Título: Produtos de menor valor puxam vendas
Autor: Maia, Samantha e Moreira, Ivana
Fonte: Valor Econômico, 27/12/2006, Brasil, p. A5

As vendas de Natal deste ano ficaram dentro do esperado, o que significa taxas modestas de crescimento. O Indicador Serasa do Nível de Atividade do Comércio revela alta de 5,6% nas vendas em todo o país entre 18 a 24 de dezembro de 2006, em comparação ao período de 19 a 25 de dezembro de 2005. Na cidade de São Paulo, as vendas cresceram 7,9% na mesma comparação.

Segundo os técnicos da Serasa, as compras de última hora, as promoções e as facilidades de crédito mantiveram o crescimento das vendas durante a semana do Natal, ainda que num ritmo ligeiramente inferior ao verificado na semana anterior, quando as vendas em todo o Brasil cresceram 6,4% em relação a igual período de 2005.

Mesmo com a alta, os comerciantes paulistanos devem agir com cautela nas encomendas, diz Marcel Solimeo, economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP). Na capital paulista, as vendas de Natal subiram 5,7% de 1º a 25 de dezembro comparado a 2005, segundo as consultas ao Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e ao Usecheques.

Essa alta é puxada principalmente por produtos de baixo valor, que apresentaram aumento de 7,5%, enquanto que os mais caros, representados pelas consultas ao SPC, tiveram crescimento de 3,9%. "O volume de vendas pode ser maior, mas o valor caiu", reclama o presidente da ACSP Guilherme Afif Domingos. Para o dirigente, o crescimento foi medíocre, assim como o resultado do ano - alta de 5% -, apesar do percentual estar dentro da projeção da entidade.

Afif acredita que o "achatamento" do poder de compra da classe média deu força aos produtos mais baratos neste Natal. Para ele, a falta de uma valorização dos salários e de expansão do emprego segurou um desempenho melhor do comércio. A queda de preços dos eletroeletrônicos também teria influenciado a arrecadação menor.

A previsão da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH) é de que o comércio da capital mineira tenha registrado um aumento de 3% a 5% nas vendas deste Natal em relação ao do ano passado. Para varejistas tradicionais da cidade, o crescimento em torno de 3% ficou muito abaixo da expectativa, que era de aumentar as vendas entre 10% neste ano. A loja de vestuário masculino O Grande Camiseiro foi uma das que revelaram que, passado o Natal, está com estoque alto.

Levantamento da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop) mostrou que o faturamento no Natal subiu 5% em relação ao mesmo período do ano passado. O presidente da entidade, Nabil Sahyoun, ressalta, porém, que o crescimento foi inflado principalmente pela abertura de 2.634 lojas durante o ano. "Sem as novas lojas, com certeza o faturamento teria alta de apenas 1,5% a 2%", diz.

Os lojistas de shopping deverão realizar promoções para desovar estoques, e a expectativa é de que as encomendas para o ano que vem seja só de reposição, sem maiores investimentos.

Para Sahyoun, os shopping populares ganham mais. "Sempre vai ser o Natal das lembrancinhas, já que a grande massa ganha salário mínimo", diz. Ele considera que os eletrônicos tiveram boa aceitação, entre eles o computador, que conta com incentivo fiscal do governo. "Além disso, os produtos eletrônicos importados estão mais baratos", explica.

Na 25 de março, a avaliação do presidente da União dos Lojistas da região, Miguel Giorgi Júnior, é de que o Natal foi bom. Eles ainda não mensuraram o crescimento, mas Giorgi Júnior acredita que ficará entre 5% e 8%. Diferente da ACSP, ele não considera que os produtos mais caros tiveram pouca força nas vendas. "Há pelo menos dois anos a gente nota uma maior participação das classes A e B nas vendas, consumindo produtos de alto valor agregado", diz. (Com Agência O Globo)