Título: BC projeta taxa de inflação abaixo da meta em 2007
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 21/12/2006, Brasil, p. A3

O relatório trimestral de inflação do Banco Central, divulgado ontem, projeta inflação abaixo da meta em 2007 nos dois cenários básicos considerados. Os números sugerem que, em tese, há espaço para continuar o relaxamento da política monetária.

A magnitude dos próximos cortes, porém, dependerá do quanto o BC irá pesar nas suas decisões a inflação projetada para 2008, que, dependendo do cenário considerado, empata ou supera o centro da meta. E também de como evoluirão os fatores de risco às projeções do BC, e como as quedas de juros feitas até agora afetam os preços.

Tradicionalmente, o BC divulga duas projeções para a inflação nos seus relatórios. Uma delas é o chamado cenário de referência, que assume a hipótese de que os juros vão ficar constantes nos atuais 13,25% ao ano por tempo indeterminado. Nesse cenário, a inflação de 2007 é projetada em 3,9%, bem abaixo do centro da meta do ano, fixada em 4,5%. Essa projeção deixa claro que, se o BC mirar apenas a inflação de 2007, terá espaço para cortar os juros abaixo dos 13,25%.

A outra projeção do relatório dá uma idéia do quanto a taxa de juros pode, em tese, cair. Nela, o BC procura prever em que percentual chegará a inflação em 2007 se os juros caírem da forma esperada pelos analistas do mercado, que prevêem Selic média de 11,92% ao ano no ultimo trimestre de 2007. Usando esses parâmetros, a inflação do ano que vem fica em 4,3%, um pouco abaixo do centro da meta. Ou seja: se o parâmetro das decisões do BC for unicamente a inflação projetada para 2007, há espaço para cortar os juros na magnitude esperada pelo mercado.

Um problema é que, pelas projeções do relatório, a inflação entraria 2008 em trajetória de alta. Dependendo do cenário usado nos exercícios do BC, pode empatar ou até superar a meta de 2008, também fixada em 4,5%. No cenário de referência, que supõe juros estáveis em 13,25% por tempo indeterminado, a inflação projetada para 2008 fica em 4,5%. Se os juros caírem como o esperado pelo mercado, chegando a 11,09% médios no último trimestre de 2008, a inflação terminaria o ano em 5,4%.

O diretor de Política Econômica do BC, Afonso Bevilaqua, disse que os estímulos dados até agora pela política monetária, depois de um corte de 6,5 pontos percentuais na taxa básica desde setembro de 2005, já são suficientes para estimular a inflação em 2008. Segundo ele, a maior parte dos efeitos ocorre entre 9 e 12 meses depois de tomadas as decisões de política monetária, mas isso não significa que não existam efeitos residuais em prazos mais longos. Os preços, disse, são afetados por fatores como inércia e expectativas dos agentes econômicos.

A ata não entra em detalhes sobre se os índices projetados para 2008 vão pesar nas decisões do BC. Alguns bancos centrais focam a inflação dos 24 meses seguintes, mas no Brasil a tradição é o cumprimento das metas anuais, com atenção concentrada nos 12 meses seguintes. Se o comportamento do BC for esse, quanto mais avançarmos em 2007, mais as decisões sobre juros passarão a ser pautadas pelas projeções de 2008.

O relatório diz que, daqui por diante, as decisões de política monetária darão ênfase maior aos fatores de risco que podem fazer a inflação superar os valores projetados. Nos exercícios de projeção, o BC leva em consideração uma série de premissas para, por exemplo, a evolução da economia mundial e os estímulos monetários.

O BC diz que, desde o relatório de inflação de setembro, pioraram os riscos no cenário interno. "Tornam-se crescentes as incerteza em relação à dinâmica futura da inflação, associadas à intensidade e à defasagem com que opera o mecanismo de transmissão da política monetária", afirma o relatório de inflação. Na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC de novembro, esse risco foi invocado por três dos seus membros na defesa de uma desaceleração dos cortes dos juros básicos, de 0,5 para 0,25 ponto percentual.