Título: Agnelo assume e já decreta emergência
Autor: Tahan, Lilian; Campos, Ana Maria
Fonte: Correio Braziliense, 02/01/2011, Cidades, p. 29

Horas após a posse, governador anuncia medidas de urgência para resolver o caos na Saúde, exonera 18,5 mil funcionários contratados sem concurso público e adia todos os prazos de licitações. No discurso, promete resgatar Brasília e acabar com a corrupção

O retrato da posse de Agnelo no Palácio do Buriti é um registro da reviravolta do poder no Distrito Federal. Depois de 12 anos na oposição, o PT retornou ao governo. Figuras que passaram três mandatos afastadas do núcleo de decisões sobre a condução do Distrito Federal, ontem, sorriam para o futuro de autoridade que lhes aguarda. Um time de petistas que se aliou ao PMDB e mais 12 partidos periféricos vão ditar as regras pelos próximos quatro anos.

Ainda era manhã quando Agnelo Queiroz foi empossado oficialmente na Câmara Legislativa pelos distritais. Já na condição de governador, o petista seguiu para o Palácio do Buriti, onde assinou os primeiros decretos de sua gestão. Um deles deu posse aos 31 secretários que integram o GDF.

À tarde, por meio de interlocutores, Agnelo decretou estado de emergência e anunciou providências urgentes na saúde pública. O ato permite, por exemplo, remanejamento de servidores, contratos emergenciais, mudanças no orçamento e dispensa de licitação. O novo governador também assinou uma medida que suspende todas as concorrências públicas num prazo de cinco dias e ainda exonerou os 18,5 mil servidores comissionados do GDF (leia mais na página 31).

Em dois discursos públicos, Agnelo foi tomado pela emoção. Chorou muito ao falar de desafios, agradecer familiares e lembrar a longa trajetória que o levou à vitória em outubro. Ele foi deputado distrital, três vezes deputado federal e ministro do Esporte.

Fortalecido pelas circunstâncias de crise, foi eleito governador. ¿Não foi fácil chegar até aqui. A beleza do processo político é o estabelecimento de metas que passem a ser viáveis a partir da perseguição dos consensos e da formação de maiorias¿, disse o governador, que tinha ao seu lado direito o vice, Tadeu Filippelli (PMDB), principal símbolo da composição que deu musculatura à chapa liderada pelo PT.

Compromissos Já como governador, Agnelo fez juramentos de caráter moral: ¿Serei leal. Serei direto. Serei honesto¿. E cobrou, dirigindo-se aos aliados: ¿Exigirei lealdade e honestidade¿. Nas primeiras horas como chefe do Executivo, Agnelo fez promessas de gestão e fixou prazos. Comprometeu-se a colocar ¿ordem¿ na Saúde em 100 dias. Entre as medidas, estão a construção, este ano, de 10 unidades de pronto atendimento (UPAs), a erradicação do analfabetismo na capital até 2012 e a criação de mais empregos, ¿uma das obsessões¿ de seu governo.

Agnelo não citou nomes, mas criticou as administrações que o antecederam ao apontar a capital como sinônimo de ¿corrupção¿, ¿falcatruas¿, ¿negociatas¿. ¿Não é aceitável que uma cidade que nasceu para ser modelo seja hoje motivo de achincalhe, de piada nacional. Basta!¿, vociferou o petista. Ele encerrou suas palavras com os olhares atentos de 500 testemunhas que o ouviram assumir o compromisso de acertar. ¿Não decepcionarei¿, prometeu Agnelo Queiroz.

Cristovam, ausência notada

O senador Cristovam Buarque (PDT-DF), até então único governador eleito pelo PT no Distrito Federal, foi a ausência percebida na solenidade de posse de Agnelo no Palácio do Buriti. O novo chefe do Executivo, ao saudar as autoridades presentes na solenidade, chegou a citar o nome de Cristovam e o procurou na plateia, mas o pedetista não compareceu deliberadamente. Os dois estão afastados desde que o pedetista se sentiu ¿descartado¿ na escolha da secretária de Educação, Regina Vinhaes Gracindo. ¿Agnelo me tratou com falta de respeito. Achei que não valia a pena ir à posse¿, justificou Cristovam, senador reeleito com mais de 830 mil votos. Ele afirma que não recebeu convite e abre com o gesto a primeira crise na base política do novo governador.

O auditório estava cheio de autoridades locais, entre secretários e parlamentares, mas poucos cidadãos comuns foram à praça do Buriti acompanhar a chegada de Agnelo, numa manhã chuvosa. Algumas pessoas fizeram um protesto contra a nomeação de Janine Rodrigues Barbosa, indicada para a administração de São Sebastião pelo distrital Agaciel Maia, o ex-diretor-geral do Senado envolvido em escândalos. Houve alguns contratempos na chegada à solenidade. Para entrar no Palácio do Buriti, era preciso ter convite. Até o senador eleito Rodrigo Rollemberg (PSB) foi barrado e precisou de ajuda.

A transmissão de cargos ocorreu num clima frio. Antes de entregar a faixa, Rogério Rosso (PMDB) fez, em discurso, uma breve prestação de contas. Afirmou que foi responsável por afastar o fantasma da intervenção federal no DF e sustentou ter feito tudo o que estava a seu alcance para garantir a continuidade dos serviços depois da crise política. ¿A máquina pública não foi paralisada em nenhuma circunstância¿, disse. Enquanto Rosso fazia o pronunciamento, o sistema de som dava pane. Em vários momentos, provocou estrondos que assustaram a plateia. O governador que deixa o poder disse em tom de brincadeira ao que chega: ¿Não é só a grama que é um problema, o sistema de som do Palácio do Buriti também precisa de conserto¿. Agnelo tratou o antecessor de forma educada, porém distante. Ressaltou entender as ¿excepcionalidades¿ da gestão de Rosso e o levou até a porta do Palácio do Buriti.

Novo discurso Já com a faixa de governador, Agnelo prometeu governar sem ódios, perseguições ou revanches políticas. Disse que há muito trabalho pela frente e conta com todos que quiserem ajudar. ¿Será um governo de união e paz¿, assegurou. A composição da equipe mostra que adversários antigos vão conviver a partir de agora. O grupo petista volta ao poder ao lado de peemedebistas que participaram dos últimos três governos, com Joaquim Roriz, hoje no PSC, e José Roberto Arruda (sem partido), abatido pela Operação Caixa de Pandora. À tarde, Agnelo esteve na posse da presidente Dilma Rousseff e voltou a se emocionar. Disse estar sensibilizado por ver uma mulher no comando do país. (AMC e LT)

Não é aceitável que uma cidade que nasceu para ser modelo seja hoje motivo de achincalhe, de piada nacional. Basta!¿

¿Serei leal. Serei direto. Serei honesto¿

¿Exigirei lealdade e honestidade¿

Agnelo Queiroz, governador do DF