Título: Equipe de Lula muda em fevereiro
Autor: Cristiano Romero e Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 19/01/2005, Política, p. A7

A novela da segunda reforma ministerial do governo Lula só deverá ter seu desfecho depois do Carnaval. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai aguardar o resultado da eleição para as presidências da Câmara e do Senado, prevista para acontecer no dia 14 de fevereiro. Inicialmente, o plano de Lula era mesmo anunciar as mudanças em meados de fevereiro. Alguns assessores sugeriram, no entanto, que, uma vez que as condições políticas para a reforma já estariam dadas, seria melhor promover as mudanças este mês, antes da viagem para Davos, na Suíça, onde ele participará do Fórum Econômico Mundial. O problema é que um fato inusitado - a disputa da presidência da Câmara por dois petistas - levou o presidente a rever sua estratégia. Na reforma, Lula poderá ter que contemplar setores que saírem derrotados da disputa. O presidente concluiu também que demitir e escolher ministros antes da disputa poderia dificultar a eleição dos candidatos de sua predileção. O presidente continua pensando na reforma de maneira reservada. Faz consultas a ministros e políticos aliados, mas não sinaliza as mudanças que fará. Amanhã, ele conversará sobre a reforma com os líderes do PMDB aliados ao governo - o presidente do Senado, José Sarney, os líderes no Congresso, Renan Calheiros e José Borba, além do ministro das Comunicações, Eunício Oliveira. Mesmo os assessores diretos de Lula não sabem que decisões ele deverá tomar. O que se sabe são algumas de suas avaliações. O presidente, segundo um colaborador, está "muito preocupado" com a Previdência Social, que de janeiro a outubro de 2004 produziu um rombo de R$ 26 bilhões nas contas públicas - a estimativa é que o déficit tenha fechado o ano em torno de R$ 29 bilhões. Na avaliação de Lula, esse déficit tira recursos que poderiam estar sendo investidos em infra-estrutura, diminuindo assim os gargalos que impedem a economia brasileira de crescer de forma mais acelerada. Por causa disso, o presidente quer modernizar a administração previdenciária. Ele ainda não pensa em demitir o ministro da Previdência, Amir Lando, da cota do PMDB no governo, mas já estaria convencido a destituir o presidente do INSS, o ex-senador Carlos Bezerra. "Não há chances de Bezerra permanecer no cargo", disse um assessor ao Valor. Bezerra foi indicado para o cargo pelo senador Renan Calheiros. Em alta no Palácio do Planalto, Calheiros poderá indicar o substituto do atual presidente do INSS, desde que o Ministério da Previdência permaneça sob o comando do PMDB. A conversa com o PMDB servirá também para diminuir as diferenças entre os pemedebistas em relação aos cargos que possuem no governo. Atualmente, há um desequilíbrio nas estatais porque os pemedebistas do Senado emplacaram a maioria das indicações para as presidências e diretorias das empresas. Os deputados do PMDB fiéis a Lula querem maior equilíbrio. Nos últimos dias, surgiram rumores de que Lula poderá deslocar o presidente da Infraero, Carlos Wilson, para um cargo "melhor" - um ministro citou a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil -, liberando a estatal para mais uma indicação do PMDB. Jorge Mattoso, atual presidente da Caixa, iria, por sua vez, para o Ministério do Planejamento ou então ficaria sem cargo, uma vez que é ligado à ex-prefeita Marta Suplicy, que perdeu prestígio em Brasília. Ontem, Carlos Wilson garantiu que não recebeu nenhuma ordem do presidente Lula para deixar o cargo. "Não recebi nenhum convite para sair nem para ir para outro lugar", assegurou Wilson, que se filiou há apenas um ano e meio ao PT. Para ele, as especulações nada mais são do que "notícia de recesso parlamentar". Perguntado se o PMDB pressiona o governo para ter os ministérios das Cidades e da Integração Nacional, o líder José Borba disse que "as duas pastas são muito importantes. Agradam ao PMDB e a qualquer partido".