Título: Pequenas brilhantes
Autor: Fariello, Danilo e Camba, Daniele
Fonte: Valor Econômico, 11/12/2006, EU & Investimentos, p. D1

Com o Índice Bovespa - que reúne os papéis mais negociados na bolsa paulista - caminhando para o quarto ano de alta consecutiva e acumulando valorização de 281,41% desde o início de 2003 até sexta-feira, muitos analistas começam a recomendar maior seletividade na hora de escolher os investimentos em renda variável. Dessa forma, as ações com menor liquidez, as chamadas "small caps" ou de segunda linha, ganham maior evidência porque tendem a refletir com algum retardo a valorização acentuada dos papéis mais procurados. Com isso, ganham os fundos especializados nesse tipo de papel.

Motiva a procura pelas "small caps" também o fato de que a queda dos juros e o crescimento econômico favorecem principalmente as empresas menores, com menos acesso a crédito externo e maiores chances de crescer, diz Maurício Levi, sócio da Fama Investimentos. Mesmo com a maior procura pelos papéis mais líquidos nos últimos anos, o Índice Valor Bovespa (IVBX-2) apresenta alta de 334,44% desde o início de 2002, período em que o Ibovespa avançou 216,54%. O IVBX-2 exclui as dez companhias de maior liquidez do IBX, bem como as dez com maior valor de mercado.

O mercado brasileiro nos últimos anos tem apresentado um amadurecimento que permite a aplicação em empresas menores com risco ainda controlável, diz Fabio Fonseca, professor de Finanças do Ibmec-Rio. "Não há mais movimentos surpreendentes dramáticos e as empresas, em geral, estão menos endividadas."

Como são menos contaminadas pela especulação do mercado, as ações menores tendem a apresentar desempenho mais representativo de mudanças estruturais no longo prazo, diz Rubens Monteiro, gerente de fundos de ações da BB DTVM. A expectativa de uma conjuntura mais favorável às empresas menores em 2007, principalmente no acesso ao crédito, é motivo para se esperar um desempenho melhor delas frente às maiores, diz Levi, da Fama.

A conquista do "investment grade" e a continuidade da queda da Selic e da TJLP são fundamentais para que essas ações sigam em alta, diz Levi. Muitas companhias poderão desengavetar projetos e voltar a investir em ampliação da capacidade produtiva nesse cenário, avalia Monteiro. "No entanto, como os papéis têm liquidez reduzida, o mercado demora a incluir no preço essa melhora nas ações", diz.

Mesmo neste ano, em que uma enxurrada de recursos internacionais migraram para ações das grandes empresas brasileiras, muitos dos fundos small caps renderam acima do Ibovespa (ver acima). No entanto, com o índice em níveis elevados, após seguidas altas, os fundos small caps podem ser alternativas mais conservadoras por conta da menor volatilidade, diz Monteiro.

O reaquecimento das ofertas de ações nos últimos três anos deu gás novo para essas carteiras de segunda linha, lembra o superintendente-executivo de Investimento do Bradesco, Marcos Villanova. A grande maioria dessas empresas é pequena quando estréia no mercado de capitais e, portanto, se encaixa perfeitamente nesse tipo de investimento. "Os fundos de small caps são grandes compradores de ações nessas ofertas públicas", diz Villanova. "Antes dessa volta das aberturas de capital, os gestores tinham muito mais dificuldade para encontrar uma quantidade suficiente de boas ações", completa.

A continuidade das ofertas é importante também para manter o abastecimento dos fundos de small caps, já que depois de um tempo essas companhias crescem e precisam ser substituídas por outras menores. "A Natura, por exemplo, já esteve nessas carteiras e hoje não pode mais ser considerada uma 'small cap'", lembra o executivo do Bradesco. O fundo do banco, assim como o da BB DTVM, não pode comprar nenhuma das dez ações mais líquidas do Ibovespa.

Em geral, essas carteiras têm critérios bastante diferenciados. Há quem exclua apenas as "blue chips" e há também gestores que garimpam só as ações de empresas esquecidas por praticamente todo o mercado. Por isso, a comparação das carteiras deve ser cuidadosa. "Como as distinções são muitas, a análise do desempenho técnico do gestor é mais relevante nesses fundos", diz Fonseca, do Ibmec-Rio.

Entre os novos setores de "small caps" que apareceram ou ganharam reforço na bolsa nos últimos anos estão transporte, construção civil, varejo e tecnologia. Boa parte dessas ofertas proporcionou bons retornos. Alguns desses setores podem apresentar novos ganhos em 2007, entrando numa fase de consolidação entre as companhias. Por exemplo: sucroalcooleiro, de software e de laboratórios.

Essas empresas, pelo tamanho pequeno, são as que mais se beneficiam, em momentos de crescimento econômico, como se espera que sejam os próximos anos no Brasil. "Elas crescem muito mais do que as grandes companhias que já são mais maduras", diz a diretora da renda variável da Unibanco Asset Management (UAM), Marília da Costa Dubois.

Outro diferencial é que, exatamente por serem menores e menos conhecidas, os papéis dessas companhias geralmente estão subavaliados pelo mercado. Segundo ela, há um ganho duplo nessa história: as empresas vão crescer com a expansão econômica e os seus papéis têm um espaço enorme para refletir isso. "O comportamento do mercado americano mostra que, quando essas ações se valorizam, elas sobem muito", lembra Marília.

O investidor, acostumado apenas com grandes empresas, como Petrobras e Vale do Rio Doce, aos poucos percebe a vantagem de aplicar em papéis de segunda linha. No Bradesco, o fundo de "small cap" é o que registra a maior captação na categoria de alta renda, lembra Villanova. A procura por fundos que investem especificamente em papéis de menor liquidez significou R$ 360 milhões em captação no ano, elevando o patrimônio total das carteiras identificadas pelo Valor para R$ 1,466 bilhão. No mesmo período, todos os fundos de ações do mercado captaram R$ 2,1 bilhões.