Título: Passo à frente
Autor: Corrêa, Maurício
Fonte: Correio Braziliense, 02/01/2011, Opinião, p. 23

Estamos no ano de 2011. Nova presidente da República se empossou no comando do país e novo governador assumiu a direção da cidade. Como ambos são do mesmo partido político, pressupõe-se que a concorrência de mandatos venha facilitar o cumprimento dos encargos públicos de cada um. O governador porque vai precisar da presidente para a solução dos problemas da cidade que demandam ajuda federal; a presidente porque não pode prescindir do governador no desembaraço de questões de interesse federal no âmbito da capital da República. A circunstância de serem coincidentes os partidos dos dois governantes é particularmente boa para a cidade. Embora, em contrapartida, tenha o governador de conviver com uma série de problemas já nos albores do governo.

O titular do mandato-tampão que deixa o cargo não foi sequer capaz de mandar cortar o mato que sufoca a grama e as plantas das avenidas da cidade. O resultado é que ficou feia como poucas vezes ou jamais se viu. Logo durante as festas de fim de ano, quando deveria estar bem-arrumada e limpa. Há montões de lixo espalhados pelas vias públicas, e buracos podem ser vistos no asfalto em vários locais por onde se passa. É um espetáculo nada agradável para os olhos dos turistas que vieram assistir à posse da nova presidente. Não se sabe o que os diplomatas das representações sediadas na capital da República vão pensar acerca da abundante sujeira urbana. Esperemos que as omissões administrativas encontradas sejam rapidamente solucionadas e que as obras públicas mais urgentes, agora paralisadas, sejam retomadas e concluídas. Aí estão as consequências de uma escolha malsucedida de alguém sem aptidão para o exercício das funções de governar.

De lado tal ocorrência, seria despropositado não reconhecer que o país atravessa bom momento de sua história. O crescimento da economia nacional é palpável e se coloca num patamar que há tempos não se verificava. Pode ser perceptível até por leigos pelo que resulta da movimentação dos negócios nos vários campos da atividade econômica e pelo volume de novos postos de emprego abertos nesses mesmos e em outros segmentos produtivos. Uma série de circunstâncias se reúne no cenário de crescimento hoje presenciado pela nação. A primeira delas relaciona-se com as medidas econômicas e fiscais instituídas por governos que ultimamente passaram pelo poder.

Entre os instrumentos utilizados para que o país pudesse ingressar num patamar de estabilidade econômica, está a Lei de Responsabilidade Fiscal, como também estão algumas alterações introduzidas na Constituição Federal, como a quebra do monopólio do petróleo, além de normas legislativas infraconstitucionais aprovadas, todas com esse mesmo escopo. Não se pode negar que o presidente Lula, ao assumir a Presidência da República, não só manteve a linha do modelo econômico antes criado para o desenvolvimento nacional como o aperfeiçoou em alguns aspectos. Não só seguiu o que herdou nesse sentido, como também deu impulso a outras iniciativas com idêntico propósito. A maior delas, sem dúvida, diz respeito às descobertas na província petrolífera da camada do pré-sal da Bacia de Santos. Alguns de seus lençóis já são conhecidos e possuem capacidade exploratória definida. O que não se conhece bem ainda nas camadas do pré-sal, mas se estima ser de volumosas dimensões, apresenta-se como fonte e reserva inesgotável de riqueza da nação. Para dar consistência à continuidade do mesmo modelo econômico, normas legais foram aprovadas pelo Congresso Nacional e pelo próprio Poder Executivo, preservando-se sempre essas mesmas estruturas básicas do desempenho econômico nacional.

É esse país de futuro promissor, com todas as potencialidades, grandezas, dificuldades e problemas, que a presidente da República comandará. Tais evidências não lhe são desconhecidas pelo que hauriu de conhecimentos durante a permanência na Casa Civil da Presidência da República e ampliados no contraditório da recente disputa eleitoral. As apreensões de boa parte da população acerca do passado de militância revolucionária se desfizeram com as afirmações sobre seu pensamento político e o que pretende fazer para o país.

Nada deixou transparecer que pudesse gerar ansiedade no seio do eleitorado nacional. A firmeza com que se posicionou acerca das expectativas do múnus de presidir a nação transmitiu segurança de que as facções radicais do petismo ou de outros setores partidários não terão vez no governo. Como não terão vez segmentos ideológicos exacerbados que eventualmente queiram converter funções do serviço público em veículo de propagação política incompatível com os fins da administração pública.

É cedo para falar sobre o ministério escolhido, bem como sobre os titulares de outros cargos ocupados. É necessário que haja tempo para que principiem a trabalhar. O mesmo se diz da presidente. Só mesmo depois será possível formar algum juízo de valor. Neste país em que os negócios começam a crescer, resta esperar que possam melhorar ainda mais. Não devemos perder a esperança de que o governo pode dar certo. De que o Brasil pode avançar em busca de mais crescimento econômico e de conquistas sociais, estas infelizmente ainda engatinhando.