Título: Apoio a Renan diminui e pode adiar novamente votação de parecer
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 20/06/2007, Política, p. A9

Com o enfraquecimento da rede de apoio do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Casa pode adiar mais uma vez a votação do parecer que manda arquivar o processo contra o pemedebista. Renan queria o encerramento do caso hoje, mas aliados consideravam que, depois de uma sucessão de erros de estratégia da defesa, há o risco de derrota no conselho. Por isso, a conveniência do adiamento era avaliada.

Segundo afirmou um interlocutor do presidente do Senado, "ele tem pressa de ganhar, mas não tem pressa de perder". Entre os 16 integrantes do conselho, eram computados como certos a favor de Renan apenas de quatro pemedebistas, do relator, Epitácio Cafeteira (PTB-MA) - que está de licença médica mas seu voto está consignado no parecer -, e, provavelmente, do corregedor, Romeu Tuma (DEM-SP).

PSDB (dois integrantes), DEM (três, fora Tuma), Jefferson Péres (PDT-AM) e três senadores dos cinco conselheiros da base governista - Renato Casagrande (PSB-ES), Augusto Botelho (PT-RR) e Eduardo Suplicy (PT-SP) - condicionavam sua decisão ao resultado da perícia da Polícia Federal nos documentos apresentados por Renan para comprovar vendas de gado. Essas operações comprovariam que ele tinha recursos para arcar com pagamentos à jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha.

Uma das suspeitas contra o pemedebista é de ter feito pagamentos pessoais com recursos da empreiteira Mendes Júnior ou do funcionário dela Cláudio Gontijo, que entregou a Mônica várias remessas de dinheiro.

O resultado da perícia foi entregue ao presidente do conselho, Sibá Machado (PT-AC), no início da noite. "Se a perícia for insuficiente, vamos pedir mais prazo para votar. Se mesmo assim o parecer for levado a voto, vamos nos abster", disse o líder do PSDB, Arthur Virgílio. "Precisamos de provas para condenar ou para absolver", completou o líder do DEM, José Agripino (RN).

Os sinais do enfraquecimento da posição do Renan ficaram mais fortes. Pedro Simon (PMDB-RS) pediu, da tribuna, sua renúncia da Presidência do Senado. "Com todo o carinho, com todo o respeito, entendendo a mágoa, o sentimento que o senador Renan deve estar vivendo, eu lhe aconselharia: a vida continua, ele tem a vida pela frente e faria um gesto que marcaria sua posição, se renunciasse ao mandato de presidente do Senado", disse.

A defesa partiu do próprio PMDB. "Esses pronunciamentos é que estão levando o Senado à bancarrota, ratificando aquilo que a imprensa está produzindo, a serviço não sei de quem", reagiu Almeida Lima (PMDB-SE). É prática do gaúcho defender o afastamento de autoridades investigadas. Mesmo assim, a declaração causou constrangimento no plenário. Ele propôs a renúncia em aparte a discurso de Cristovam Buarque (PDT-DF), que manifestou o temor de que "a indignação" popular com o comportamento do Senado seja transformada "em revolta".

Pela manhã, Renan recebeu solidariedade da cúpula do PMDB. Foram a seu gabinete, entre outros, o presidente, deputado Michel Temer (SP), o líder na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), e o senador José Sarney (AP). Na conversa, Renan reafirmou disposição de permanecer no cargo até o fim e nem deu margem para que lhe sugerissem o afastamento.