Título: Maior prejuízo ficaria com setor automotivo
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 08/12/2006, Brasil, p. A3

Para o Mercosul, o impacto mais negativo de um acordo comercial com a União Européia (UE) fica para o setor automotivo. A avaliação encomendada pela UE prevê declínio "dramático" de 30% na produção do Brasil e de 10% no Argentina. Já as importações de automóveis europeus aumentariam, ampliando a produção da Europa em 1,8% nos 15 países mais ricos, além de 0,7% nos 10 novos membros do Leste Europeu. O resultado seria queda no emprego de 29% no Brasil, 10% na Argentina, 66% no Paraguai e 42% no Uruguai e aumento de vagas de trabalho na Europa.

Mas esse modelo prevê liberalização completa, ou seja, eliminação de tarifas de importação. E o Mercosul não aceita isso na negociação real, sobretudo a Argentina. Atualmente, 15% das importações do Mercosul originárias da Europa já são produtos automotivos.

Esse setor do Mercosul é o sétimo produtor mundial e novo maior exportador. Ao examinar o impacto econômico do acordo birregional sobre o setor, o estudo nota que a produção no Brasil e na Argentina já se caracteriza por excesso de capacidade. A remoção das barreiras de proteção reduzirá a renda de trabalhadores e a taxa de retorno do investimento no setor. Por outro lado, a redução em moeda local dos custos do carro importado melhora a renda do consumidor brasileiro.

Com o impacto na produção doméstica, o investimento estrangeiro no setor cairá ao longo do tempo. Essa previsão é reforçada pela mudança na competitividade global na indústria, reduzindo a atratividade do Mercosul, enquanto cresce a importância da China.

A UE encomendou avaliação sobre o impacto do acordo comercial sobre dois outros setores: florestal e agrícola. O relatório conclui, no primeiro caso, que os efeitos sociais, ambientais e para a economia local adversos já existem nas atuais condições do mercado. E que são exacerbadas pela "fraqueza e ineficiência" do governo, resultando no corte ilegal de madeira na floresta.

A liberalização birregional teria efeito limitado sobre o comércio de madeira entre os dois blocos. A principal conseqüência seria uma redistribuição no Mercosul: o Brasil e sobretudo a Venezuela expandiriam sua produção de madeira e móveis, provocando a queda na produção dos outros sócios.

Na área agrícola, dois estudos foram feitos sobre o impacto no desenvolvimento sustentável nas exportações de etanol e de carne bovina. A conclusão é de que a liberalização do mercado de etanol terá efeito positivo sobre a prevenção do aquecimento global.

Quanto à pecuária, a suspeita é de aumento do "trabalho escravo". O relatório cita estudo do Banco Mundial, segundo o qual o pasto na Amazônia só vale US$ 200 por hectare e a densa floresta tropical pode valer mais de US$ 7.500 pelo preço atual de crédito de carbono.

De maneira geral, o estudo conclui que o apenas o aumento das exportações agrícolas não reduzirá a desigualdade de renda no Mercosul. (AM)