Título: Líderes disputam mercado e investidor
Autor: Campassi, Roberta
Fonte: Valor Econômico, 11/12/2006, Empresas, p. B3

Elas têm origens, estratégias e filosofias muito diferentes. Em compensação, o que têm em comum foi suficiente para torná-las as companhias aéreas líderes na América Latina. As brasileiras TAM, Gol, a chilena LAN e a panamenha Copa construíram modelos eficientes de gestão, têm planos agressivos de crescimento e competem em pé de igualdade com aéreas americanas pelo dinheiro do investidor. Mas, ao mesmo tempo em que dividem o sucesso, dividem também o mercado.

Nos últimos anos, TAM, Gol, LAN e Copa expandiram-se com rapidez. Criaram estruturas de custo enxutas e colocaram o foco nos resultados. Todas estão listadas na Bolsa de Nova York e, com exceção da Copa, nas bolsas de seu países de origem. Um levantamento da Merrill Lynch mostra que, em novembro, o valor de mercado das quatro companhias representava pouco menos de 30% do valor de mercado total das companhias aéreas listadas no continente americano.

As quatro empresas ilustram as mudanças ocorridas na aviação desde 2001. Naquele ano, as companhias aéreas no mundo amargaram perdas de US$ 13 bilhões em decorrência dos ataques terroristas de 11 de setembro. A situação agravou-se nos dois anos seguintes com a gripe asiática e a guerra do Iraque. Aéreas tradicionais foram então à falência ou entraram em processo de recuperação judicial, expondo as fragilidades de estruturas enormes e onerosas, num mercado extremamente vulnerável a fatores externos. Nesse contexto, aéreas de baixo custo ganharam visibilidade.

No Brasil, o caso da TAM ilustra bem as mudanças. Em 2002, a empresa registrou prejuízo de R$ 606 milhões. A companhia deu início a uma profunda reestruturação: eliminou rotas deficitárias, acelerou a compra de aeronaves mais novas, elevou o tempo de utilização dos aviões e cortou custos. Desde então, vem obtendo lucros e hoje é a líder do mercado brasileiro.

A Gol, que é a mais jovem das quatro, já nasceu em 2001 com uma estrutura enxuta, aeronaves modernas e política de preços agressiva. Os executivos da companhia aérea afirmam, com freqüência, que os preços por ela praticados contribuíram para fomentar a demanda pelo transporte aéreo. Hoje, 25 milhões de brasileiros viajam de avião, contra 12 milhões em 2001. "Estávamos no lugar certo, na hora certa com as pessoas certas", costuma dizer Constantino de Oliveira Jr., presidente da Gol.

À capacidade de gestão das duas empresas brasileiras, somam-se o forte crescimento do mercado aéreo - a demanda cresceu 32% de 2001 a 2006 - e a retração da Varig.

Ao contrário da TAM e da Gol, porém, a LAN e a Copa não podem contar apenas com seus países de origem para crescer. O Chile, com 16 milhões de habitante, e o Panamá, com 3 milhões, são mercados pequenos. As duas empresas criaram estratégias para transportar os passageiros latino-americanos entre os países da região. O tráfego no interior da América Latina cresce 6,9% ao ano, a segunda taxa mais alta no cenário mundial atrás apenas da registrada na China (8,8%).

A LAN, antiga LanChile, optou por criar subsidiárias em vários países. A empresa tem unidades no Chile, Peru, Equador e na Argentina - esta última resultado da aquisição da Aero 2000 no ano passado. Dessa forma, a LAN faz rotas domésticas em cada um desses locais e rotas internacionais entre eles. No mercado de cargas, tem uma subsidiária no México e é dona da Absa, no Brasil. De 2001 a 2005, as receitas do grupo subiram de US$ 1,4 bilhão para US$ 2,5 bilhões, e o lucro líquido passou de US$ 1 milhão para US$ 155 milhões.

Já a Copa Airlines aposta todas as suas fichas num único lugar: o aeroporto internacional de Tocumen, na capital do Panamá. Ele é um centro de conexões rápidas, por onde passam todos os vôos da Copa. Os passageiros saem dos países na América, trocam de avião no Panamá e chegam a qualquer outro lugar do continente. A americana Continental Airlines é sócia da Copa e hoje detém 27,3% do capital da companhia.

Até setembro deste ano, TAM, Gol, LAN e Copa, juntas, faturaram US$ 6,7 bilhões, US$ 150 milhões a mais do que em todo o ano de 2005. Suas receitas equivalem a 40% do faturamento total das companhias aéreas na América Latina, que foi de US$ 17 bilhões em 2005. O lucro das quatro empresas nos primeiros nove meses deste ano - US$ 650 milhões - também já supera os ganhos de 2005. Segundo estimativas da Asociación Latinoamericana de Transporte Aéreo (Alta), as empresas da região vão lucrar, juntas, US$ 200 milhões neste ano.

A principal questão, hoje, é saber como será a concorrência entre essas empresas no futuro. Enquanto a TAM e a Gol estão ampliando as operações em países da América Latina, a LAN e a Copa inauguraram novos vôos no Brasil na semana passada.

A competição entre Gol e LAN promete ser particularmente acirrada. A empresa brasileira já compete com a chilena em rotas que ligam Brasil e Argentina, Brasil e Chile e Chile e Argentina. A Gol tem planos de estar em todos os países da América do Sul até 2010 e pode operar rotas entre eles, como a LAN já faz. "A Gol está claramente provocando", afirma Paulo Sampaio, consultor de aviação. "É típico: chama para brigar quem tem custos mais baixos."

Suspeita-se que a LAN tenha planos de criar uma subsidiária de transporte de passageiros no Brasil, uma vez que já possui a Absa. Só assim ela poderia operar em algumas das suculentas rotas dentro do país. A lei brasileira proíbe, no entanto, que mais de 20% do capital votante de uma empresa aérea seja estrangeiro. Uma coisa é certa: as distâncias na América Latina estão ficando mais curtas.

A repórter viajou a convite da TAM Linhas Aéreas