Título: Indefinição no PT dificulta adesão de parlamentares
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 19/01/2005, Política, p. A7

Os partidos da base aliada tentam, com dificuldade e ainda sem muito entusiasmo, enquadrar seus parlamentares para assegurar a eleição do deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) à presidência da Câmara. Os principais dirigentes do PL declararam ontem que vão convencer a bancada a votar no candidato oficial do PT e do governo. A dificuldade dos aliados é que, até o momento, prevalece o cenário de disputa entre dois petistas, Greenhalgh e Virgílio Guimarães (MG). O mineiro, que nos últimos dias evita a imprensa e os colegas petistas, prometeu comparecer hoje ao ato de lançamento de sua candidatura, em Brasília, às 15h, na Câmara. Parlamentares do PL e PTB estão articulando a candidatura de Virgílio, que a cada dia está mais isolado pelo PT. Aos assessores mais próximos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não esconde a mágoa com o velho amigo Virgílio Guimarães. No Palácio do Planalto, a avaliação é a de que Virgílio, seja qual for o desfecho dessa crise, está próximo do "fim" de sua história política com o PT. Para parlamentares da base, os petistas foram muito condescendentes com Virgílio e, agora, não conseguem mais contornar a crise. Para complicar ainda mais o cenário, o deputado Severino Cavalcanti (PP-PE) oficializou sua candidatura ontem. Registrou em cartório e protocolou no Conselho de Ética da Câmara a seguinte declaração: "Assumo o compromisso inarredável de manter minha candidatura à presidência da Câmara (...) Caso contrário, renunciarei ao mandato de deputado federal". Nem Virgílio nem o deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA), outros possíveis candidatos, registraram as candidaturas. O vice-presidente, José Alencar, colocou em prática ontem toda sua diplomacia mineira. Convenceu o presidente da legenda, Valdemar Costa Neto, o ministro Alfredo Nascimento (Transportes) e o líder do PL na Câmara, Sandro Mabel (GO), a trabalharem por Greenhalgh. Alencar, que pode disputar o governo de Minas Gerais em 2006, elogiou Virgílio, mas defendeu claramente a candidatura de Greenhalgh. "Estamos com o candidato do PT, por uma razão muito simples: somos aliados do PT, participamos do governo", justificou. Alencar disse se considerar "irmão" de Virgílio, e ressaltou que essa não é uma disputa política regional. "Nós em Minas obviamente somos solidários aos companheiros do Estado, mas não de trata de uma questão dessa natureza. Isso é um problema de economia doméstica do PT. Quem decide quem é o candidato é o PT, não somos nós. E o candidato do PL é o candidato oficial do PT", ponderou o vice-presidente. O presidente do PL disse que o seu partido não quer ser um problema para o governo. "Garantimos que teremos o apoio de 80% dos votos. Estamos trabalhando cada deputado", afirmou Costa Neto. A bancada do PL tem hoje 47 deputados. "Não tem muro no PL. O partido é decidido, e nossa decisão é trabalhar pelo candidato oficial do PT", garantiu Sandro Mabel. Greenhalgh disse que comemorou a decisão do PL a decisão do PL "é digna de louvor", e criticou o comportamento do seu próprio partido. "O PT tem que arrumar a casa, mas quem deve fazer isso não sou eu, é o (José) Genoino (presidente do PT)", disse o deputado ontem. Todos os líderes aliados têm dado declarações oficiais em favor de Greenhalgh, mas, fora dos microfones, admitem que a situação é complicada. "O que poderia ser festa de aniversário de criança pode virar corrida de touros", admitiu o líder do PTB na Câmara, José Múcio Monteiro (PE). "Se até o partido que tem o direito de escolher o presidente está com problemas, imagine o resto", ironizou o petebista. O quadro fragmentado da disputa pode levar à necessidade de um segundo turno. Se nenhum dos quatro candidatos, no plenário, conseguir maioria absoluta dos votos dos presentes - cuja sessão exige a presença de pelo menos 257 deputados -, haverá uma segunda eleição com os dois mais votados. Outro fato inédito pode ocorrer: a montagem de um chapa inteira avulsa, ou seja, independente, reunindo os descontentes de seus partidos. Cada partido, de acordo com o critério da proporcionalidade, indica um representante da Mesa Diretora. Por ter a maior bancada - 90 deputados - é que o PT indica o presidente. A possibilidade cogitada pelos deputados é que Virgílio Guimarães encontre dissidentes em todas as legendas e faça uma chapa completa. (Colaboraram Cristiano Romero e Henrique Gomes Batista)