Título: Invasão das novatas
Autor: Vieira, Catherine e Cotias, Adriana
Fonte: Valor Econômico, 20/06/2007, EU & Investimentos, p. D1

Em pleno mercado de alta - com o Ibovespa beirando os 55 mil pontos -, o investidor brasileiro não pode reclamar da falta de novas opções. Com a estréia das ações da Logística Intermodal (Log-In), na Bovespa, amanhã, a quantidade de ofertas públicas iniciais (IPO) este ano já se iguala ao total de 2006, com 26 emissões, elevando para 371 as empresas listadas. Os números do ano passado, já um recorde absoluto, deverão ser superados de longe em 2007: quase 30 novatas aguardam na fila a aprovação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para suas captações.

Segundo levantamento da Value Consultoria, até aqui já foram vendidos R$ 14,55 bilhões em ações e, contando as sete empresas que já divulgaram seus cronogramas, como a Redecard ontem, serão R$ 21,6 bilhões até meados de julho. Em 2006, as estreantes captaram R$ 13,9 bilhões.

Pelas projeções da Superintendência de Registro da CVM, as ofertas em análise somam R$ 26 bilhões. Este número engloba, porém, operações que não são de estreantes e duas temporariamente paralisadas. "Numa estimativa conservadora, os números podem dobrar este ano", diz Carlos Alberto Rebello, superintendente de registros da CVM. A realidade pode se mostrar ainda mais promissora. "Estes números são só do primeiro semestre e ainda podem surgir novas levas de empresas dispostas a abrir o capital na segunda metade do ano, após as férias do Hemisfério Norte."

Com a acelerada chegada das novatas, o pregão vai ganhando diversidade, não só pelo porte das companhias como também pelos setores. A Log-In, por exemplo, vem reforçar a lista do ramo de logística, até aqui escassamente representado no pregão - tendo, por muito tempo, a América Latina Logística (ALL) como única alternativa. Neste ano, debutou a Wilson Sons, de operações portuárias, e em processo de abertura de capital está a Tegma Gestão Logística.

As ações ordinárias (ON, com direito a voto) da Log-In saíram a 14,25, na média do intervalo. A subsidiária da Vale do Rio Doce, que com o IPO passará a ter controle difuso, levantou R$ 744,8 milhões, 8% a mais do que previa inicialmente, e a operação ainda pode ser acrescida em 15%. As reservas no varejo foram atendidas até R$ 2,508 mil, com mais R$ 2,508 para as encomendas acima disso. Isso quer dizer que mais de 40 mil investidores individuais podem ter participado da operação, dada a fatia destinada a esse público, entre 10% e 20%.

Os IPOs têm dado a grande contribuição para mudar a cara da bolsa brasileira. Indústrias dos mais diversos segmentos, tecnologia, saúde, agronegócio, shopping center, gestão de recursos e varejo passaram a fazer parte desse caldeirão. Sem contar as modas do ramo imobiliário (com 20 ofertas desde Cyrela, em 2005), e, mais recentemente do setor financeiro, com 5 bancos médios.

"Os modismos sempre trazem o risco de uma sobreoferta e nem todas as empresas terão projetos de crescimento para entregar", alerta o professor Ricardo Leal, do Instituto Coppead, do Rio de Janeiro. "Mas é muito melhor ter essa variedade do que um mercado 70% concentrado em Telebrás."

Ao abrir espaço para toda sorte de empresas, o mercado brasileiro caminha para a globalização no seu sentido mais amplo, mas isso não quer dizer que o retorno exigido pelo investidor será alcançado a bom termo, arremata o chefe de análise da CMA, Luiz Rogé Ferreira. "E, num mercado em ebulição, é mais difícil filtrar o que é bom ou ruim." Com tantas promessas, ele sugere que o investidor seja mais conservador do que há seis meses. "Tem muito papel bom para o longo prazo, mas é preferível aguardar as primeiras análises formais dessas ações para decidir."

O movimento atual ainda não se compara à quantidade de ofertas observada na década de 70 ou em meio ao "boom" do Plano Cruzado, em 1986, lembra Leal, do Coppead. O aparato institucional e a qualidade das emissões já são, entretanto, muito melhores do que se viu em outros momentos de euforia. Mas, se há mais do que moda nesses IPOs em série, só o tempo dirá. "Os últimos três anos foram de intensa atividade, mas não dá para dizer ainda se isso é consistente, o mercado ainda não foi plenamente testado."

Para ele, a Bovespa precisa passar por correções que reduzam o preço das ações entre 20% e 30% para avaliar se, depois de um revés, a porta continuará aberta e o mercado não cairá em descrédito. Por enquanto, em meio à abundância de capital externo, as chances de o investidor levar para casa ações a preços inflados são grandes. "Isso não quer dizer que não haja boas oportunidades de longo prazo."

Uma boa comparação é a própria Log-In, que vai estrear no pregão com Preço/Lucro (a relação entre o valor de mercado e os resultados e que dá uma idéia do prazo de retorno do investimento) de 34,7 anos, ante os 8,45 anos da Vale. "São parâmetros que vão perdurar pelos próximos dois anos", sentencia Rodrigo Pasin, sócio da Value. "Nada do que aconteceu ou que venha acontecer vai reduzir esses preços, pois a liquidez externa, a demanda, continuam fortes."