Título: PFL reage a assédio do PMDB a Roseana
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 14/01/2005, Política, p. A6

A sucessão na presidência do Senado, que até então transcorria pacificamente, teve o seu primeiro incidente diplomático. O PFL reagiu à articulação de aliados do governo, especialmente do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), para viabilizar a desfiliação da senadora Roseana Sarney (MA) da legenda e, em seguida, seu ingresso no primeiro escalão do governo. Os pefelistas consideraram que Calheiros, que assumirá a presidência do Senado, meteu os pés pelas mãos ao sinalizar claramente que Roseana, num futuro próximo, se filiará ao PMDB. A possível indicação de Roseana a ministra teria sido discutida numa reunião reservada entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva; o presidente do Senado, José Sarney, e Calheiros. "Não fica bem para um futuro presidente da Casa, que nós apoiamos e em quem confiamos, participar desta articulação", avisou ontem o senador Heráclito Fortes (PFL-PI), vice-líder, mandando um recado em nome de sua bancada. O pefelista citou até uma famosa frase de Ulysses Guimarães sobre a dinâmica política, que mostra ao tamanho do estrago: "O dia do benefício é véspera da ingratidão". O recado pefelista não terá outros desdobramentos políticos - o PFL continua firme no apoio a Calheiros -, mas deixa claro que o pemedebista assumirá o Senado tendo um débito com a oposição. "Quem viabilizou a candidatura do Renan não foi o Palácio do Planalto", pontuou Fortes. Ele disse que, num determinado momento do debate, quando ainda havia dúvidas sobre a possibilidade de o Congresso aprovar a emenda da reeleição das Mesas Diretoras, o governo pensou em articular um terceiro nome para presidir o Senado, que não fosse o de Sarney nem o de Renan Calheiros. Heráclito Fortes conversou pessoalmente com Calheiros ontem. Disse que estava apenas fazendo "um alerta leal, sincero e aliado". "A candidatura do Renan é suprapartidária. Para que a sucessão seja pacífica, é preciso o compromisso da isenção", disse o pefelista. O PFL não tem dúvidas de que Renan Calheiros vai agir como aliado do governo. Deve repetir o comportamento de Sarney. "Só que nós não tivemos conhecimento durante o ano passado de nenhum movimento do Sarney para tirar alguém do PFL e acomodar em outro partido", alfinetou Heráclito Fortes. Na conversa com o senador pefelista, Renan Calheiros admitiu que cometeu um deslize. O pemedebista passou a tarde em seu gabinete. Evitou aumentar a dimensão do episódio. O PFL, segundo Heráclito Fortes, não aceita o aliciamento de parlamentares. A ação desesperada do PT para conseguir maioria, segundo ele, é um prática que o partido criticava com veemência no passado. O pefelista prevê que a briga entre PT e PSDB no Senado vai ser mais acirrada neste ano. O PMDB continua como a maior bancada, com 23 parlamentares. O PFL, sem Roseana, fica com 16. PT e PSDB têm 13 senadores em suas bancadas. É o tamanho da bancada que define a ordem de escolha das presidências das comissões temáticas. O PFL já decidiu indicar o senador Antonio Carlos Magalhães (BA) para a Comissão de Constituição e Justiça, uma das mais estratégicas na Casa. É dor de cabeça garantida ao governo.