Título: Grandes editoras brasileiras reestruturam seus negócios
Autor: Bispo, Tainã
Fonte: Valor Econômico, 20/12/2006, Empresas, p. B4

O brasileiro continua lendo pouco e a concorrência imposta pelo capital estrangeiro cresce. Nesse quadro, as editoras brasileiras chegam ao final deste ano com novos negócios em carteira e estratégias que incluem desde parcerias com os concorrentes internacionais até investimento em livros de bolso e ampliação de parque gráfico.

Na categoria das grandes editoras nacionais, a Ediouro e a Record, nos últimos anos, vêm apostando na compra de selos e em fazer parcerias com grupos estrangeiros. A Sextante mantém uma operação ancorada em altas tiragens e preços mais baixos. E a Companhia das Letras desponta em um área ainda pouco explorada pelo mercado editorial brasileiro: os livros de bolso.

A Ediouro é a que tem atuado com maior agressividade. O grupo, fundado em 1939 e de capital fechado, está nas mãos da segunda geração da família Carneiro.

Há cerca de quatro anos, os sócios perceberam que era preciso diversificar o mix de produtos para, assim, depender menos das revistas de passatempo da marca Coquetel - um selo que tinha uma importante representação dentro da empresa na época mas que apresentava queda nas vendas. "Hoje, esses títulos respondem por cerca de 10% da receita da empresa", afirma Luiz Fernando Pedroso, superintendente da Ediouro e responsável pelo projeto de expansão da empresa.

A holding Ediouro possui quatro negócios: gráfica, livros e revistas (tanto de passatempo quanto informativas) - cada braço representa cerca de um terço do faturamento. Através de compras e parcerias realizadas nos últimos cinco anos, foram incorporados ao portfólio da editora mais sete selos editoriais.

Para Pedroso, há dois caminhos para manter o crescimento do grupo: aquisição e profissionalização da gestão. "A vinda das espanholas para o mercado brasileiro mostrou essa necessidade", afirma, referindo-se às editoras espanholas que operam no país (ler abaixo). Para este ano, Pedroso estima um crescimento de 30% da receita, que em 2005 atingiu R$ 132,9 milhões.

Atualmente, a divisão que mais recebe a atenção do executivo é a de livros. A primeira investida da Ediouro neste ano deu-se em junho, quando o grupo carioca criou um joint venture com a gigante americana Thomas Nelson, formando a Thomas Nelson do Brasil. Dessa forma, a Ediouro entra, em 2007, mais firme no segmento de auto-ajuda.

Um mês depois, Pedroso fechou uma parceria com a editora paulista Geração Editorial. Desde então, a Ediouro é a responsável pela parte comercial e de distribuição da Geração, especializada em livros de não-ficção.

Na semana passada, outra decisão de Pedroso agitou o mercado. O executivo profissionalizou a gestão da Nova Fronteira, onde a Ediouro tem 50% desde 2005. Carlos Augusto Lacerda, que possui a outra metade e cuidava do dia-a-dia da editora, foi substituído por Mauro Palermo, egresso do grupo Infoglobo. Essas mudanças geraram especulações no mercado de que a Ediouro estaria assumindo os 100% da Nova Fronteira. Pedroso nega, mas sinaliza que pode haver negócio no futuro "quando houver interesse na venda."

A obsessão de Pedroso pelo tema profissionalização tem uma razão já apontada por ele mesmo: a meta da empresa é abrir capital nos próximos três anos. "É algo difícil. Estamos preparando a empresa para isso."

Outro investimento do grupo este ano foi na gráfica da Ediouro, uma das cinco maiores do Brasil. Esta operação recebeu aporte de US$ 4,5 milhões para a compra de equipamentos e uma reforma no local. Esse investimento aumentou em 40% a capacidade instalada do negócio.

A Record tem uma estratégia similar à concorrente Ediouro. O grupo foi um dos primeiros a crescer a partir de aquisições. A primeira delas foi concluída há dez anos, quando o grupo comprou o controle acionário da BCD União de Editoras, empresa formada pela união das editoras Civilização Brasileira, Bertrand do Brasil e Difel.

No final de 2001, o grupo adquiriu a tradicional José Olympio e, em 2004, o selo Best Seller. No ano passado, o grupo lançou a HR, uma joint venture com a canadense Harlequin, especializada em romances açucarados.

Para organizar toda essa estrutura, que engloba nove selos e uma gráfica, o grupo terminou, este ano, uma reestruturação interna. Um holding foi criada para gerenciar quatro grupos editoriais.

Outro caso bem sucedido no mercado editorial brasileiro é o da Sextante que, para conquistar o mercado, tem adotado uma estratégia ainda pouco difundida entre suas concorrentes.

A editora prefere lançar poucos títulos - este ano foram 64 obras - para sustentar uma tiragem inicial alta. A média de exemplares impressos de um lançamento da Sextante é de 15 mil cópias, o quíntuplo da média do mercado. Por imprimir muitos exemplares de uma só vez, a editora pratica uma política de preços mais acessível, com livros que custam entre R$ 9,90 a R$ 29,90. "Esse é um modelo de maior risco", diz Marcos Pereira, um dos sócios da editora. "Mas, em geral, tem sido bem sucedido." Até agora, a Sextante já lançou best-sellers como "O Código da Vinci", de Dan Brown, e "O Monge e o Executivo ", de James C. Hunter.

A Companhia das Letras trilha um caminho diferente para aumentar as vendas. A editora lançou em maio de 2005 uma coleção de livros de bolso - mercado, até então, liderado pela L&PM Editoras. Já foram lançados 40 títulos nessa coleção, que custam, em média, a metade do preço de um livro em formato tradicional. Este ano, as vendas do selo Companhia do Bolso responderão por 6% da receita da empresa - o dobro do ano passado.