Título: Agressora de ACM Neto diz ter sido motivada por aumento
Autor: Cruz, Patrick
Fonte: Valor Econômico, 19/12/2006, Política, p. A7

O deputado federal Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) passa bem após ser esfaqueado no início da tarde de ontem em Salvador. Este é o segundo incidente envolvendo o deputado em pouco mais de dois meses e marca com mais um revés da crise do carlismo na Bahia.

Pouco antes das 13h, Rita de Cássia Sampaio de Souza, de 45 anos, abordou o deputado quando, acompanhado por amigos, ele saía de seu escritório no bairro da Pituba. A facada atingiu o lado direito das costas de ACM Neto. Sua secretária viu o crime da janela do escritório e chamou a polícia. Rita de Cássia foi presa em flagrante.

Em seu depoimento, prestado 16 Delegacia de Polícia de Salvador, ela disse que atacou o deputado como forma de protesto contra os políticos e também contra o reajuste de 91% que os congressistas se concederam na semana passada. Rita de Cássia foi autuada por tentativa de homicídio e encaminhada ao presídio feminino de Salvador para aguardar julgamento. ACM Neto foi levado para o Hospital da Bahia para ser medicado, mas estava fora de perigo. Seu avô, o senador Antônio Magalhães (PFL-BA), reagiu no Senado: "Foi uma mulher louca, que não merece comentários."

Há pouco mais de dois meses, um dia antes da realização do primeiro turno das eleições deste ano, o deputado estava no automóvel Toyota Hillux que capotou no quilômetro 29 da Estrada do Coco, da Bahia, a caminho de Salvador. O acidente acabou sendo encarado como mau presságio do que ocorreria no dia seguinte: ao contrário de todos os prognósticos feitos ao longo da campanha, que davam como certa a vitória do governador Paulo Souto no primeiro turno, o petista Jaques Wagner surpreendeu e derrotou o pefelista.

Como no incidente de ontem, ACM Neto saiu ileso, mas apresentou-se abatido e com alguns ferimentos no dia seguinte, ao acompanhar o avô quando o senador foi votar na Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia (Ufba). Os dois passageiros que estavam com o deputado no automóvel saíram feridos, um deles com traumatismo craniano.

Os infortúnios pessoais do deputado, tido como o herdeiro político de ACM, somam-se a uma das mais inesperadas e marcantes derrotas nas eleições de 2006. Em janeiro, o carlismo deixará o comando do governo baiano após quatro mandatos consecutivos do senador e de políticos a ele ligados.

Até mesmo na corrida ao Senado houve baixa. Rodolfo Tourinho, apoiado por ACM, foi derrotado pelo ex-governador João Durval Carneiro, que nasceu politicamente no carlismo, mas acabou se tornando seu desafeto. Carneiro é pai de João Henrique Carneiro, que chegou à prefeitura de Salvador há dois anos após derrotar o senador César Borges, apoiado por ACM.

A equipe do novo governo trabalha ainda para que o aeroporto de Salvador volte a se chamar Dois de Julho. O caso é considerado emblemático. Em 1998, o terminal foi rebatizado como Luís Eduardo Magalhães para homenagear o deputado federal e filho de ACM, morto naquele ano.

Em outro protesto, ontem, em Brasília, o cientista político e funcionário público aposentado William Carvalho, 61, se acorrentou no início da tarde a uma pilastra localizada em frente ao gabinete do presidente do Senado, Renan Calheiros por cerca de 20 minutos. "Esse aumento é um absurdo e ninguém está vendo isso? Não sou eu que estou louco", afirmou. A corrente foi cortada por seguranças do Senado, que o levaram para prestar depoimento na Polícia Legislativa. (Colaboraram RU e TVJ, de Brasília)