Título: Deputado no Brasil ganha mais do que na UE
Autor: Saccomandi, Humberto e Uchoa, Rodrigo
Fonte: Valor Econômico, 19/12/2006, Política, p. A7

O reajuste salarial que os congressistas brasileiros se concederam os coloca entre os mais bem pagos do mundo. Um levantamento feito pelo Valor em nove países, incluindo desenvolvidos e em desenvolvimento, mostra que os deputados brasileiros teriam salário apenas inferior aos dos colegas japoneses e italianos. E bem superior aos dos latino-americanos.

O Valor coletou dados tanto de salário bruto como de benefícios. Apesar de ser difícil comparar os diferentes benefícios (leia texto abaixo), é evidente que a verba dos brasileiros é uma das maiores.

Como em alguns países o Parlamento é unicameral, foram comparados apenas os salários dos deputados. Mesmo essa comparação não é simples. Alguns países, como o Chile, pagam um fixo e um jeton por sessão a que o deputado comparece, o que torna o vencimento variável. Já a França, que tem o menor salário nominal dos pesquisados na Europa, permite que seus congressistas acumulem cargos nas suas cidades (o que costuma acontecer), mantendo parte ou todo o salário.

Entre os países pesquisados, o Brasil é o único que vem pagando sistematicamente 15 salários aos congressistas, devido às duas convocações extraordinários do Congresso por ano que viraram praxe. Chile, México e Argentina pagam 13, como seria o normal no Brasil. Os europeus pagam 12. No Reino Unido, nos Estados Unidos e no Japão, o valor do salário é anual.

Para permitir a comparação, foi feita uma média mensal do salário bruto dos deputados, sem contar benefícios. Os valores na moedas locais foram convertidos diretamente para reais, a não no caso de países latino-americano, nos quais a conversão foi feita via dólar.

Os deputados mais bem pagos são os do Japão, com o equivalente a R$ 33.703 por mês. O país tem o mais alto custo de vida do mundo. Em seguida, estão os italianos, com o equivalente a R$ 31.466. Mas a cesta de benefício dos deputados italianos (incluindo verba de gabinete e excluindo transporte) é apenas um pouco maior que o salário bruto. No Brasil, os benefícios somam três vezes e meia o salário.

Os deputados brasileiros são os terceiros mais bem pagos no levantamento, com R$ 30.625, se forem incluídos os salários das convocações extraordinárias. Os brasileiros ficam à frente até dos poderosos deputados americanos, que ganham em média R$ 29.540 por mês (mas têm a cesta de benefícios mais cara, com média de US$ 1,25 milhão por deputado por ano).

Em seguida vêm Reino Unido (R$ 21.026), Alemanha (R$ 19.710) e França (19.397). Os deputados nesses países recebem salários de classe média alta, em relação ao custo de vida local. Mas é comum que o complementem com jetons recebidos pela participação em comissões nacionais ou européias.

Os deputados dos países da América Latina ganham em geral bem menos. Na Argentina, o salário é de apenas 4.800 pesos (cerca de R$ 3.800), com mais 1.200 pesos de verba de representação.

O Congresso mexicano paga a seus 500 componentes salário bruto de R$ 19.300. Os mexicanos são também são prolíficos na criação de benefícios, como a ajuda vestuário e empréstimos subsidiados.

No Chile, o salário médio é de cerca de R$ 10.200, mas o valor final depende do comparecimento.

Devido à dificuldade de comparação, ainda mais se incluídos os benefícios, esses valores são principalmente uma referência. Mas dizem muito sobre a preocupação dos países com o impacto político. A Alemanha decidiu nos anos 70 corrigir os salários abaixo da inflação. A Itália, cujo governo vem cortando gastos, reduziu 10% os salários este ano. No Brasil, o aumento foi de 91%, bem acima da inflação.