Título: Lula confirma sete ministros para 2º mandato
Autor: Costa, Raymundo e Bittar, Rosângela
Fonte: Valor Econômico, 22/12/2006, Política, p. A9

Além de Gilberto Gil (Cultura), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já confirmou em seus cargos pelo menos seis ministros e um auxiliar-chave, o secretário particular Gilberto Carvalho, para o próximo mandato. Entre os ministros da linha de frente ainda não foram confirmados Paulo Bernardo (Planejamento) e Tarso Genro (Relações Institucionais). Um deles, Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) foi confirmado, mas depois ficou com a situação indefinida ao exigir o direito de nomear o presidente do BNDES, cargo em geral preenchido sob a influência do Ministério da Fazenda ou diretamente pelo presidente da República.

Lula já disse o "você fica" para Guido Mantega (Fazenda) e para o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que tem status de ministro, conforme antecipou o Valor no fim de novembro. A confirmação de Mantega ocorreu antes da crise que se instalou na Fazenda com a decisão de Lula de aumentar o salário mínimo para R$ 380, em vez dos R$ 375 defendidos pela área econômica. Mas até ontem não havia indicação de alguma mudança na decisão do presidente.

Além deles, receberam a confirmação do presidente os ministros Luiz Dulci (secretário-geral da Presidência), Dilma Rousseff (Casa Civil), Celso Amorim (Relações Exteriores) e Patrus Ananias (Desenvolvimento Social). A confirmação de Fernando Haddad, elogiado em público pelo presidente, está em suspenso porque o Ministério da Educação é objeto de intensa disputa política - é reivindicada pelo PMDB, por exemplo.

Ainda não está definida a situação do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. Ele pode ser deslocado para a presidência da Itaipu Binacional, um cargo adequado às pretensões políticas de Bernardo, que é concorrer ao governo do Estado do Paraná. Bernardo, a exemplo de Patrus Ananias, é um dos deputados federais que deixaram de concorrer às eleições para ficar no governo, a pedido de Lula. Na mesma situação se encontra Walfrido Mares Guia (Turismo), que quer e deve permanecer no cargo.

A exemplo de Bernardo, também não está certo o futuro de Tarso Genro. O ministro das Relações Institucionais pode ser transferido para o Ministério da Justiça, que ficará vago com a decisão de Márcio Thomaz Bastos de deixar o governo. Lula, no entanto, ainda não digeriu totalmente essa idéia, segundo apurou o Valor. Em conversa recente com um amigo, Tarso foi questionado sobre sua situação no governo. Respondeu que Lula não lhe dissera nada, até agora. A não ser com os ministros e auxiliares que já confirmou em seus postos, Lula está "indevassável" sobre a reforma ministerial, segundo um interlocutor do presidente.

Curiosa é a situação de Furlan. O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio disse que gostaria de deixar o governo. Lula pediu que ele permanecesse. O ministro disse então que ficaria desde que pudesse nomear o presidente do BNDES. Lula ficou com um pé atrás.

Com a confirmação desses sete ministros - e do secretário particular Gilberto Carvalho -, o governo que assume no dia 1º de janeiro fica cada vez mais parecido com o atual. Lula está mesmo disposto a fazer o restante das mudanças só depois das eleições para as presidências da Câmara e do Senado, o primeiro teste efetivo do governo de coalizão que pretende montar com os partidos que o apóiam no Congresso. Dez legendas participaram da primeira reunião de presidentes dos partidos políticos com Lula, mas a equação a ser resolvida é a do PMDB, que tem as maiores bancadas do Congresso.

Lula deve procurar a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy no início de janeiro, para uma conversa na qual discutirá os projetos futuros da petista. Deve perguntar a Marta se ela quer participar do ministério. Em caso positivo, deve dizer que gostaria de contar com ministros para todo o segundo mandato, mesmo que eles tenham que sair no final de abril de 2010 para se desincompatibilizar a fim de disputar as eleições. Um critério que cai sob medida para Marta, se a ex-prefeita estiver pensando em concorrer ao governo do Estado de São Paulo ou à Presidência da República, mas esbarra no projeto anunciado por seu grupo político de tentar a retomada da prefeitura paulistana em 2008. Neste caso, Lula teria outras opções para ajudar o projeto de Marta.