Título: PT busca acordo com PMDB para Mesas
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 21/12/2006, Política, p. A7

O presidente nacional do PT e assessor especial do Palácio do Planalto para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, formalizou ontem uma proposta de acordo ao PMDB em torno da eleição para as presidências da Câmara e do Senado. Pela proposta, o PT apoiaria a reeleição de Renan Calheiros no Senado, enquanto o PMDB apoiaria a candidatura petista de Arlindo Chinaglia - que também é signatário da carta - na Câmara. Temer ficou de consultar a bancada antes de dar uma resposta, mas o fato é que o partido está dividido - uma grande parte apóia a reeleição do deputado Aldo Rebelo.

A indefinição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que em conversas reservadas revela preferência pela reeleição de Aldo, mas nada faz para afastar o PT da disputa, levou o atual presidente de Câmara a avançar nas negociações com os partidos, inclusive da oposição. Aldo avançou tanto nas conversas e nos compromissos com PSDB e PFL que, hoje, não teria mais condições de recuar e retirar sua candidatura, mesmo na hipótese de o PT insistir com Arlindo Chinaglia e levar seu nome até o plenário.

Chinaglia, de fato, avançou bastante no PMDB, especialmente os chamados "neolulistas", o grupo que antes fazia oposição ao governo como o próprio Temer, o deputado Geddel Vieira Lima (que apoiou Jaques Wagner para o governo da Bahia) e a bancada do Rio de Janeiro. O problema é que a bancada do Rio está pedindo, em troca do apoio ao PT, o Ministério da Saúde para o médico José Gomes Temporão, que já ocupa a Secretaria de Atenção à Saúde, e a presidência de Furnas para o ex-prefeito Luiz Paulo Conde. Outras seções do partido acham muito, mesmo tendo o PMDB do Rio eleito uma bancada de 11 deputados.

A oposição também conversava com Chinaglia até circular a informação de que o ex-ministro José Dirceu seria um dos principais articuladores da candidatura. Com Aldo devem ficar o PSB e o PP, o PTB está dividido e o PL deve ficar com Arlindo Chinaglia.

A candidatura Chinaglia une o PT. Há cerca de um mês, Marco Aurélio Garcia saiu de uma audiência com o presidente dizendo que o partido não disputaria a presidência da Câmara. Um dos líderes da oposição, que conversava à época com Chinaglia, telefonou para o deputado para perguntar se ele não seria mais candidato. Chinaglia então respondeu que Garcia não falava em nome do PT e que sua candidatura estava mantida. Mais adiante, Garcia disse que a candidatura petista não era "irredutível", em seguida que ela não "era de brincadeira" e anteontem enviou a carta a Temer.

Na correspondência, assinada também por Chinaglia, o presidente do PT lembra que o PMDB, no governo Fernando Henrique Cardoso, havia cedido "sua preferência para que o deputado Luís Eduardo Magalhães se tornasse presidente da Câmara Federal, mediante um acordo que viabilizou em seguida a eleição de um pemedebista para cargo tão importante e honroso".

Pela proposta do PT, o PMDB presidiria a Câmara daqui a dois anos, com seu apoio. "Desnecessário é o relato do quadro atual na Câmara. Mas é com base nele que venho propor e solicitar apoio, como parte de um todo que envolve o conjunto dos partidos que apoiarão o governo Lula", justifica Marco Aurélio Garcia.