Título: Oposição divide preferências na disputa pela presidência da Câmara
Autor: Jayme, Thiago Vitale e Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 18/12/2006, Política, p. A8

Cientes da prerrogativa da bancada governista de indicar o candidato à presidência da Câmara, os partidos de oposição aguardam o desenrolar da disputa entre os aliados do presidente Lula para indicar o nome que irá presidir a Casa pelo biênio 2007-2008. Nem PFL nem PSDB fazem movimentos bruscos nessa fase de intensas negociações dos dois candidatos que se apresentam: o líder do governo Arlindo Chinaglia (PT-SP) e o atual presidente Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Isoladamente, grupos políticos de ambas as legendas sinalizam suas preferências na disputa em curso.

Oficialmente, tanto PFL quanto PSDB mandam um aviso aos pretendentes: obedecerão o princípio da proporcionalidade para a escolha do presidente. Nos bastidores, contudo, o nome de Aldo tem mais força no PFL.

No tucanato, apesar de alguns apoios explícitos ao comunista, a bancada tende a respeitar de fato o direito constitucional da maior bancada apresentar o candidato. Pela ordem: primeiro o PMDB e, depois, o PT, segunda maior. "Se o PMDB tiver candidato, vamos de PMDB. Se não, a prerrogativa é do PT", diz o deputado tucano Antonio Carlos Pannunzio (SP). "Nesse cenário, o nome de Aldo se viabilizaria apenas se ele for indicado como candidato único da maioria governista", completou Custódio Mattos (PSDB-MG).

Os pefelistas pensam da mesma forma, embora não coloquem Aldo como última opção nesta disputa. Reconhecem que, com uma bancada de apenas 13 deputados, o PCdoB não tem direito a indicar candidatos. Mas aguardam o desenrolar das negociações entre os aliados para definir, concretamente, sua posição. "Quando nossa artilharia tem pouco tiro, não podemos atirar à toa", comenta o líder da Minoria, José Carlos Aleluia (PFL-BA).

Os pefelistas redobram-se no cuidado porque, diferentemente dos tucanos, têm um nome próprio para concorrer à presidência do Senado - o líder do partido naquela Casa, José Agripino Maia (RN). A legenda sabe que um deslize na Câmara poderá afetar as intenções do senador. Ao mesmo tempo, uma negociação robusta com as bancadas de deputados poderia ajudar o partido a eleger Agripino, numa operação casada Câmara-Senado.

Alguns grupos dentro do PFL já se manifestam favoravelmente à candidatura de Aldo Rebelo. O presidente da Câmara colocou todo seu poder de negociação em jogo na disputa entre Aroldo Cedraz (PFL-BA) e Paulo Delgado (PT-MG) para a vaga de ministro do Tribunal de Contas da União (TCU). A eleição aconteceu no dia seguinte ao lançamento oficial da candidatura de Chinaglia a presidente da Câmara.

A indicação de Chinaglia pelo PT influiu na disputa pelo TCU. Tornou-se uma prova de fogo para a coalizão do governo Lula. Aldo operou por Cedraz. Conquistou votos e contribuiu para a vitória do pefelista. Depois da votação, o líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ), foi ao gabinete de Aldo. "Obrigado por cumprir sua palavra", disse o pefelista. Na conversa seguinte com Lula, Aldo teria avisado o presidente que tinha "apoio de parte do PFL". Criara uma dívida a ser quitada pelo líder do PFL na eleição da Mesa.

Outro grupo de pefelistas a apoiar Aldo é o de Antonio Carlos Magalhães Neto (BA). O deputado tem a companhia do avô, senador Antonio Carlos Magalhães (BA), que enxerga na vitória de Aldo a brecha para tomar a presidência do partido. ACM apóia o nome de Renan Calheiros (PMDB-AL), candidato à reeleição na disputa com Agripino pelo Senado. Renan trabalha pela vitória de Aldo. Cogitam uma dobradinha de candidaturas únicas e de consenso.

A vitória de Aldo fortaleceria Rodrigo Maia. ACM ajudaria, assim, a fazer de Rodrigo Maia presidente do PFL. O cargo de líder do partido na Câmara ficaria livre para ACM Neto. Toda essa engenharia já é conhecida nos bastidores da Câmara e os pefelistas baianos já aparecem nas bancas de apostas como apoiador de Aldo.

Dentro do PFL, resta a Arlindo Chinaglia conquistar o grupo ligado a José Carlos Aleluia, parlamentar mais próximo dele entre os pefelistas. O líder da Minoria tem simpatia pelo nome do petista. Mas ainda não se posicionou. Antes da derrota petista no TCU, tinha maior intenção de apoiá-lo. Com o resultado catastrófico para a base, colocou o pé no freio. Ainda assim, considera Chinaglia um nome forte e viável.

Dentro do PSDB, já há até apoio oficial ao nome de Aldo. Luiz Carlos Hauly (PR) declarou apoio à reeleição do presidente. "Precisamos de alguém mais vinculado aos interesses nacionais e da minoria, que hoje somos nós. E o mais indicado para isso é o Aldo", diz o tucano. Mas a bancada ainda não deliberou para valer. Alguns tucanos acham que Aldo foi muito mais fiel ao governo do que o próprio Chinaglia, o que levaria a Câmara a um processo de atrelamento demasiado ao Planalto. "Se Aldo é mais fiel ou não eu não sei. Mas que ele continua sendo um grande ministro da articulação política aqui dentro, não há dúvida", declarou Rafael Guerra (MG).

Toda essa indefinição deve permanecer ao longo do mês de janeiro e é um bom ambiente ao aparecimento de uma candidatura alternativa, alguém que corra por fora com a simpatia do baixo clero, como Inocêncio Oliveira (PL-PE), por exemplo. Sobra espaço para uma candidatura "avulsa". "O Inocêncio sabe lidar com os deputados, é atencioso, habilidoso. Mas seriam movimentos isolados. Não queremos levar novamente o ônus do efeito Severino", assinala um tucano.

PFL e PSDB só devem definir explicitamente o apoio perto da eleição, marcada para o dia 1º de fevereiro. "Se nem eles (governistas) sabem quem é o candidato que devem apoiar, como vamos nos definir agora?", pergunta Guerra.