Título: Biodiesel abre nova frente de disputa entre distribuidoras
Autor: Bouças, Cibelle
Fonte: Valor Econômico, 20/12/2006, Agronegócios, p. B12

A um ano do cumprimento da legislação que torna obrigatória no país a mistura de 2% de biodiesel no óleo diesel, as distribuidoras de combustíveis reforçam investimentos - os anunciados até agora somam R$ 216 milhões - e acirram a disputa para ganhar mercado. A BR Distribuidora, controlada pela Petrobras, foi a primeira a iniciar a venda do B2 (mistura de 2% de biodiesel no diesel), e assim já começa a lucrar com a sua aposta.

Recentemente, fechou contrato com a Viação Itaim Paulista (VIP), empresa que opera uma frota de 1.880 ônibus na capital paulista, para o fornecimento do B30. A mistura, composta por 30% de biodiesel, 8% de álcool e 62% de diesel, foi desenvolvida a pedido da VIP e foi autorizada para venda pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

A BR vende 6 milhões de litros por mês da mistura à empresa. Agora, a distribuidora negocia a venda do B30 para frotas em outras capitais do país, como Belo Horizonte e Recife. "A VIP era uma empresa que comprava combustível no mercado físico e agora fechou contrato com a BR. Aos poucos estamos ganhando clientes mercado", afirma Eugenio Mancini Scheleder, gerente de desenvolvimento de novos negócios da BR.

Segundo Mancini, cresce o interesse de companhias - principalmente as que atuam nas capitais - em adotar um combustível menos poluente. A empresa também assinou contrato com a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) para abastecimento de sua frota e com 35 termelétricas, para uso de biodiesel na geração de energia.

Na avaliação de Mancini, as outras distribuidoras demoraram a comprar o biodiesel que a Petrobras adquiriu nos leilões. "Estamos aproveitando essa sobra dos estoques para oferecer produtos diferenciados, o B5, o B20, o B30. Mas quando não houver mais sobra dos leilões, vamos ter que comprar junto às usinas, porque esses produtos tiveram grande aceitação pelas empresas", afirma Mancini.

A BR Distribuidora comercializa o B2 desde maio deste ano. Atualmente, vende o produto em 3,6 mil postos de sua rede no país e mantém contratos de fornecimento para 2,2 mil empresas de grande porte. "Neste ano, já comercializamos, no total, 37 milhões de litros de biodiesel, sendo que metade disso é vendida para grandes consumidores".

A meta da BR para julho de 2007 é atender a 5,4 mil postos e 6 mil grandes clientes, atingindo uma média de uso biodiesel puro de 32 milhões a 35 milhões de litros ao mês. "A meta é antecipar em seis meses a obrigatoriedade", afirma Mancini. Neste ano, a BR investiu R$ 20 milhões na adequação de 46 bases terminais para receber o biodiesel. No próximo ano, serão aplicados mais R$ 10 milhões para adequar as outras 20 bases.

Arnoldo Campos, coordenador do Programa de Biodiesel pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, observa que as 16 usinas já autorizadas a produzir biodiesel têm capacidade para oferecer 532 milhões de litros do biocombustível e, até o início de 2007, com a entrada de mais quatro unidades em operação, a capacidade vai crescer para 800 milhões de litros - o volume que era previsto para 2008. "A oferta existe, mas as distribuidoras ainda estão atuando de forma tímida. E terão que se adequar para atender a essa demanda", avalia.

Ele observa que a maioria dessas empresas só começou a apostar de fato no biodiesel no último quadrimestre do ano. A Shell iniciou a venda do B2 em setembro, para 100 grandes clientes e em 135 postos de sua rede. Adriano Dalben, diretor de suprimentos da Shell, estima que até o fim do ano o grupo terá comercializado 80 milhões de litros do B2 (o equivalente a 1,6 milhão de litros de biodiesel puro). "A Shell vende biodiesel na Europa há dez anos e é uma das maiores na distribuição de biocombustíveis no mundo. A empresa vai usar essa expertise para crescer na área no Brasil", afirma o executivo.

A Shell adaptou três bases de distribuição no Nordeste e vai adequar as restantes para receber o biocombustível até março. O investimento total é de R$ 10 milhões. A meta, diz Dalben, é vender no próximo ano 2,8 bilhões de litros de B2 (o equivalente a 56 milhões de litros de biodiesel puro).

A AleSat, que mantém uma rede de 1,1 mil postos no país, decidiu ir além da distribuição. A empresa investirá R$ 130 milhões na construção de uma usina de biodiesel no Centro-Oeste, com capacidade para produzir 114 milhões de litros por ano. Conforme informou a companhia ao Valor, a decisão foi tomada após o grupo elevar as vendas totais de combustíveis em 6,5%, graças ao marketing bem sucedido com o biodiesel.

Em dezembro, a Ipiranga também iniciou a venda do B2 em Goiânia (GO) e para 100 clientes corporativos. O grupo planeja estender a distribuição a outras capitais em 2007. "A expectativa é vender 250 milhões de litros do B2 [5 milhões de litros do biodiesel puro] em 2007", diz Luiz Athayde Kauer, gerente de suprimentos e transportes da Ipiranga. A empresa investiu R$ 5 milhões neste ano em armazenagem e aportará outros R$ 20 milhões em 2007. A Manguinhos também anunciou investimento de US$ 10 milhões para iniciar a venda do B2 neste mês.