Título: Estrangeiros compram parte da BRA por R$ 180 milhões
Autor: Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 20/12/2006, Empresas, p. B2

Dona de 3,2% do mercado doméstico de aviação e em expansão nas linhas internacionais, a BRA Transportes Aéreos acaba de acertar os últimos detalhes para a entrada de novos sócios no capital da empresa. A Brazilian Air Partners do Brasil, fundo constituído em território nacional com investidores majoritariamente estrangeiros, quase todos fundos de "private equity", passará a ter 20% do controle da companhia - o teto definido pela legislação do setor para o domínio de ações ordinárias.

O fundo deverá ter participação de 72% nas ações preferenciais, mas é certo que a BRA continuará nas mãos de sua fundadora, a família Folegatti. Totalizando as ações preferenciais e ordinárias, os irmãos Folegatti terão 54% do capital. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), sem fazer alarde, deu sinal verde à operação, na semana passada, na mesma reunião em que aprovou o Certificado de Homologação de Empresa de Transporte Aéreo (Cheta) da "nova" Varig.

O aporte na BRA chegará a cerca de R$ 180 milhões, divididos em três etapas, segundo informou a diretora da Anac, Denise Abreu: a primeira imediatamente (R$ 110 milhões), a segunda até 15 de janeiro (R$ 43 milhões) e a terceira até 15 de dezembro de 2007 (mais R$ 27 milhões).

Pelo acordo desenhado com os novos sócios, a empresa aérea deverá abrir seu capital e lançar ações em bolsa em um prazo de três anos - embora, informalmente, fale-se em cerca de dois anos. Entrarão como novos sócios o Goldman Sachs, o Gávea Investment Fund (do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga), uma subsidiária do Bank of America, o Development Capital (que liderou a reorganização societária da United Airlines), o Darby Investments, o HBK e o Millenium Global.

O Valor apurou que a BRA tem um ambicioso plano de crescimento que inclui a aquisição de mais de duas dezenas de aviões da Embraer, dos modelos ERJ-175 (com capacidade para 78 passageiros) e ERJ-195 (que transporta até 118 pessoas). Já foram iniciadas as conversas entre a companhia aérea e a fabricante de aeronaves. Se concretizada, será a primeira grande aquisição de aviões da Embraer por uma empresa brasileira de aviação.

As negociações para a incorporação de novos sócios estão em curso desde agosto e o processo chegou à agência reguladora um mês e meio atrás. "As reuniões foram extremamente produtivas e a BRA concordou com as nossas propostas", disse Abreu. Segundo a diretora, a Anac obteve comprovação documental, via Banco Central, da origem legal dos recursos a serem aportados. O órgão fez pequenos ajustes no contrato para garantir que o direito a veto nas decisões administrativas da aérea, por parte do fundo estrangeiro, não venha a significar perda de autonomia dos gestores nacionais.

Uma dúvida que intriga o mercado é a identidade dos investidores por trás do fundo registrado no Brasil. Ele é controlado pela Brazilian Air Partners LLC, uma empresa constituída nos Estados Unidos. O sócio-fundador e presidente da BRA, Humberto Folegatti, confirmou a operação, mas preferiu não entrar em detalhes.

De acordo com a Anac, todo o capital é proveniente do exterior, o que deixa 20% juridicamente nas mãos de estrangeiros, independente de quem são os sócios. O novo conselho de administração será inicialmente composto por Humberto Folegatti, seu irmão Walter Folegatti, Paul Tierney Jr., Benjamin Heller, Jesse Rodriguez e Luiz Fraga. Farão parte, como suplentes, Matthew Tierney, Peter Jones, e Lars Schonander. Mais nomes serão definidos.

Com a concretização do negócio, a empresa ganha fôlego para acirrar a disputa com suas rivais TAM e Gol. Em crescimento, mas ainda vista como figurante no mercado brasileiro de aviação, a companhia pretende tornar-se uma terceira força efetiva no setor. O dinheiro novo será usado para expansão da frota e das linhas. As autoridades aeronáuticas acreditam que a expansão consistente do transporte aéreo nacional, em um ritmo de dois dígitos, viabiliza a existência de três ou quatro concorrentes no setor, todos capazes de manter boa saúde financeira e sem "competição predatória". O volume de passageiros deverá encerrar o ano com aumento perto de 12%.

Nascida como empresa especializada em vôos fretados (charter), a BRA cresceu com uma parceria com a Varig na antiga Varig Travel, hoje em liquidação. Hoje, já atende mais de 30 destinos nacionais e inaugurou suas primeiras linhas regulares ao exterior em julho. Com o forte encolhimento das operações da Varig, passou a ser a única brasileira nas rotas São Paulo-Lisboa e São Paulo-Madri.

Novos vôos para a Europa e para a América Latina estão nos planos da companhia. Ela se prepara para estrear na ligação Brasil-Itália, com até sete freqüências semanais, das quais cinco operadas a partir do Nordeste, onde sua popularidade é maior. Como charter, a BRA já teve vôos conectando o Brasil a cidades como Dusseldorf, Telaviv e Milão. Hoje faz fretamentos entre Dortmund e o Rio de Janeiro, com um avião Boeing 767. As rotas domésticas são operadas por modelos 737.

Desde o início, teve como objetivo fisgar passageiros que usavam preferencialmente o transporte rodoviário. Para isso, adotou uma estratégia de preços mais baixos do que a concorrência, inclusive da Gol, na maioria das rotas. Recentemente, a empresa tem buscado aumentar suas operações a partir de Congonhas e inaugurou novos vôos, com Rio e Brasília como destinos. Chegou a ter mais de 5% do mercado em meados do ano, mas essa participação retrocedeu um pouco com o início das operações internacionais (que realocou vôos) e o retorno de parte das atividades da Varig. (Colaboraram Raquel Balarin e Vanessa Adachi)