Título: Movimentos pedem vaga no Copom e no CMN
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 14/12/2006, Política, p. A8

Representantes de dez movimentos sociais reuniram-se ontem com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro Luiz Dulci (Secretaria geral da Presidência), no Palácio do Planalto. Disseram ter ido pedir maior participação nas decisões de governo, cobrar mudanças na política econômica - incluindo a demissão do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles - e lembrar a Lula que não adianta apenas conversar com os partidos políticos para formar um amplo governo de coalizão: é fundamental, também, ouvir os representantes da sociedade. "Nós temos autoridade moral para isso", afirmou o dirigente do MST, João Paulo Rodrigues. "Se alguns setores da sociedade querem trazer o presidente para o centro, cabe aos movimentos populares puxá-lo de volta para a esquerda", completou o dirigente da CUT, João Felício.

Felício garante que a frase dita por Lula na segunda feira, de que a "evolução do homem e os cabelos brancos fazem com que ele, naturalmente, migre para o centro" não foi comentada na reunião com os movimentos sociais. Mas ela reverberou nas entrevistas posteriores: "O presidente Lula pode até ter uma posição de centro. Mas ele foi eleito com uma base de esquerda", declarou João Paulo.

Os movimentos sociais apresentaram uma pauta de reivindicações extensa, embora o debate sobre os pontos levantados tenha ficado para um segundo momento - bem como as reuniões setoriais com cada segmento. Dentre os tópicos, está a participação de representantes dos movimentos populares em órgãos econômicos, como o Comitê de Política Monetária (Copom) e o Conselho Monetário Nacional (CMN). Também querem ter acesso à discussão do Orçamento Geral da União e ao planejamento do Plano Plurianual (PPA). "É necessário criar instrumentos eficientes para que os movimentos possam travar a disputa por emendas ao orçamento", defendeu o atual presidente da CUT, Artur Henrique dos Santos.

Para Rodrigues, "acabou o período dos movimentos chapa branca. "Esse é o ano. Agora não tem mais desculpas porque não tem mais segundo mandato", acrescentou. O presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), disse ao presidente que "as atuais metas de desenvolvimento pretendidas pelo governo são incompatíveis com a política econômica conduzida pelo Banco Central". Em sua fala, Peta deixou claro que uma boa sinalização para os movimentos populares de uma mudança de rumos seria "a demissão de toda a diretoria do Banco Central".

Também presentes ao encontro, os índios expressaram seus temores sobre as declarações de Lula sobre o meio ambiente e deixaram a reunião com poucas certezas sobre a questão. O representante do Fórum em Defesa dos Direitos Indígenas, Jesinaldo Satere Mauê, explicitou três preocupações dos povos indígenas: a hidrelétrica de Belo Monte, a hidrovia do Rio Madeira e o gasoduto Coari-Manaus-Porto Velho. "Não queremos que essas obras destruam ou inundem as terras de nossas famílias", protestou.

Jesinaldo ficou preocupado com uma intervenção do presidente. Segundo ele, Lula teria dito: "Custe o que custar, nós destravaremos esse país". Espera que, durante as reuniões setoriais com representantes dos movimentos, o presidente e sua equipe sejam mais claros. O presidente da UNE, contudo, tem uma interpretação menos dúbia da fala de Lula. "Ele disse que vai tomar todas as medidas, mas sem passar por cima das questões ambientais e dos povos indígenas".

Em sua intervenção, Lula não disse se atenderia à reivindicações, mas mais uma vez, reclamou do excesso de burocracia no país. "Eu queria que vocês fossem presidentes por um dia para ver como é. Você toma uma decisão e a decisão não sai", disse ele, aos presentes. Prometeu que, neste segundo mandato, vai tomar todas as medidas necessárias para uma maior eficiência administrativa e não pretende repetir os mesmos erros políticos do primeiro mandato. "Por isso, estou conversando com todos os partidos políticos, para formar uma ampla coalizão política". O presidente pediu sugestões dos movimentos sociais, afirmou que "não quer mesmices no segundo mandato" e repetiu que, a partir de agora, as comparações serão feitas com seu mandato de 2003-2006, não mais com os oito anos de Fernando Henrique Cardoso.