Título: Pão de Açúcar aprofunda mudanças no próximo ano
Autor: Facchini, Claudia
Fonte: Valor Econômico, 14/12/2006, Empresas, p. B4

O programa de reestruturação e redução de custos implementado neste ano pelo Pão de Açúcar será aprofundado em 2007. Em conferência com analistas de investimentos, o presidente-executivo da companhia, Cássio Casseb, afirmou ontem que as mudanças passarão a ser mais "estruturais" e profundas do que as adotadas em 2006, quando a empresa esteve mais concentrada no controle de despesas e produtividade.

As alterações já alcançaram a cúpula executiva. Casseb anunciou que Hugo Bethlem responderá pela divisão de hipermercados Extra no lugar de Jean Duboc, que irá trabalhar na França no grupo Casino, sócio do Pão de Açúcar. O Extra representa 50% das vendas da varejista brasileira, que totalizaram R$ 16,1 bilhões em 2005. Abilio Diniz, presidente do conselho do Pão de Açúcar, também já tem o nome que ocupará a recém-criada diretoria de não-alimentos, mas o mantém em sigilo porque o executivo ainda tem a receber bônus do seu atual emprego.

Behtlem continua no comando da bandeira Comprebem e também do novo negócio do grupo, o Extra Perto, rede de lojas de conveniência inspirada no Casino, que tem uma forte operação neste formato na Europa. Para a divisão Sendas, do Rio de Janeiro, que também estava sob a tutela de Bethlem, o grupo contratou um novo executivo, Jorge Herzog, que veio do Carrefour. Quem ocupa agora a diretoria executiva de alimentos, que estava vaga com a saída de César Suaki, em outubro, é Ramatis Rodrigues, ex-diretor do Sonae.

Um dos pontos que mais preocupam os analistas é o desempenho das vendas em áreas comparáveis de lojas, aspecto que tem sido crítico para o Pão de Açúcar nos últimos dois anos. Diniz preferiu não fazer projeções para o quarto trimestre deste ano e para 2007. "Mas eu posso garantir a vocês que nós já estamos subindo", disse o empresário, que, a partir deste ano, adotou uma estratégia de preços agressiva para ganhar mercado.

A bandeira Pão de Açúcar, em particular, possuía a imagem de não cobrar preços justos, admitiu o próprio empresário. Segundo Diniz, o grupo fechará na sexta-feira seu orçamento para 2007, quando deverão ser abertas 30 lojas.

Esse número não inclui o novo formato, o Extra Perto, que contará, inicialmente, com 10 lojas apenas. De acordo com Bethlem, se a operação passar no teste, a meta é abrir 50 ou 60 lojas já em 2007. Os pontos são pequenos - "estamos olhando qualquer sobradinho", diz o executivo - e requerem um investimento médio de R$ 500 mil por loja. O grupo pensa em adotar o modelo de franquia, permitindo que lojas operadas por terceiros adotem a marca Extra Perto, mas isto só deve acontecer em 2008.

A criação desse novo negócio mostra a maior proximidade do Pão de Açúcar com o seu sócio francês, o Casino, que passou a ter 50% do capital votante do grupo em 2005. "O Casino tem nos ajudado muito e isto é um fato novo", disse Diniz. O empresário fez críticas veladas ao ex-presidente-executivo Augusto Cruz. "Infelizmente as coisas não correram bem (na gestão anterior)", disse. Segundo ele, "o entrosamento com o Casino era mais difícil". Ao ser indagado por um analista de investimento sobre a profissionalização do grupo e sua interferência na administração do negócio, Diniz respondeu: "Acredito que ainda tenho muito a contribuir".

O empresário não espera que o cenário econômico jogue a favor da empresa. "2007 não será o ano do consumo", previu. A renda da classe média, que é a que mais consome, tem sido a mais penalizada, disse . Ainda assim, as metas traçadas para 2010 são ambiciosas. O Pão de Açúcar quer chegar no fim da década com um faturamento de R$ 25 bilhões e 700 lojas. Hoje, são 550. O objetivo é fazer com que a participação dos produtos não-alimentícios, que respondem por 23% das vendas, cresça para 34%.