Título: Copom pode reduzir dose do aperto
Autor: Luiz Sérgio Guimarães e Altamiro Silva Júnior
Fonte: Valor Econômico, 14/01/2005, Finanças, p. C1

A grande maioria dos economistas de instituições consultados ontem pelo Valor acredita que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central irá promover mais um aumento na taxa Selic em sua primeira reunião do ano, marcada para terça e quarta-feira da semana que vem. Será a quinta alta do juro básico em seqüência. Mas, ao contrário das últimas reuniões de 2004, não há consenso maciço sobre a magnitude do aumento. A maior parte, 53,85%, ainda aposta que a dose será mantida em meio ponto percentual, com a Selic subindo para 18,25%. Mas cinco dos 13 analistas ouvidos já prevê um avanço de apenas 0,25 ponto. Todos concordam, porém, que o ciclo de aperto monetário iniciado em setembro está perto do fim. Ou termina agora, ou em fevereiro. Para o economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, o BC irá promover mais uma alta de meio ponto percentual. Essa decisão mostraria coerência com a sinalização já feita na última ata do Copom. Mas, para ele, o aperto monetário está no fim. Na próxima ata o Copom deve indicar a necessidade de promover apenas mais uma elevação de 0,25 ponto, e a Selic seria estabilizada em 18,50%. Esse patamar parece ser mágico. Estudos feitos por consultorias com base no modelo matemático utilizado pelo BC mostram que as decisões do Copom precisam assegurar a manutenção do juro projetado para 180 dias no atual patamar de 18,50%. Nesse nível, considerando-se uma taxa de câmbio de R$ 2,70, a inflação prevista para 2005 já estará levemente abaixo da meta de 5,1%. Como impedir que o swap de 180 dias caia do degrau de 18,50%? Promovendo novas altas.

Para o economista da corretora FinaBank, Pedro Paulo B. da Silveira, o BC irá agir de novo conservadoramente e aplicar nova alta de meio ponto por causa de alguns indicadores ainda em níveis considerados pelo Copom preocupantes. Entre eles, a manutenção do nível de utilização da capacidade instalada, o vigor ainda demonstrado pela produção industrial, expectativas de inflação acima da meta de 5,1% e resistência à queda dos núcleos de preço ao consumidor. A tendência é de o BC sustentar o aperto até esses indicadores mostrarem forte reversão. O economista Alex Agostini, da consultoria GRC Visão, acredita que o BC elevará a Selic para 18% e depois interromperá o ciclo de aperto. A diminuição da intensidade da alta - do compasso de meio ponto feito desde setembro para um avanço de 0,25 ponto - visaria indicar ao mercado justamente a intenção de estabilizar a Selic em 18%. Essa sinalização irá permitir o ajuste das posições. Qualquer que seja o aumento do juro básico a ser feito em janeiro, será o último desse ciclo de aperto monetário, na opinião da economista Renata Heinemann, do Banco Pátria. Mas ao contrário dos seus colegas, a economista não trabalha com a possibilidade de corte da Selic até o fim do ano. "Só haverá a possibilidade de reduzir a taxa se o câmbio vier a se apreciar mais ainda e se mantiver baixo por longo tempo", diz Renata. Também para o consultor Miguel Daoud, da Global Adviser, esta será a última alta do juro. O BC não pode continuar elevando a Selic por causa das pressões resultantes da entrada excessiva de dólares. Interessa ao BC que o dólar se mantenha desvalorizado, mas não muito. Com isso os produtos que não puderem ser exportadores ampliarão a oferta no mercado interno, ajudando a conter a inflação. Jankiel Santos, economista do ABN AMRO Real, prevê alta de 0,50 ponto percentual. Para ele, dois fatores devem pautar a decisão do Copom. O principal é a taxa de inflação atual. "Ela não é compatível com a meta estabelecida para este ano pelo Banco Central", diz, destacando ainda que a convergência para a meta tem sido lenta. O segundo fator é a atividade econômica, que, para o economista, ainda é "robusta". Na avaliação de Santos, a queda da Selic só deve vir no início do segundo semestre. A razão é que os principais reajustes de preços devem acontecer no primeiro semestre, pressionando a inflação. Ele prevê que a Selic encerre o ano em 16,5%. Adauto Lima, economista-chefe do WestLB do Brasil, é outro que aposta na alta de 0,50 ponto na Selic. "A inflação corrente está superando as expectativas iniciais e ainda está acima da meta do BC", diz. Lima também prevê que a Selic caia apenas no segundo semestre. "O BC vai continuar sendo conservador", diz. Para o economista da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa, o ideal seria que o Copom mantivesse os juros nos atuais 17,75% ao ano. "A economia agora está visivelmente melhor do que em setembro, quando começou o aperto monetário", diz Rosa, destacando que o preço do petróleo deixou de ser uma ameaça e os preços das commodities industriais recuaram. "O aumento dos juros nos últimos meses de 2004 está se refletindo na atividade econômica agora e já cumpriu seus objetivos", afirma. Mesmo em condições de manter os juros agora, Rosa acredita que o Copom vai aumentar a taxa em 0,25%. Alberto de Oliveira, gerente de tesouraria do Banif Investment Banking, está entre os que esperam uma alta de 0,25 ponto percentual. Para ele, os fundamentos da economia brasileira continuam bons, apesar da volatilidade do mercado nos últimos dias. "A inflação já mostra sinais positivos. Prova disso foi a prévia do IGP-M, que veio abaixo do piso das expectativas", diz. Outro ponto é a produção industrial. Pelos números do IBGE de novembro, ela vem caindo por três meses consecutivos. O economista-chefe da Fator Corretora, Vladimir Caramaschi, também aposta na alta de 0,25 ponto, por três motivos: queda nas expectativas de inflação do mercado, recuo nas expectativas de inflação do próprio modelo do BC e aparecimento de sinais de moderação do crescimento da economia. Para o economista Marcelo Ribeiro, da distribuidora Pentágono, é impensável subir o juro básico na atual conjuntura de franca entrada de dólares. "O BC deveria manter os juros no atual patamar e colocar um viés de baixa, pois se a situação do dólar se agravar no mercado internacional seria importante ter flexibilidade para cortar a Selic", sugere Ribeiro. Se o país deixar o real se valorizar mais ainda, vai enfrentar perda de competitividade, como ocorre hoje com a Europa e os EUA, em relação à Ásia.