Título: PT quer controle da Fazenda e saída de Meirelles
Autor: Lyra, Paulo de Tarso e Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 27/12/2006, Política, p. A8

A Comissão Política do PT, que se reúne hoje com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela segunda vez desde a reeleição, vai perguntar os critérios de escolha de colaboradores e os prazos com que o presidente pretende trabalhar para compor o novo ministério. O grupo, que passou um mês recolhendo sugestões das bases partidárias, vai dizer que o PT pretende manter o controle sobre as pastas da Educação, Desenvolvimento Social, Fazenda e agregar o Ministério das Cidades.

O partido quer ainda influenciar e sugerir estratégias de ação nas áreas da Saúde e Comunicações. E vai defender, como voz corrente entre os petistas, a substituição do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, por alguém menos ortodoxo.

Um dos integrantes do grupo, o deputado eleito Jilmar Tatto (SP) não acha que ainda esteja clara a permanência de Meirelles no governo. Tatto elogiou o atual presidente do BC, classificando-o como "um profissional renomado". Mas acredita que seria de bom tom, para começar um governo realmente socialista, trocar Meirelles por outro nome mais condizente com a política desenvolvimentista que Lula pretende implantar nos próximos quatro anos. "Como o presidente Lula tem reiterado que está preocupado com o crescimento econômico, esta é uma área crucial, que precisa ser mexida", sugeriu.

Se por um lado Meirelles virou bola da vez entre os petistas, o grupo vai defender explicitamente a permanência do titular da Fazenda, Guido Mantega, por mais quatro anos. Mantega, que saiu chamuscado no embate sobre o reajuste do salário mínimo, é visto como um aliado essencial entre os petistas da cúpula partidária. O PT defenderá que todos os integrantes da área econômica (Banco Central, Fazenda, Planejamento, bancos públicos, ministérios vinculados à produção e infra-estrutura, ciência e tecnologia) estejam imbuídos do princípio e da política de desenvolvimento econômico com distribuição de renda.

Os integrantes da Comissão são cuidadosos em repetir, diversas vezes, que cabe ao presidente Lula definir quem fica e quem sai do governo. Mas o grupo defende explicitamente a permanência de Patrus Ananias à frente do Ministério do Desenvolvimento Social. A avaliação é de que o ex-prefeito de Belo Horizonte obteve um êxito extraordinário na condução de um dos carro-chefe do governo e principal alavanca que permitiu a reeleição de Lula.

O PT também pretende manter a pasta da Educação, mas não há um consenso em relação ao nome de Fernando Haddad. Lula gosta muito do ministro, os próprios petistas não têm restrições pessoais a ele, mas lembram que esta seria uma das opções para a ex-prefeita de São Paulo, Marta Suplicy. Embora a maioria da cúpula partidária aposte que, se Marta, de fato, assumir um cargo no primeiro escalão a hipótese mais provável seja o Ministério das Cidades, preferem não descartar a Educação. "Não podemos mexer, por enquanto, em uma seara que não é nossa", lembrou a vice-presidente do PT, Maria do Rosário (RS). Atualmente, a pasta de Cidades é ocupada por Marcio Fortes, do PP.

Em outras áreas o PT pode até abrir mão de indicações, mas sonha influir na definição de estratégias. Nesse rol estariam, sobretudo, o Ministério da Saúde e das Comunicações, considerados fundamentais no projeto político do partido. Por isso, são contra à chamada porteira fechada (autorização para que um partido nomeie todos os integrantes do Ministério para o qual foi designado). "Isto pode ou não acontecer, cabendo em qualquer caso a responsabilidade política ao ministro", disse o secretário de relações internacionais do PT, Valter Pomar.

Embora não esteja oficialmente na pauta, a sucessão da presidência da Câmara poderá ser mais um tema abordado no encontro de hoje. Os petistas querem mostrar ao presidente que a candidatura de Arlindo Chinaglia (SP) possui no atual momento um apoio mais consistente entre os aliados do que o nome de Aldo Rebelo (PCdoB-SP). "Se o Aldo tem hoje o apoio de PFL e PSDB, a base não tem porque apoiá-lo. Ele foi importante num determinado momento de crise e ajudou na reeleição de Lula. Mas hoje a base, inclusive o PMDB, tende a apoiar Chinaglia", assegurou Tatto.