Título: Lojas encerram ano com estoque e adiam encomendas
Autor: Durão, Vera Saavedra e Facchini, Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 27/12/2006, Brasil, p. A4

As vendas de Natal registraram alta moderada em relação ao ano passado e muitas redes de lojas de eletrodomésticos e móveis encerraram o ano com estoques para atender os clientes em janeiro. Por isso, o comércio deve usar o início do ano para desovar produtos encalhados nas prateleiras e pretende fazer encomendas mais fortes apenas em fevereiro. Em janeiro, as encomendas devem ser pontuais.

Os dados preliminares das Federações de Comércio do Rio e de São Paulo indicam um crescimento das vendas em dezembro entre 1,8% e 2%, sinalizando que não houve nenhuma "explosão" de compras no Natal, destaca Carlos Thadeu de Freitas, diretor do Departamento Econômico da Confederação Nacional do Comércio (CNC). "Vamos ter um janeiro de desova de estoques das lojas e não de reposição", prevê Freitas. Na sua análise, isto indica atividade fraca da indústria no início de 2007.

Segundo o economista, o comportamento "normal" das vendas de fim de ano sinaliza que o comércio continua razoavelmente estocado, com destaque para o setor de bens duráveis, como eletrodomésticos, cuja importação aumentou 50% até novembro. Para Freitas, a queima de mercadorias a baixo preço é a melhor saída para as lojas no curto prazo, já que o custo de carregamento dos estoques ainda é muito alto.

Apesar do desempenho fraco de dezembro, a CNC projeta um crescimento de 6% para as vendas reais do comércio em 2006. No ano passado, o aumento foi de 4,8%. O crescimento ocorrido este ano foi alavancado em parte pelo crédito, importações e ganhos reais de salário em função da inflação baixa.

O varejo catarinense registrou crescimento de apenas 2,3% nas vendas deste ano em relação ao ano passado, abaixo dos 3% esperados. Sobraram produtos nas prateleiras, com a demanda por alguns itens ficando abaixo do previsto, como computadores, câmeras fotográficas digitais, TVs e aparelhos de DVD.

O presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas (FCDL), Roque Pellizzaro Junior, ainda não fez uma pesquisa sobre quanto encalhou, mas diz que as vendas de DVD ficaram menores do que o varejista esperava após a queda de 40% no preço do produto. O mesmo teria acontecido com computadores, com ofertas em torno de R$ 1 mil.

Diante da conjuntura, Pellizzaro acredita que os pedidos para as indústrias só serão retomados pelo varejo com alguma força na segunda quinzena de fevereiro, movimento parecido ao do ano passado. "Tivemos neste Natal um crescimento pífio", destacou.

Pellizzaro ainda afirma que este foi um Natal de lembrancinhas, com as classes de menor poder aquisitivo, como a D, indo mais às compras. "Mas a classe média é preponderante para o varejo, e o que vivemos hoje no Estado é um achatamento dessa classe", diz. O tíquete médio caiu de R$ 50 no ano passado para R$ 30.

A rede catarinense Berlanda vendeu 50% menos televisores do que previa, 50% menos computadores e 70% menos câmeras fotográficas digitais do que imaginava. A empresa, com 70 lojas, cancelou pedidos previstos para a primeira semana de janeiro. "Só faremos novas encomendas perto do dia 20 de janeiro, e em volume pequeno", diz Gilmar Godoy, diretor-geral da rede. Segundo ele, o estoque ficou acima do que a rede previa e não há necessidade de reposição no curto prazo. As vendas foram 11% maiores do que no Natal anterior, mas a Berlanda havia se preparado para crescer 15%. "Não foi um Natal decepcionante como um todo porque tivemos crescimento. Mas foi aquém do esperado", destaca.

Segundo Godoy, a linha de informática e câmeras digitais foram as grandes apostas do setor e foram justamente as que decepcionaram. Ele diz que ainda não entende os motivos para a retração, pois houve oferta de preços e prazo para pagamento. O tíquete médio ficou em R$ 332,00, cerca de 14% abaixo do valor de 2005.

Márcio Pauliki, superintendente da MM Mercadomóveis, rede que possui 74 lojas no Paraná, disse que os estoques só serão repostos em fevereiro. Segundo ele, isso não significa que o movimento de Natal foi ruim. O empresário contou que as vendas de dezembro estão dentro do previsto: cresceram 70% em relação a novembro e 10% em relação a dezembro de 2005. "Como em anos anteriores, aumentamos o estoque e, em janeiro, venderemos o que foi comprado em novembro", explicou.

Ontem, um dia após o Natal, a rede colocou dez produtos em oferta para atrair o consumidor ainda em 2006. De acordo com Pauliki, muitos consumidores estão acostumados a esperar as liquidações de fim de ano.

Outro que não se surpreendeu com o resultado do Natal foi Everton Muffato, diretor-comercial da rede de Supermercados Muffato, que tem 21 lojas no Paraná. "O ano foi muito ruim para o varejo, mas as vendas de dezembro ficaram dentro do esperado para as nossas lojas", disse ele, que também é presidente da Associação Paranaense de Supermercados (Apras). Na rede Muffato, o desempenho no período que antecede o Natal foi 13% melhor que o do ano passado.

Boa parte do resultado, na opinião do empresário, foi obtida com o aumento da oferta de importados, devido ao câmbio. "Foi a grande alavanca", afirmou.

A Associação Comercial do Paraná (ACP) informou, com base no aumento de consultas ao Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC) e ao VideoCheque, que as vendas da semana anterior ao Natal em Curitiba, região metropolitana e litoral do Estado ficaram acima da expectativa. Essas consultas totalizaram 55,7 mil ante 51,1 mil em igual período de dezembro do ano passado - um aumento de 9%, acima dos 6% a 8% esperados.

Este desempenho, no entanto, não deverá resultar em novas encomendas à indústria. De acordo com o vice-presidente de serviços da ACP, Elcio Ribeiro, o comércio tem estoques para a virada do ano, mesmo considerando as novas vendas que serão registradas no momento da troca de presentes.

No varejo de Salvador o ano de 2007 vai começar com estoque baixo em setores de produtos de maior valor agregado, como eletroeletrônicos e computadores, dois dos campeões de vendas no Natal deste ano no comércio da cidade, segundo o presidente do Sindicato dos Lojistas de Salvador (Sindilojas), Paulo Motta. Segundo ele, as vendas no comércio atingiram a meta de superar em 10% o desempenho do Natal de 2005.

Os consumidores deixaram as compras para a última hora. Nas grandes cadeias de supermercados, o Natal só começou para valer a partir do dia 18 de dezembro. "Até lá, parecia um mês normal, com um crescimento de apenas 2,7% sobre novembro", afirma Antônio José Monte, presidente da Coop, rede de supermercados da região do ABC, na grande São Paulo. Entre 18 e 24 de dezembro, porém, o consumo engrenou e a cooperativa passou a registrar um aumento de 18,2% sobre o mês anterior. "Mesmo assim, vamos apenas empatar com dezembro de 2005, sem crescimento", afirma Monte.

Segundo o Wal-Mart, as vendas de alimentos tiveram um bom desempenho, com um incremento de 18% em relação ao Natal anterior. No grupo Pão de Açúcar, as vendas de bens duráveis ficaram dentro das expectativas da varejista. Segundo Rita Bellizia, diretora comercial de eletroeletrônicos do grupo, a rede não ficou com produto encalhado. "Ao contrário, estamos comprando mercadoria para nos abastecer para os próximos dois meses", afirma a executiva.

Segundo o Wal-Mart, os computadores populares foram o grande destaque. A varejista vendeu 120% mais PCs, o que faz a seção de informática crescer 75% neste Natal em relação ao de 2005.

O Pão de Açúcar já iniciou ontem mesmo uma liquidação de eletroeletrônicos, que deve se estender até o dia 31, mas essa campanha já estava prevista e as compras foram programadas com um mês de antecedência. Muitos varejistas já incorporaram no seu calendário de marketing as liquidações posteriores ao Natal.