Título: País "marcou sua posição" no anúncio do FMI sobre câmbio, afirma Mantega
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 21/06/2007, Finanças, p. C2

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, informou que o Brasil conseguiu evitar que o Fundo Monetário Internacional (FMI) fizesse uma referência "estigmatizante" aos controles de capitais em um importante documento aprovado na última sexta-feira.

A informação consta de uma nota divulgada ontem pelo próprio Ministério da Fazenda. "Não vamos impor controle de capitais", esclareceu o ministro mais tarde, após audiência na Câmara dos Deputados, quando questionado se o governo tem planos de usar esse expediente para conter a valorização da taxa de câmbio.

Segundo ele, da mesma forma como o Tesouro americano defendeu seus pontos de vista no documento divulgado pelo FMI - o interesse dos Estados Unidos é desvalorizar a moeda chinesa, com quem tem um alto déficit comercial -, o Brasil também procurou "marcar a sua posição", em conjunto com outros países emergentes. "O que não podemos admitir é que nessa altura o FMI passe a ter mais ingerência na política econômica do país", afirmou o ministro.

Na sexta-feira, a diretoria do FMI aprovou um documento que atualiza a chamada "surveillance", ou seja, um conjunto de regras que permite o monitoramento de políticas adotadas por países-membros. O ponto mais polêmico do documento permite ao organismo dizer se determinadas economias mantêm a taxa de câmbio artificialmente desvalorizada, provocando desequilíbrios globais.

Na nota divulgada ontem, Mantega diz que o governo se empenhou para suprimir do texto "uma referência estigmatizante a controles de capital" com forma de "resguardar um instrumento legítimo, amparado no próprio convênio constitutivo do Fundo".

Desde que assumiu a Fazenda, em março de 2006, Mantega vem sustentando que não irá lançar mão de controles cambiais para segurar a taxa de câmbio, entre outros motivos porque a medida é ineficaz para impedir a valorização da taxa provocada pelos altos saldos de comércio exterior. O Banco Central também é contra controles cambiais, sustentando que são ineficazes porque o mercado financeiro consegue contorná-los com facilidade. Mas essa ainda é uma medida simpática a vários economistas petistas. Em depoimento anteontem no Congresso do presidente do BC, Henrique Meirelles, o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) defendeu controles na entrada de capitais, caso uma medida prudencial adotada recentemente pela autoridade monetária que limita a atuação dos bancos no câmbio não contenha a valorização da moeda.

Em fevereiro, Mantega indicou para representar o Brasil no FMI um economista não-ortodoxo, Paulo Nogueira Batista Junior, substituindo Eduardo Loyo, ex-diretor do BC. Mantega tem criticado os organismos multilaterais. Recentemente, divulgou nota em que manifestou restrições ao processo de escolha do presidente do Banco Mundial. Na nota de ontem, Mantega diz que o Brasil, ao lado de outros países, conseguiu suprimir referência negativa a operações de esterilização - a emissão de títulos públicos para enxugar a emissão de moeda nacional.