Título: Para presidente, 'as pessoas perderam o humor'
Autor: Costa, Raymundo e Romero, Cristiano
Fonte: Valor Econômico, 14/12/2006, Política, p. A10

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não quis comentar ontem, durante entrevista depois da cerimônia no Palácio do Planalto, a decisão tomada pelo Tribunal Superior Eleitoral na madrugada de ontem sobre as contas de campanha. O TSE aprovou as contas do candidato Lula mas rejeitou as do comitê nacional de campanha do PT. O presidente preferiu ficar com o parecer do Ministério Público Federal, que recomendava a aprovação das contas presidenciais. "Eu não julgo decisão do TSE", disse.

Lula também comentou as críticas que estão sendo feitas às suas declarações, na noite de segunda-feira, de que a evolução da espécie humana acaba por levar os homens a migrarem de posições de esquerda para o centro. A frase provocou a ira de intelectuais e políticos socialistas brasileiros. "Eu acho que as pessoas perderam o humor. Me desculpe, mas eu acho que humor é uma coisa que o país não pode perder", disse o presidente.

Lula disse que fez uma brincadeira, que acabou sendo mal interpretada. "Lamentavelmente parece que tem gente no Brasil que não gosta mais de humor, acham que humor é pecado. Nem uma boa brincadeira é considerada uma brincadeira", reclamou Lula.

O presidente não quis adiantar medidas que estarão no pacote econômico a ser anunciado nos próximos dias. Segundo ele, o governo está trabalhando nos ajustes finais dos pacotes que será apresentado, de antemão, para os partidos políticos na terça-feira ou quarta-feira.

"Uma coisa eu tenho clareza: temos anos e anos de experiência de que o Brasil tem sido um país com momentos em que parece que vai deslanchar e não deslancha e isso faz 26 anos, desde 1980", lembrou o presidente.

Lula disse que o grande desafio do momento é provocar em todos - governo, empresários, trabalhadores - a necessidade de que o país tenha um crescimento econômico sustentável. "Temos de destravar o país. Tem muita coisa que atrapalha o país crescer. Pequenas normas, grandes normas, leis que precisam ser mudadas e só vão ser mudadas se a gente tiver a boa cumplicidade do Congresso e da sociedade", disse ele.

O presidente aproveitou para parabenizar o Congresso pela aprovação do marco regulatório do saneamento.