Título: Para BIS, freio nos EUA dá novo fôlego a emergentes
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 11/12/2006, Finanças, p. C5

Os investidores voltaram a ser otimistas em relação aos mercados emergentes, confiando numa desaceleração ordenada da economia dos Estados Unidos. Quem faz a constatação é o Banco de Compensações Internacionais (BIS), em relatório trimestral sobre a evolução dos mercados financeiros.

O banco dos bancos centrais nota que os mercados, apesar de enviar às vezes sinais contraditórios, tem antecipado uma aterrissagem suave da locomotiva americana. Entre setembro e finais de novembro, os preços dos ativos de risco cresceram na maioria dos mercados. A volatilidade implícita nos mercados de ações e de obrigações chegou a seu mais baixo nível em anos. Os investidores voltaram a tomar gosto pelo risco após uma saída de certos mercados entre maio e junho.

Mudanças nas perspectivas para a economia dos EUA tiveram maior impacto nos preços de ativos nos mercados emergentes do que acontecimentos locais, segundo o BIS. Mesmo no aumento generalizado dos "spreads" em meados de setembro, não ficou claro se isso foi reflexo de instabilidade política, como o golpe de estado na Tailândia e agitações na Hungria, ou por noticias sobre a atividade econômica americana.

Essa interpretação é apoiada pelo fato de que os mercados domésticos de obrigações e ações terem sido pouco afetados pelas vendas de títulos da dívida. Além disso, houve recuperação rápida de "spreads" quando surgiram notícias mais favoráveis para a economia dos EUA.

O banco admite que a dominação de fatores globais pode parecer uma surpresa, diante do pouco impacto de instabilidade política ocorrida não apenas na Tailândia e Hungria. Um dos poucos países que teve alta mais persistente de "spread" sobre a divida externa foi o Equador, antecedendo a eleição presidencial de novembro. Isso porque o candidato que afinal acabou ganhando admita uma moratória ao estilo argentino que levou a redução substancial da divida.

A confiança de que a economia dos EUA não terá aterrissagem brutal veio "mão a mão" com a percepção de bons fundamentos em vários emergentes, que mantém "ratings" estáveis. O BIS vê consenso nas previsões do mercado sobre crescimento forte nessas economias. Para o banco, outro sinal de crescente confiança nas perspectivas de mercados emergentes foi o retorno de investidores aos fundos para esses países, embora ainda bem abaixo de fluxo do começo do ano. "Estamos falando de agora, o BIS não faz previsões", diz um dos autores do relatório.

Diante das condições favoráveis do mercado, empresas e governos de emergentes aproveitaram para aumentar emissão de títulos internacionais no terceiro trimestre. Emissões soberanas voltaram ao mercado depois de uma quase ausência desde abril. Essas captações ficaram abaixo dos volumes de 2005. Uma das razões é que a melhora fiscal ma maioria dos emergentes reduziu a necessidade de captação externa. Além disso, aumenta a substituição de divida externa por divida interna. O mercado de bônus se expandiu na América Latina, sobretudo no Brasil e no México, segundo o BIS. As emissões do setor privado foram bem maiores. No total, os emergentes fizeram emissões líquidas de US$ 21,2 bilhões no terceiro trimestre. As emissões de obrigações totais no médio e longo prazo foram de US$ 506 bilhões no período.

Os contratos negociados nos mercados internacionais de instrumentos derivados diminuíram no terceiro semestre. O total acumulado (contrato de taxas de juros, de cambio e sobre índice de ações) alcançou US$ 465 bilhões. A queda foi de 4% em relação ao trimestre anterior, devido a menos negócios com produtos de juros.

No mercado bancário internacional, os dados são do segundo trimestre. Os créditos dos bancos aumentaram 15%, totalizando agora US$ 24 trilhões. Pela primeira vez em cinco trimestres, os créditos dos bancos internacionais foram maiores que as retiradas para economias emergentes. O BIS publica também estatística de empréstimos concedidos pelas subsidiárias de bancos internacionais nos emergentes. O montante chega a US$ 100 bilhões no Brasil.

Países produtores de petróleo reduzem lentamente seus depósitos em dólar, preferindo euro e outras moedas. Por sua vez, a maior saída liquida de recursos para depósitos em bancos no exterior partiu da Rússia. O estoque de depósitos de russos no exterior já alcança US$ 220 bilhões.