Título: EDC quer fazer empréstimos em reais
Autor: Lucchesi, Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 14/12/2006, Finanças, p. C10

A EDC (Export Development Canada), banco de desenvolvimento canadense, já está autorizada a fazer empréstimos em reais a empresas brasileiras, diz Claudio Escobar, diretor do Brasil e Cone Sul. Segundo ele, a idéia é passar a atuar também junto a médias empresas e crescer o total de crédito a ser fornecido em 2007 em mais 15%. Em 2006, a EDC fez empréstimos de US$ 1,3 bilhão às empresas do Brasil e passou a ter atuação de destaque junto às multinacionais brasileiras com investimentos no Canadá. Após a compra da Inco pela Vale do Rio Doce, o Brasil se tornou o quinto maior país em investimento direto no Canadá, afirma Escobar.

No total de crédito deste ano foram considerados US$ 100 milhões de uma operação montada para a Embratel sob a forma de empréstimo guarda-chuva. Dos US$ 100 milhões, a EDC entrou com um crédito direto de US$ 50 milhões e o Banco Calyon com outros US$ 50 milhões. Mas, mesmo a parte do empréstimo feita pelo Calyon fica sob o guarda-chuva da EDC, que aparece oficialmente como única credora para todos os US$ 100 milhões. A EDC é credora preferencial em caso de moratória de um país e, por isso, a estrutura reduz o risco do banco comercial, permitindo o alongamento de prazos e a redução dos juros. "Foi a Embratel que pediu que nós buscássemos o Calyon para iniciar um relacionamento com ela", explica.

A agressividade da EDC permitiu seu crescimento no mercado de crédito externo ao país, diferentemente do que aconteceu com outras agências de crédito à exportação de países ricos, muitas das quais perderam competitividade diante da agressividade de taxas dos bancos comerciais na procura por ativos. Segundo Escobar, a EDC não tem limite ao risco do Brasil e tem apetite comercial crescente.

Para 2007, o banco se prepara para "adotar soluções criativas, com novas ferramentas", como por exemplo empréstimos em moeda local. Para garantir o custo competitivo, uma das alternativas seria fazer captações em reais no mercado externo. Se for tomar recursos em dólar e converter para reais, o custo não seria competitivo com o mercado de debêntures.

Passar a atuar junto às empresas médias não será difícil para a EDC, acredita. "O Canadá tem tradição de empresas médias e estamos acostumados a avaliar risco de crédito", diz. Neste ano, a atuação da EDC já sofreu uma guinada inicial. Acostumada a emprestar principalmente para empresas de telecomunicações, os principais compradores de equipamentos do Canadá, a EDC passou a realizar operações para o Grupo Votorantim, Gerdau e Vale do Rio Doce. "Por meio de suas subsidiárias, essas empresas se tornaram brasileiras-canadenses", diz.

Segundo Escobar, a Vale quer expandir seus negócios com níquel em outros países e a EDC vai apoiá-la. Em 2006, fez também empréstimos à Petrobras, entre outras gigantes nacionais. Nos últimos seis anos, desde que abriu escritório em São Paulo, a EDC já emprestou US$ 8 bilhões ao Brasil e apoiou mais de 190 empresas do Canadá no país, disse Escobar ontem, em café da manhã no Hotel Unique, em São Paulo, com empresários e integrantes do mercado financeiro, do qual participou o Valor. A agência se retraiu em 2002, após o susto do não-pagamento de empréstimo feito à BCP, mas nos últimos anos voltou com agressividade de prazos e taxas cobradas.