Título: Angra III é a bola da vez
Autor: Victer, Wagner Granja
Fonte: Valor Econômico, 11/12/2006, Opinião, p. A10

Os motivos para a implantação imediata da Usina Nuclear Angra III são evidentes. Fora o aumento na geração de energia elétrica, que beneficiará todo sistema interligado Sudeste/Centro-Oeste, e a contribuição para a diversificação de nossa matriz, a construção de Angra III irá resultar em outros benefícios econômicos para o Estado do Rio de Janeiro e para todo o país, como os cerca de 6 mil novos postos de trabalho que serão criados na região Sul do Estado.

Quanto ao abastecimento de matéria-prima para a usina, o Brasil possui grandes reservas de urânio em Caetité, na Bahia, e produz o combustível necessário às Indústrias Nucleares do Brasil (INB), em Resende, Rio de Janeiro - portanto sem o "impacto cambial tarifário" imposto pelo gás importado da Bolívia.

Na linha de diversificação de nossa matriz energética, vale ressaltar que diversos países desenvolvidos, como França (77%), Espanha (34%), Inglaterra (27%), Alemanha (29%) e Japão (31%), Estados Unidos (21%), têm percentualmente cerca de cinco vezes mais geração nuclear do que o Brasil. Afinal, nosso país, contando com as três usinas em funcionamento, terá pouco mais de 4% de sua matriz baseada na energia nuclear.

Outro aspecto importante que impulsiona a concretização do projeto é o levantamento de custos complementares de Angra III, cerca de US$ 1,8 bilhão. Estes foram verificados recentemente por auditorias independentes, como as feitas pelas empresas Iberdrola e Eletricité de France (EDF), que confirmaram a viabilidade do projeto, apresentando números praticamente iguais ao orçamento previsto para a conclusão das obras, sendo que estes resultados foram obtidos ainda em um período de regime cambial desfavorecido, o que aponta para uma possível redução dos custos.

Vale ressaltar que não construir a terceira usina nuclear é literalmente o ato de "jogar dinheiro fora" mais marcante da história do país, pois já existem mais de US$ 700 milhões de equipamentos comprados, com custo de manutenção superior a US$ 20 milhões por ano, que irão para o "lixo" com a paralisação do projeto. Lembro ainda que os custos complementares da usina serão feitos em sua maioria em reais, utilizando a engenharia brasileira, que ainda está mobilizada por conta do término de Angra II, uma fiel cópia de Angra III, que funcionará como uma maquete de tamanho real.

Outro fator fundamental é que, no momento em que se fala na utilização mais nobre para o gás natural, temos em Angra III a oportunidade de gerar 1350 MW de energia de base térmica que, se fossem produzidos com gás natural, consumiriam cerca de 7 milhões de m3/gás por dia, que no momento de restrição de oferta de gás natural no país e da crise política na Bolívia aumenta ainda mais o seu caráter estratégico.

-------------------------------------------------------------------------------- Quando todos eram contra a construção de usinas, foram feitas Angra I e II; agora, que estão a favor, deve-se implementar a III --------------------------------------------------------------------------------

A questão dos resíduos de baixa e média intensidade gerados pela central nuclear também já foi objeto de auditoria. Por solicitação do governo do Estado do Rio de Janeiro, a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) providenciou a realização de uma inspeção independente, visando avaliar as condições de processamento dos rejeitos radioativos da usina. Assim sendo, a CNEN encaminhou à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) - órgão ligado a Organização das Nações Unidas (ONU), que tem por finalidade regular as atividades nucleares dos países membros - a avaliação das áreas de processamento e armazenamento dos rejeitos produzidos pela Usinas Angra I. Após detalhada perícia, a conclusão apresentada pela AIEA foi de que, na situação atual, nem o processamento dos rejeitos, nem as instalações de estocagem dos mesmos apresentam qualquer risco aos trabalhadores, à população local e ao meio ambiente.

Além do governo estadual, diversos setores importantes da economia fluminense, as prefeituras municipais de Angra dos Reis e de Parati e as entidades de classe do Estado, como a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), a Associação Comercial, o Clube de Engenharia, além de grande quantidade de deputados federais, têm se manifestado favoráveis à retomada da construção imediata da Usina Nuclear Angra III.

Em relação ao posicionamento do governo federal, ressalto que o projeto já se encontra dentre os investimentos previstos no Plano Plurianual e que este assunto deve ser pautado imediatamente para a próxima reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), a qual sou membro representante dos Estados, sem qualquer adiamento. Afinal, recentemente o próprio governo federal, através da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), apresentou o "Plano Nacional de Energia - 2030", que prevê a construção, até 2030, de cinco novas usinas nucleares, visando atender ao aumento do consumo de energia elétrica dos setores produtivo e residencial. Destaco que duas dessas usinas deverão ser construídas na região Sudeste e mais duas no Nordeste.

Portanto, o governo do Estado do Rio de Janeiro acredita e tem a certeza que o governo federal decida favoravelmente quanto à retomada da construção da Usina de Angra III. O curioso é que quando todos os agentes envolvidos eram contra a construção de usinas nucleares foram feitas Angra I e Angra II; agora que muitos agentes estão a favor, não conseguimos implementar a terceira usina do complexo nuclear brasileiro, fato no mínimo muito estranho, até porque tal decisão, se tivesse que ter sido tomada, já deveria ter acontecido há pelo menos alguns anos, evitando o desperdício de dezenas de milhões de dólares em manutenção dos equipamentos já adquiridos. Ou seja, este é o momento de ação e não mais de reflexão sobre o tema, afinal, como entoava Geraldo Vandré "quem sabe faz a hora, não espera acontecer". A hora é essa!

Wagner Granja Victer é secretário de Energia, Indústria Naval e Petróleo do Rio e representante dos Estados no Conselho Nacional de Política Energética (CNPE).