Título: Ministros amenizam e italianos ameaçam
Autor: Rizzo, Alana
Fonte: Correio Braziliense, 03/01/2011, Política, p. 6

Para Cardozo e Patriota, a permanência de Battisti no Brasil não criará uma crise diplomática. Mas a Itália já pensa em rever um acordo de cooperação militar

O novo governo brasileiro minimizou a crise diplomática entre o Brasil e a Itália provocada pela decisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de conceder refúgio político ao ex-ativista Cesare Battisti, preso desde 2007 na Penitenciária da Papuda. Lula negou, no última dia do ano, a extradição de Battisti. Segundo um parecer da Advocacia-Geral da União (AGU), a decisão segue todas as cláusulas do tratado de extradição firmado entre os dois países.

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, descartou qualquer possibilidade de rever o ato de Lula que, segundo ele, está em ¿estrita consonância¿ com a visão do Supremo Tribunal Federal (STF). ¿Não há por que a decisão do presidente Lula ser atacada do ponto de vista de sua validade ou judicialidade¿, disse Cardozo sobre uma eventual revisão pelo Supremo.

O ministro destacou ainda o embasamento jurídico do parecer da AGU e disse não crer em retaliações. ¿O Brasil tem relações históricas com a Itália, os italianos são nossos irmãos. Discordâncias existem e sempre existirão no campo da relação entre os países, mas, neste caso, estamos defendendo a nossa soberania.¿

Sinais positivos O ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, afirmou que a presença do embaixador italiano Gheraldo della Francesca na posse da presidente Dilma Rousseff pode ser entendida como um sinal ¿do desejo dos dois países de prosseguir o relacionamento e de dar ênfase às convergências e a uma agenda construtiva¿. A presença dele estava confirmada desde sexta-feira, mas, mesmo assim, depois da cerimônia, o novo ministro não descartava a possibilidade da retirada do embaixador italiano do país.

Assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia também usou a presença do embaixador na cerimônia de posse como um ¿indício de que a disposição é muito mais para o diálogo e para uma solução diplomática¿. Segundo Marco Aurélio, a decisão é soberana e foi tomada com forte fundamentação jurídica. ¿O país é soberano para decidir, e isso não nos traz nenhuma preocupação¿, afirmou, depois da cerimônia de transmissão de cargo no Ministério das Relações Exteriores. Ele afirmou não temer uma possível discussão do caso na Corte Internacional de Justiça (CIJ) de Haia.