Título: Faturamento 2,5% maior frustra supermercados
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 19/01/2005, Brasil, p. A1

A elevação dos juros básicos da economia conteve o consumo no varejo - especialmente o de alimentos - e freou a trajetória de crescimento das vendas nos supermercados em 2004, segundo a avaliação da Abras (Associação Brasileira de Supermercados). No ano passado, o setor faturou R$ 97,7 bilhões, um aumento real (o que desconta a inflação) de 2,5% em relação a 2003. No ano anterior, os supermercados tiveram queda de 4,5% nas vendas, em relação a 2002. Segundo a Abras, o varejo supermercadista não acompanhou o bom desempenho do restante da economia no ano passado. A entidade esperava um incremento de 3% nas vendas dos supermercados no ano passado. Cerca de 70% das vendas do segmento são de alimentos - incluindo perecíveis, não-perecíveis e bebidas; o restante é dividido entre produtos de higiene, limpeza, cigarros, utilidades domésticas e vestuários, entre outros. Para o presidente da Abras, João Carlos Oliveira, o crescimento de 2004 foi insuficiente para recuperar as perdas de 2004, quando o setor registrou o pior desempenho desde 1991, com uma queda nas vendas de 4,5%. No entanto, para a Companhia Brasileira de Distribuição (CBD), que engloba os supermercados Pão de Açúcar, CompreBem e Sendas, além do hipermercado Extra, o ano passado foi positivo. No ano, as vendas brutas cresceram 19,6%, enquanto as líquidas foram 16,3% maiores em relação a 2003. Em dezembro na comparação com o mesmo mês do ano anterior, as vendas nas mesmas lojas existentes em igual período de 2003 apresentaram um incremento real de 3,4% e nominal de 11,1%. Para 2005, o grupo prevê um aumento real entre 2% e 3% nestas vendas. Já a Abras atribui à elevação da taxa básica de juros da economia brasileira (Selic) à desaceleração do ritmo de crescimento do faturamento do setor. "A tendência de crescimento se reverteu não só pelo aumento da Selic, mas também pelo efeito psicológico. Tanto o consumidor como o empresário ficaram mais cautelosos e reduziram as compras", disse Oliveira. Ele também responsabiliza a elevação das tarifas públicas pelo crescimento menor nas vendas do setor. "O aumento dos preços administrados afeta diretamente o bolso do consumidor, que tem menos dinheiro disponível para o consumo". Para 2005, a Abras estima um crescimento nas vendas de 2,5%. Com isso, o setor deverá fechar o ano mantendo o crescimento iniciado em 2004, recuperando as perdas de 2003 e somando mais algum aumento nesse desempenho. "Esperamos que o crescimento de 2004 sinalize o início de um ciclo de recuperação após a queda de 2003, quando tivemos o pior desempenho desde 1991", afirmou Oliveira. Em dezembro, os supermercados registraram um aumento nas vendas de 4,43% em relação ao mesmo mês de 2003. Na comparação com novembro, o incremento foi de 34,94%. O bom desempenho de dezembro foi puxado pelas vendas de Natal, que segundo a Abras foram as melhores dos últimos três anos. O presidente da associação alertou para a possibilidade de aumento de preços neste ano entre 1% e 1,5% em decorrência da MP 232, que elevou a base de cálculo do IRPJ (Imposto de Renda da Pessoas Jurídicas) e da CSLL (Contribuição Social sobre Lucro Líquido) de 32% para 40% para os prestadores de serviços.