Título: BC projeta superávit de 1,44% do PIB
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 20/12/2006, Finanças, p. C1

A queda da demanda externa deverá roubar cerca de um ponto percentual do crescimento da economia em 2006, mas o efeito desse movimento quase não será sentido pelas contas externas. Às vésperas do encerramento do ano, o Banco Central projeta um superávit em conta corrente de 1,44% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2006, pouco menor do que o 1,78% observado em 2005.

O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, explica que o PIB é afetado mais fortemente pela queda da demanda externa porque é calculado com base em volumes importados e exportados. Em termos de volume, as exportações crescem menos do que as importações, e o resultado disso é a queda da demanda externa, afetando o PIB.

Do ponto de vista das contas externas, entretanto, a queda dos volumes exportados está sendo parcialmente compensada pela melhora dos termos de troca - ou seja, os preços dos produtos exportados pelo país continuam a subir, e os importados, a cair.

O resultado disso tudo é que a taxa de câmbio, que tinha tudo para se desvalorizar com a retomada da demanda doméstica, continua dentro da sua tendência de apreciação, graças aos superávits em conta corrente. Só não cai mais porque o BC vem intervindo pesadamente.

Segundo estatísticas divulgadas pelo BC, de janeiro a novembro o saldo em conta corrente soma US$ 13,182 bilhões, e a projeção oficial para o ano é um saldo de US$ 13,3 bilhões. Se confirmado, o resultado não será muito diferente dos US$ 14,193 bilhões ocorridos em 2005.

Esse alentado saldo em conta corrente é hoje uma das fontes de dólares mais importantes que levam à apreciação do câmbio, ao lado dos investimentos estrangeiros diretos (projetados em US$ 18,3 bilhões para o ano) e dos investimentos estrangeiros em Bolsas (US$ 14,2 bilhões).

O BC projeta para 2007 uma queda de quase um ponto percentual no superávit em conta corrente, de 1,44% para 0,46% do PIB. Em valores nominais, o superávit cairia de US$ 13,3 bilhões para US$ 4,5 bilhões. O problema das projeções do BC é que elas são sempre alguns graus mais conservadoras do que as do mercado financeiro, e já está se tornando tradicional a sua revisão ao longo do ano.

O economista Bráulio Borges, da LCA Consultores, prevê para 2007 um cenário bastante parecido com o deste ano: a demanda externa continuará a dar uma contribuição negativa para o PIB, mas as contas externas não devem ser afetadas, devido ao efeito positivo dos preços. "Não deverá ter mudanças na tendência do câmbio", afirma Borges. "Se o BC não continuar a intervir, a tendência é o câmbio se apreciar."

Neste ano, as aquisições de dólares pelo BC no mercado de câmbio somam US$ 33,5 bilhões. Desse total, US$ 31,9 bilhões se referem a estatísticas já fechadas sobre as intervenções feitas pelo BC de janeiro a novembro. A esse valor se somam as compras feitas pela autoridade monetária em dezembro, até o dia 15, estimadas em US$ 1,553 bilhão a partir do déficit no mercado de câmbio (US$ 2,102 bilhões) e da variação da posição comprada em câmbio (que foi reduzida de US$ 4,315 bilhões para US$ 659 milhões em dezembro, até o dia 15).

Na projeção conservadora do BC, sobrará no mercado de dólar US$ 12,4 bilhões em 2007 - que tendem a ser absorvidos pela própria autoridade monetária. Mas alguns analistas acham que a sobra será bem maior, e que o BC será obrigado a comprar em mercado volume semelhante ao adquirido neste ano.