Título: Mangabeira elogia Lula em discurso de posse
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 20/06/2007, Política, p. A8

Uma cerimônia rápida, esvaziada, com discursos protocolares, marcou ontem a posse do professor Roberto Mangabeira Unger como ministro-chefe da Secretaria de Planejamento de Ações de Longo Prazo. Nomeado a contragosto pelo presidente Lula por insistência do vice-presidente, José Alencar, Mangabeira enfrenta a desconfiança dos futuros subordinados no Ipea e terá também que procurar um novo chefe para o Núcleo de Assuntos Estratégicos (NAE), já que o anterior, coronel Oswaldo Oliva Neto ratificou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva seu pedido de demissão, por "divergências com a visão de país de Mangabeira", conforme adiantou o Valor na edição de ontem.

O Planalto aproveitou a medida provisória editada ontem com a criação da secretaria de Mangabeira para criar 626 novos cargos de confiança, com salários que variam de R$ 1,9 mil a R$ 10,4 mil. Das novas vagas, apenas 83 destinam-se à Secretaria de Planejamento de Ações de Longo Prazo. A maior parte delas (224) vai para a Secretaria de Patrimônio da União (SPU). O gasto extra da máquina será de R$ 23,5 milhões por ano.

Neste ano, o aumento de custos será de R$ 13,5 milhões. A MP foi publicada um dia depois de o Executivo conceder reajustes aos 21,5 mil cargos comissionados já existentes na máquina pública federal, com percentuais que chegam a 140%.

No texto da MP, a nova estrutura da secretaria tem, como órgão vinculado, apenas o NAE. O Ipea será incluído posteriormente, em um decreto presidencial a ser publicado ainda esta semana. A justificativa é que, por ser vinculado ao Ministério do Planejamento, o remanejamento do Ipea pode ser feito sem a necessidade de aprovação pelo Congresso Nacional.

Ao assumir a Pasta, Mangabeira Unger elogiou a "magnanimidade" do presidente Lula ao convidar para seu governo alguém que "fez críticas veementes e com ardor ao seu primeiro mandato". Não se retratou, contudo, de nenhuma palavra constante no artigo da "Folha de S. Paulo", de 15 de novembro de 2005, no qual classificou o governo Lula "como o mais corrupto da história".

Mangabeira incorporou o discurso lulista de que "o povo, nas eleições presidenciais do ano passado, rejeitou tutelas ao escolher reeleger o atual presidente". Disse ainda que o Brasil "não fica mais de joelhos diante do capital internacional". Completou que, enquanto Getúlio Vargas deu voz aos setores organizados da sociedade, o governo Lula está "ajudando a sociedade ainda desorganizada a dar passos rumos à vanguarda".

Em seu pronunciamento, Lula criticou os governantes que, ao assumir um novo mandato, abandonam todas as realizações de seus antecessores. Questionou quanto custa ao país não ter feito "as coisas que outras partes do mundo fizeram no momento certo", como a reforma agrária e a alfabetização dos jovens. Deu apoio a Mangabeira, afirmando que "temos a obrigação de deixar um legado melhor do aquele que nós recebemos".

Para um assessor palaciano, o discurso de Lula foi no "tom certo, dito no momento adequado, mas direcionado para a pessoa errada". Para o assessor, a missão é grandiosa demais para ser repassada a alguém ligado a um partido político. "O risco de partidarização desse debate é concreto, o que colocaria em risco todo o trabalho".

O coronel Oliva, que entregou ontem o seu cargo de chefe do NAE e passará a cuidar, integrado à Casa Civil, do projeto de inclusão digital, disse que Lula não pediu que ele reconsiderasse a saída do NAE, mas insistiu para que permanecesse no governo. Um economista do Ipea disse que a preocupação dos técnicos do Instituto ontem era a de fechar um boletim a ser publicado hoje. "Temos que trabalhar, independente de quem venha para cá", resumiu.