Título: AIE espera aumento de 225 mil barris por dia na extração brasileira
Autor: Chico Santos
Fonte: Valor Econômico, 19/01/2005, Brasil, p. A4

A Agência Internacional de Energia (AIE) espera um aumento de 225 mil barris diários na produção de petróleo do Brasil em 2005. O incremento, segundo o informe mensal de petróleo divulgado ontem em Paris, deverá começar a ser notado a partir deste mês, com a entrada em produção do campo de Caratinga, e em fevereiro, com a entrada do campo de Albacora Leste, ambos na Bacia de Campos. Com essa elevação, a produção brasileira de petróleo somente em águas profundas da Bacia de Campos (que se estende de parte do Rio de Janeiro até parte do Espírito Santo) deve alcançar a marca de 1,44 milhão de barris/dia, diante da média de 1,20 milhão de barris em 2004. A AIE fez uma curta referência ao Brasil ao analisar as possibilidades de aumento da oferta de petróleo por países que não pertecem à Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP). No documento, a AIE elevou sua estimativa para a demanda global de petróleo para 2005 em 60 mil barris por dia. A previsão é de que o consumo deverá ficar em 83,9 milhões de barris diários, com aumento de 1,7% em relação a 2004. O cenário em 2005 será apertado, considerando que em dezembro a oferta global de petróleo ficou em torno de 84,4 milhões de barris/dia, com ligeira queda em relação ao mês anterior - devido à diminuição da oferta da Noruega, Canadá e Rússia - e crescimento de 2,7 milhões em relação a 2003. A agência se mostrou cautelosa sobre cifras, já que a maior parte dos analistas espera que o ritmo do crescimento da demanda arrefeça. No entanto, lembrou que o aumento do consumo em 2004, de 3,3%, foi o maior desde 1976, surpreendendo o mercado. No documento, a agência não descartou que mais uma vez esteja subestimando o crescimento do consumo global, manifestando dúvidas sobre a capacidade dos produtores, tanto estatais como privados, de abastecer o mercado em ritmo adequado caso a desaceleração da economia global não ocorra como o esperado. "Esse estudo mostra claramente que 2005 continuará com preços do petróleo altos e voláteis. E como a queda do consumo não acompanha a oferta, onde os investimentos em exploração ocorrem no mesmo ritmo da demanda há uma pressão estrutural", afirma o economista Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE). Ressaltando que os grandes produtores indicaram que aumentarão a exploração e o desenvolvimento da produção para manter uma margem de manobra, a AIE lembrou que ampliar essa margem leva tempo e requer enormes investimentos. Adriano Pires acha que esse problema pode ter como justificativa o fato de as maiores reservas estarem nas mãos de estatais, ou com grandes empresas privadas, mas em locais complicados sob o ponto de vista político ou geológico. Por outro lado, continua Pires, as estatais de países como Arábia Saudita, Nigéria, Venezuela e a Petrobras, que têm grandes reservas, não têm a capacidade de investimento que o mercado precisa. "Elas pertencem a países em desenvolvimento que têm compromisso de investimentos sociais, e por outro lado não têm a mesma alavancagem de crédito das empresas privadas", pondera. A IEA também destacou previsões de especialistas que esperam que o volume de investimentos aumentará menos de 6% em 2005, quando no ano passado o ritmo de aumento de investimentos foi de dois dígitos. A produção da Opep se manteve estável em 29,5 milhões de barris diários no mês passado.