Título: Femsa e Coca-Cola compram Del Valle
Autor: Martinez, Chris e D'Ambrosio, Daniela
Fonte: Valor Econômico, 20/12/2006, Empresas, p. B1

A mexicana Femsa e a Coca-Cola Company fecharam ontem a compra da Sucos Del Valle, em uma operação de US$ 470 milhões. Do total, US$ 380 milhões foram pagos à vista e US$ 90 milhões correspondem a dívidas. Cada uma das empresas entrou com 50% do valor do negócio.

Os últimos detalhes da transação - coordenada pelo banco de investimentos Rotschild e adiantada pelo Valor na sua edição de 14 de novembro - ainda estavam sendo acertados ontem. A compra inclui as seis fábricas da Sucos Del Valle no México, onde está sediada, e também a unidade brasileira, instalada em Americana (SP).

Empresa familiar, mas com ações em bolsa, a Del Valle fatura US$ 440 milhões e, nos últimos anos, tornou-se a vedete do setor. Tem um portfólio de produtos bem elaborados, com sucos, néctares, polpas e concentrados, refrescos e até alimentos como bebidas lácteas e molhos de tomates. Mesmo com lucro modesto (de US$ 1,4 milhão) e geração de caixa de US$ 30 milhões, em média, nos últimos cinco anos, as ações da Del Vale vinham ganhando fôlego. No último mês, o papel subiu 100,7%. No ano, a alta já é de 229,68%.

A aquisição da Sucos Del Valle dá à Femsa 27,6% do mercado de sucos prontos para beber no Brasil - considerando-se as participações da Sucos Mais, de 7,6%, e Del Valle, de 20%. A terceira colocada, Sú Fresh, tem 7% e o Maguary, da Kraft Foods, 6%. Como terá mais do que o triplo de participação da segunda colocada no setor, a Femsa terá que aguardar o sinal verde do Cade para sacramentar o negócio. O órgão regulador mexicano também analisará a transação. Lá, porém, a Femsa terá 20% e continuará na segundo posição atrás da Jumex, com 22%.

A idéia da Coca-Cola e da Femsa é criar uma terceira empresa para suportar o negócio de sucos. A partir dela, as duas sócias "convidariam" os demais engarrafadores do sistema Coca-Cola do Brasil e do México para comprarem uma participação acionária na Sucos Del Valle. Com a estratégia, a multinacional pode alavancar o segmento de bebidas não carbonatadas. Muldialmente, a empresa vem sofrendo pressões por ter um portfólio muito focado em refrigerantes. Mais de 90% da receita ainda vem desse segmento.

A Coca-Cola Company está fazendo esse mesmo movimento no Brasil com a recém-adquirida Sucos Mais. Depois de desembolsar R$ 100 milhões na empresa de sucos capixaba, com uma participação de de mercado de 7% em volume, a multinacional "convocou" seus 17 engarrafadores para comprar uma participação equivalente à média da venda de refrigerantes e de não carbonatados.

A Coca-Cola estaria disposta a sair da operação, quando a Sucos Mais alcançar o ponto de equilíbrio, com rentabilidade sobre o capital investido. Com essa estratégia, a Coca-Cola consegue implementar a estratégia global de incentivar os fabricantes a vender mais sucos , água, isotônicos, chás e energéticos, que hoje correspondem a apenas 5% do faturamento, mas têm grande potencial de crescimento.

Mundialmente, sua rival Pepsico foi mais rápida na estratégia de avançar em bebidas saudáveis.

Mais do que uma aquisição na área de não carbonatados - segmento que cresce mais do que o setor de refrigerantes - a transação coloca a Femsa em posição de destaque no Brasil.

Maior engarrafadora da Coca-Cola da América Latina, a companhia mexicana desembarcou no país, de mansinho, ao comprar a Pananco/Spaipa - fabricante de refrigerantes. Em janeiro, pagou US$ 68 milhões pela cervejaria Kaiser (mais a dívida).