Título: Para crescer, Banco Cacique busca sócio
Autor: Adachi, Vanessa e Balarin, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 15/12/2006, Finanças, p. C12

O Banco Cacique, especializado em crédito consignado e financiamento ao consumo, está à venda. Um amplo grupo de bancos nacionais e estrangeiros foi convidado a apresentar propostas para adquirir 100% do capital da instituição ou, alternativamente, firmar uma parceria por meio da compra de 30% a 50% das ações.

Os interessados já apresentaram propostas indicativas de preço (não firmes) e atualmente, o processo encontra-se em fase de auditorias (due diligence). A expectativa é que as propostas firmes sejam apresentadas no final de janeiro.

Segundo o Valor apurou, os três grandes bancos privados nacionais - Bradesco, Itaú e Unibanco - foram convidados a olhar o negócio. Mas nem todos chegaram a apresentar oferta. Entre os estrangeiros, comenta-se que estariam avaliando a operação a financeira francesa Cetelem, Santander, ABN Amro, Société Générale, o sul-africano Standard, Ibi (da C&A)e GE Capital.

"Não é algo espetacular, mas é uma boa operação, redondinha", comentou uma fonte com acesso às informações do Cacique disponibilizadas no "data room".

Procurado, o banco não confirmou nem desmentiu a existência do processo de venda. Em nota, a instituição informou ter sido a abordada por interessados em comprá-la ao longo de 2006. "Encaramos essas abordagens como naturais em ambientes competitivos, onde a busca de participação de mercado é desejo estratégico constante."

Há uma expectativa de que as propostas fiquem em torno de duas a duas vezes e meia o patrimônio líquido do banco, que era de R$ 305 milhões em junho.

A principal atividade do banco é o crédito consignado. Da carteira de crédito de cerca de R$ 700 milhões, aproximadamente R$ 330 milhões referem-se a empréstimos a funcionários públicos, aposentados e pensionistas do INSS.

Segundo especialistas, instituições de menor porte como o Cacique podem vir a perder mercado no segmento de consignado por conta da decisão do governo de permitir que o cliente refinancie o seu empréstimo em outro banco que ofereça condições mais vantajosas. Bancos menores têm um custo de captação maior e, por isso, tendem a cobrar taxas de juro mais elevadas.

"Os bancos menores captam com um custo 20% a 30% maior que os grandes", disse um executivo de banco de médio porte. "Mas eles estão centrados nos clientes que têm conta corrente, enquanto nós vamos atrás dos não-bancarizados", completou.

Numa tentativa de se antecipar a esse movimento e reter clientes, o Cacique tem oferecido refinanciamentos a um custo mais baixo. Em setembro, por exemplo, dos R$ 50 milhões de créditos consignados concedidos a aposentados, R$ 27,5 milhões (55%) referem-se a refinanciamentos.

Na nota encaminhada ao Valor, o banco acrescentou que "vem analisando propostas de captação estruturada e associações que permitam a diminuição de custos e possibilitem aumentar a escala de operações. O Cacique tem em seu planejamento estratégico expressivo crescimento de sua carteira de crédito para levar aos seus clientes as menores taxas do mercado".

Hoje, segundo o Valor apurou, 80% do crédito consignado do Cacique é concedido por meio de sua estrutura própria - agências e promotora de vendas. Nos outros 20%, recorre aos chamados "pastinhas", agentes que costumam ir até o cliente não-bancarizado e recebem uma comissão por isso.

Em março de 2005 o Cacique fechou um acordo para ceder ao Banco Real, do grupo holandês ABN-Amro, crédito consignado gerado por ele. Com prazo inicial de três anos, o acordo implicaria o desembolso mensal de R$ 50 milhões pelo Real, totalizando R$ 1,8 bilhão.

A segunda maior operação do Cacique é o financiamento ao consumo, que representa R$ 250 milhões da carteira total. Durante muito tempo, o Cacique foi parceiro financeiro das Lojas Americanas, mas, sem condições de competir com instituições de maior escala, em 2004 acabou perdendo o lugar para o Unibanco, posteriormente substituído pelo Itaú.

Depois disso, o banco procurou firmar as parcerias com lojas de menor porte, formando a carteira atual de mais de 100 estabelecimentos credenciados.