Título: União contra a violência
Autor: Rizzo, Alana
Fonte: Correio Braziliense, 03/01/2011, Política, p. 3

Ao assumir o Ministério da Justiça, José Eduardo Cardozo promete atacar crime organizado e consumo de entorpecentes. Pasta ganha força ao assumir Secretaria Nacional Antidrogas

O novo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, assumiu o cargo prometendo pacto nacional de combate ao crime organizado, à violência e ao consumo de drogas. Segundo ele, o governo federal assume a responsabilidade de garantir a segurança da população, ainda que constitucionalmente esta seja obrigação dos estados. Entre as principais mudanças na pasta ¿ conforme antecipou o Correio ¿, está a transferência da Secretaria Nacional Antidrogas, que estava nas mãos dos militares do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), para o ministério. Cardozo também promoverá no próximo mês um encontro com governadores para estruturar plano unificado contra o crime no país.

¿Este pacto não pode e não deve ser meramente retórico, tendo apenas como destino a elaboração de um produto midiático. Ele deve envolver planejamento, ações integradas, apoios federativos mútuos, trocas de experiências e comunhão de ideais. Ele não deve ser feito para favorecer a vida política deste ou daquele ministro, ou deste ou daquele governador ou prefeito¿, discursou.

O principal programa do ministério, o Pronasci, criado em 2007 pelo então ministro da Justiça, Tarso Genro, foi acusado de virar moeda eleitoral para a campanha vitoriosa do petista ao governo do Rio Grande do Sul. Na gestão de Cardozo, o Pronasci será ampliado e incorporado à Secretaria Nacional de Segurança Pública, comandada pela advogada Regina Maria Filomena de Luca Miki.

Mesmo sem a presença do novo diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Coimbra, Cardozo defendeu despolitização e uma atuação discreta da polícia. ¿A Polícia Federal não pode ser a polícia de um governo¿, disse. Completou cobrando eficiência máxima, sem espetacularização, ¿sempre recrimináveis por serem nocivas ao resultado desejado na apuração de delitos ou por serem atentatórias aos direitos dos cidadãos¿.

A cerimônia de posse foi acompanhada por ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), advogados, membros do Ministério Público e parlamentares. O deputado Paulo Maluf (PP-SP), alvo de investigações da PF e da Interpol, era um dos presentes. Cardozo foi procurador de São Paulo durante a gestão do parlamentar à frente da prefeitura.

Durante cerca de 30 minutos, Cardozo defendeu o Estado Democrático de Direito e enalteceu aqueles que ¿deram seu sangue, sua juventude, seu bem estar, seu talento¿ pelo país. Não poupou elogios ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e alfinetou adversários ao compará-los com o presidente. ¿O monoglota falou em português, no estrangeiro, a língua da paz e da soberania, ficando anos-luz longe dos nossos líderes poliglotas que, no passado, falaram a língua da subserviência e da submissão aos mais poderosos.¿

Para o novo ministro, Lula deixa o desafio de quebrar o preconceito de que mulheres são mais frágeis e que não devem comandar. Cardozo lembrou sua trajetória profissional e registrou que sempre foi comandado por mulheres na vida acadêmica e profissional. No discurso, ao se referir à ex-mulher, Sandra Jardim, procuradora de Justiça do Estado de São Paulo, Cardozo se emocionou.

Bingo sepultado O novo ministro disse esperar que a nova legislatura ¿sepulte¿ de vez o projeto de lei que legaliza os bingos. Para Cardozo, ex-deputado federal, a proposta favorece o crime organizado e a lavagem de dinheiro. ¿O projeto é nocivo aos interesses públicos e o texto original é ainda pior que o substitutivo que foi rejeitado pelos parlamentares. Não se pode combater o crime organizado sem asfixiá-lo financeiramente¿, reforçou o ministro. Em dezembro, no fim da legislatura, a Câmara colocou em votação a proposta. Por 212 votos a 144, os deputados rejeitaram a legalização dos bingos. Porém, alguns parlamentares defendem a retomada da discussão.