Título: Mercadante tenta fortalecer seu mandato
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 11/12/2006, Política, p. A6

O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) está vivendo uma "nova fase", depois do revés provocado em sua carreira política pelo episódio da tentativa de compra de um dossiê antitucano por petistas. "Estou me sentindo que nem passarinho quando troca pena: não pia", diz. Considerado arrogante como líder do governo Lula no Senado, o Mercadante de hoje busca aproximar-se dos colegas e fortalecer o mandato de senador: "Eu agora cumprimento todo mundo, e paro pra conversar".

O caso do dossiê estourou no primeiro turno das eleições e envolveu um ex-coordenador da campanha de Mercadante, Hamilton Lacerda. Adversário do tucano José Serra na disputa pelo governo de São Paulo, o senador acha que, se não fosse o escândalo, teria ido para o segundo turno. Mas o estrago foi maior. Voltou para o Senado enfraquecido, deixou definitivamente a liderança do governo, e seu nome não consta mais das listas de ministeriáveis. Para ele, o mais grave foi o prejuízo a sua imagem.

"O episódio do dossiê gerou uma frustração grande. Não é só a derrota eleitoral. É a forma como aconteceu. Você pode ganhar ou perder, mas tem que perder de forma limpa, cabeça erguida. Não foi meu sentimento. Isso não podia ter acontecido, é uma coisa inaceitável, incompatível com minha história", afirma.

Se depender da oposição, Mercadante pode ficar tranqüilo. Os senadores do PSDB e do PFL decidiram proteger o senador petista. "Não nos interessa atacar Mercadante. Nosso objetivo é atingir Lula. A oposição tem que concentrar sua atuação no presidente", afirmou o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE). "Não podemos queimar todas as pontes. Ele é leal", disse o senador Heráclito Fortes (PFL-PI).

Pessoas próximas a Mercadante dizem que sua preocupação está no PT, de onde partiriam movimentos para enfraquecê-lo. A oposição tem interesse em preservar Mercadante, por considerá-lo o quadro mais preparado e confiável do PT, com melhores condições de interlocução junto ao governo. O líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), não é visto como pessoa próxima de Lula. A relação da líder do PT, Ideli Salvatti (SC), com a oposição é belicosa.

Com atuação política sempre próxima de Lula, Mercadante nega que esperasse do presidente gestos mais firmes em sua defesa. Segundo ele, as investigações é que deverão mostrar seu distanciamento do caso do dossiê. "Meu futuro político depende de como terminar esse processo. Tenho absoluta segurança de que, quanto mais for investigado, melhor pra mim", afirma.

As conversas com o presidente, agora, acontecem de forma mais discreta. Na segunda-feira, Mercadante participou de um jantar no Palácio da Alvorada com Lula e o ministro Guido Mantega. O encontro durou quatro horas. O assunto foi política econômica - principal tema dos discursos do economista Mercadante, em sua nova fase.

"O crescimento econômico vai estar para meu mandato como a renda mínima esteve para o mandato de Suplicy", garante, referindo-se à obstinação do colega Eduardo Suplicy (SP) na defesa do programa de renda mínima. Sem a obrigação de falar como líder do governo, Mercadante pretende dedicar seu mandato a três temas: crescimento econômico, educação e crescimento sustentável e meio ambiente. E aos interesses do seu Estado.

Mercadante está empenhado em defender a reeleição do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Na quarta-feira foi à tribuna pedir que o PMDB confirme logo sua indicação e disse que Renan fez à frente da Casa "um trabalho de valorização e independência do Poder Legislativo e diálogo com todas as forças". Mas, não poupou elogios ao líder do PFL, José Agripino (RN), que se lançou candidato da oposição. Desde a eleição, Mercadante não se envolve em confrontos. Mesmo quando discursa em defesa do governo - como na votação do reajuste dos aposentados -, os apartes são elegantes. No debate com Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) houve até troca de gentilezas.