquanto o petista acompanhava a posse da presidenciável Dilma Rousseff (PT) no Congresso Nacional, os distritais travavam uma disputa acirrada por espaço. De um lado estavam os quatro deputados petistas e o bloco formado pelas legendas mais próximas ¿ PPS, PSB e PDT. Entretanto, eles contavam com apenas dez votos e precisavam de mais três para eleger qualquer membro na mesa. Diante disso, os outros deputados, alocados em três blocos, se uniram para redistribuir o comando da Casa.

Os acordos firmados, até então, envolviam a inclusão de representantes dos cinco blocos anunciados no último mês, um em cada vaga da Mesa Diretora. No entanto, o grupo formado pela maioria se rebelou com o objetivo de ocupar quatro das cinco cadeiras. Para dar cabo à ideia, eles reformularam a composição interna e formaram um sexto bloco. Olair Francisco (PTdoB) e Celina Leão (PMN) se separaram dos colegas Eliana Pedrosa (DEM), Raad Massouh (DEM) e Liliane Roriz (PRTB), e receberam Wellington Mesquita (PSC) ¿ ex-integrante do bloco formado por PMDB, PSL e PTC. Eles lançaram Olair à disputa por um lugar no comando da Casa. Eliana, Raad e Liliane mantiveram a indicação original da candidatura do democrata.

A nova configuração criou um embate entre os dois grandes grupos, o que representou a fragilidade do governo em formar maioria na Casa. Entretanto, segundo os distritais, não havia disputa com a base governista, mas apenas uma briga por espaço. ¿Isso faz parte do processo legislativo. Estranho seria se tivéssemos resolvido logo¿, disse Patrício. Prova contrária, foi a necessidade da presença de Filippelli e Paulo Tadeu para acabar com a cisão. Os dois conversaram durante toda a tarde com cada um dos distritais. Nas salas ao lado do plenário, eles ouviram desde queixas políticas até relatos de mágoas pessoais entre eles.

A negociação foi delicada. O perigo de o governo endurecer era de perder a própria presidência, único cargo de consenso. Um agravante da crise foi a tentativa de excluir o bloco liderado pelo distrital Alírio Neto (PPS). Com a saída dele para a Secretaria de Justiça, a cobiça pela vice-presidência foi ampliada e deixou vulnerável uma área estratégica do comando do Legislativo. ¿Em um primeiro momento, estranhei a presença do vice-governador, mas depois vi que era uma presença positiva. Se houvesse imposição, não teria havido consenso no final¿, afirmou Eliana. A saída encontrada foi a desistência de Olair.

Divididos A sessão foi aberta por Patrício, por volta do meio-dia, para eleger os quadros da Mesa, mas acabou suspensa logo em seguida. Não havia acordo para prosseguir a votação. O jeito foi dividir aliados e opositores do novo governo em salas de reuniões e começar do zero o debate pelos cargos. Deputados e assessores abriram mão do almoço ¿ pediram sanduíches e pizzas ¿ enquanto discutiam as candidaturas para as vagas do comando da Casa.

Duas horas depois, o vice-governador, Tadeu Filippelli, apareceu para gerenciar o desentendimento. Ao ser perguntado sobre a motivação da ida à Câmara, Filippelli disse que estava apenas fazendo uma ¿visita de cortesia¿ para cumprimentar os deputados. ¿Às vezes, a gente tem que deixar de ser vice para ser presidente do PMDB. Isso não prejudica a base aliada de forma nenhuma. Não considero impasse. Está tendo uma conversação¿, afirmou.

A iminência de deixar sob o controle da oposição a maioria dos cargos da Mesa Diretora endureceu o discurso de alguns aliados de Agnelo. ¿Se o golpe se concretizar, a estrutura do governo Agnelo terá nova configuração amanhã¿, ameaçou Chico Vigilante (PT), dizendo que as nomeações feitas em nome dos ditos aliados poderiam ser desfeitas. Na segunda-feira, as 15h, haverá a primeira reuni¿ao da Mesa Diretora. Na terça-feira, no mesmo horário, os 24 deputados vão se reunir para discutir, entre outros temas, o veto aos descontos para pagamento em cota única do IPVA e do IPTU. Ontem, Agnelo anunciou o veto à taxa 10% aprovada pelos distritais da antiga legislatura, em 17 de dezembro.

Às vezes, a gente tem que deixar de ser vice para ser presidente do PMDB. Isso não prejudica a base aliada de forma nenhuma. Não considero impasse¿

Tadeu Filippelli, vice-governador

Rebelados Eliana Pedrosa, Celina leão, Liliane Roriz, Olair Francisco, Raad Massouh, Cristiano Araújo, Benedito Domingos, Ailton Gomes, Washington Mesquita, Benício Tavares, Rôney Nemer, Dr. Michel, Wellington Mesquita e Agaciel Maia.

Governistas Chico Leite, Arlete Sampaio, Chico Vigilante, Patrício, Wasny de Roure, Evandro Garla, Joe Valle, Cláudio Abrantes e Israel Batista.