Título: Lula sinaliza que ministério ficará para 2007
Autor: Costa, Raymundo e Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 20/12/2006, Política, p. A10

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sinalizou ontem que pretende fazer a reforma ministerial de uma só vez, entre o final de janeiro e o início de fevereiro, depois de resolvida a questão da sucessão na Câmara dos Deputados e no Senado. Segundo apurou o Valor, o presidente considera inédita a experiência de coalizão que está articulando com os partidos e pretende fazer as mudanças com muita cautela.

A pelo menos dois interlocutores, Lula disse que pretende fazer a reforma num dia só, de uma só vez. Mas os ministros Márcio Thomaz Bastos (Justiça) e Tarso Genro (Relações Institucionais) admitiram ontem que duas ou três mudanças podem ocorrer antes do final do ano. Lula fez a sinalização durante audiência com Thomaz Bastos, que fora ao Palácio do Planalto entregar seu pedido de demissão e discutir sua substituição no cargo - os candidatos seriam o próprio Tarso e o ministro do Supremo Sepúlveda Pertence.

"O presidente me disse que não pretendia fazer as mudanças antes das festas. Eu concordei, então, em ficar", confirmou Thomaz Bastos, mais tarde.

Outras interpretações circularam entre auxiliares de Lula: o presidente não teria efetuado a troca porque ainda não teria um nome para substituir Tarso Genro na Justiça; ao mexer numa peça, desencadearia outros movimentos o que poderia levá-lo a perder o controle sobre o processo, e ainda uma outra, segundo a qual a Justiça e articulação política, uma das duas seria reservada para a cota dos partidos - no caso, do PMDB, com a nomeação do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Nelson Jobim.

Segundo interlocutores do presidente, o fato é que as recentes pesquisas que o apontam com a popularidade em alta acentuaram em Lula a sensação de que está com o governo certo. Portanto, ele quer pensar bem nas mudanças para melhorar o que já julga bom.

O que o presidente precisa acertar é o ponto da coalizão com os partidos, para assegurar a aprovação de projetos no Congresso. A eleição para as Mesas Diretoras da Câmara e do Senado está marcada para o dia 1º de fevereiro e o presidente sabe que não há como desatrelar as mexidas na Esplanada da composição política no Congresso. Lula, inclusive, já teria sinalizado essa decisão para seus aliados e pedido àqueles demissionários - além de Márcio Thomaz Bastos, o advogado-geral da União, Álvaro Ribeiro da Costa e o secretário especial de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, já demonstraram disposição em deixar o governo - que aguardassem a virada do ano para esvaziar as gavetas.

Segundo o petista, Lula não está preocupado com um eventual desgaste de tomar posse em 1º de janeiro com um ministério velho. "Ele está apoiado em 58 milhões de votos, uma aprovação de governo na faixa de 57% de ótimo/bom, após apanhar durante um ano e meio. Se alguém encher o saco e cobrar mudanças na Esplanada, ele vai argumentar: em time que está ganhando, não se mexe", afirmou o aliado.

Márcio Thomaz Bastos não descartou que um ou dois nomes possam vir a ser anunciados ainda este ano. Declarou também que não apresentou um terceiro nome ao presidente Lula para sucedê-lo, repetindo que a escolha recai entre o ministro do STF, Sepúlveda Pertence e o coordenador político do governo, Tarso Genro. "O primeiro é uma legenda em se tratando de Judiciário. O segundo já provou sua competência administrativa, desde os tempos em que era prefeito de Porto Alegre", elogiou o ministro. Neste momento, Genro passou ao lado de Thomaz Bastos. Provocado pelos jornalistas, o ministro da Justiça aceitou de bom grado a brincadeira. "Deixa eu aqui passar a faixa para meu sucessor".

Thomaz Bastos disse que seu cargo não exige quarentena, mas ressaltou que ele próprio vai se impor uma folga de cinco ou seis meses. Nesse período, não atuaria em processos que envolvam o Supremo Tribunal Federal e a Polícia Federal, por exemplo. Questionado sobre o que faria logo após deixar o governo, o ministro foi conciso: "Vou vadiar um pouco e, depois, advogar. Mas de leve".