Título: BNDES vai liberar R$ 1,48 bi para usina da Thyssen e Vale
Autor: Góes, Francisco
Fonte: Valor Econômico, 21/06/2007, Empresas, p. B7

A ThyssenKrupp CSA Companhia Siderúrgica, projeto que produzirá cinco milhões de toneladas de placas de aço para exportação a partir de 2009, teve aprovado, ontem, financiamento de R$ 1,48 bilhão pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Os recursos serão usados na compra de máquinas e equipamentos nacionais para o complexo, o maior empreendimento do setor no país em 20 anos.

A usina vai exigir investimentos de 3 bilhões de euros por parte dos sócios, a alemã ThyssenKrupp e a Companhia Vale do Rio Doce. Por meio da assessoria de imprensa, a CSA disse que a estrutura de financiamento para o projeto está fechada e que não haverá outros financiamentos. O empréstimo do BNDES, com prazo de pagamento de 13,5 anos, corresponde a 18% do investimento total.

Os recursos restantes serão aportados pelos sócios, de acordo com suas participações acionárias: a Thyssen tem 90% e a Vale, 10%. O custo do financiamento não foi revelado nem pelo banco, nem pela CSA, que devem assinar o contrato em prazo de cerca de um mês. No momento estão em andamento obras de infra-estrutura na área da usina, situada na região metropolitana do Rio de Janeiro.

O anúncio do empréstimo, o maior concedido pelo banco para a siderurgia nos últimos anos, foi acompanhado de polêmica. O advogado Carlos Henrique Jund disse que associações de pescadores da área de influência do projeto vão entrar com ação civil pública na Justiça Federal com o objetivo de sustar o financiamento aprovado pelo BNDES. A ação, que teria a União como ré, pretende questionar o uso de verba pública para financiar tecnologia supostamente "inadequada" do ponto de vista ambiental.

Os pescadores representados por Jund discordam da tecnologia de dragagem utilizada pela CSA para aumentar a profundidade do porto da usina. A tecnologia consiste no depósito da lama contaminada por metais pesados da Baía de Sepetiba, onde fica a siderúrgica, em cavas submersas, confinadas e seladas, para assegurar seu isolamento.

Jund representa duas associações de pescadores da Ilha da Madeira, em Itaguaí (RJ), em outra ação que tramita na Justiça do Rio e que busca suspender a dragagem e mudar a tecnologia usada para aprofundar o calado do porto. "O BNDES não fez uma análise comparativa das tecnologias de dragagem existentes", disse o ambientalista Sérgio Ricardo, coordenador do Fórum de Meio Ambiente da Baía de Sepetiba. Ele alega que a dragagem vem causando prejuízos à pesca na região, o que levou os pescadores a pedir indenização em outra ação judicial, afirmou.

Sérgio Moreira da Fonseca, chefe do departamento de indústrias de base do BNDES, afirmou que houve audiências públicas em três municípios da região para discutir o estudo e relatório de impacto ambiental da CSA. Ele disse que o banco discutiu o projeto com especialistas, representantes dos pescadores e com o órgão ambiental do Estado, a Feema, que concedeu licença de instalação da usina.

Fonseca afirmou que uma ONG contratada pela ThyssenKrupp fez acordos com dez comunidades de pescadores da área de influência da CSA. "Conversamos com diferentes interlocutores e entendemos que a tecnologia (de dragagem) é a mais indicada para o projeto. A decisão (sobre a aprovação do financiamento) foi baseada em critérios técnicos", disse Fonseca. Segundo ele, o BNDES vai acompanhar o andamento do projeto dando atenção especial aos aspectos ambientais.