Título: Lula diz que segundo mandato só deve ser comparado ao primeiro
Autor: Basile, Juliano e Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 15/12/2006, Política, p. A10

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem, depois de receber o diploma de presidente reeleito no plenário do Tribunal Superior Eleitoral, que o segundo mandato impõe responsabilidades maiores a ele e ao vice, José Alencar, do que o primeiro. Segundo Lula, eles não podem mais se comparar com os governos anteriores, mas com os primeiro quatro anos em que estiveram no Planalto. "Agora é Zé Alencar e Lula contra Zé Alencar e Lula, em benefício do povo brasileiro", declarou o presidente.

Lula chegou a afirmar que não "estava tomado pelo mesmo estado emocional" da primeira diplomação, em 2002, por duas razões: estava quatro anos mais velho e tinha exata noção do que aquele diploma representava para o povo brasileiro. Mesmo assim, chorou, e alguns de seus ministros também choraram. "Se o primeiro mandato era uma boa aventura de provar que tínhamos competência para governar o Brasil., o segundo mandato é a demonstração que o povo brasileiro espera que façamos mais e muito melhor do que fizemos no primeiro mandato".

Lula não se conteve e chorou ao agradecer o apoio da população mais humilde, a quem atribuiu a sua vitória. "Em momentos muitos difíceis (engasgou, bebeu água para evitar o choro), o povo mais humilde deu um exemplo ao Brasil. O povo mais humilde não precisou de intermediário para dizer a ele o que fazer nesse processo eleitoral. Assumiu a responsabilidade de dizer em alto e bom som: eu quero votar do jeito que sei votar. E foi isso que garantiu a vitória de Zé Alencar e de Lula", afirmou, arrancando lágrimas de ministros como Dilma Rousseff (Casa Civil) e Márcio Thomaz Bastos (Justiça). "Que Deus nos abençoe e que o Brasil tenha de nós o melhor que nós pudermos dar".

O discurso do presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Marco Aurélio de Mello, foi bem sucinto. Ele parabenizou os diplomados, afirmando que foram "candidatos legitimamente eleitos". E desejou que a "democracia seja para todo o sempre o caminho seguro do crescimento e bem-estar da população".

Depois dos cumprimentos, Lula declarou que seu desafio é "fazer o país crescer sem inflação". Citou períodos de crescimentos anteriores, como os anos JK e do milagre econômico, com picos de 8% a 9% de crescimento, mas com inflação alta. "No milagre, sequer o aumento do salário mínimo acompanhava a inflação. Eu quero que isso aconteça", disse o presidente. Lula afirmou que três fatores serão fundamentais para que o país volte a crescer: a circulação de capital, uma forte política de crédito para que o povo pobre se torne cidadão e crescimento com distribuição de renda.

A ministra Dilma Rousseff afirmou que o novo mandato do presidente será para todos os brasileiros, não apenas para os mais humildes: "O presidente teve 60 milhões de votos em todas as camadas sociais. Vamos manter o nosso lema Brasil, um país de todos". Já o ministro da Fazenda, Guido Mantega, se disse surpreso com o a aprovação do aumento de quase 100% dos vencimentos dos parlamentares. "Achei que ia subir apenas pela inflação".