Título: PDVSA confirma parceria com Petrobras na refinaria de Suape
Autor: Rittner, Daniel e Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 08/12/2006, Brasil, p. A4

A estatal venezuelana PDVSA está disposta a antecipar a entrada em funcionamento da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e descarta revisar sua participação no empreendimento, em conjunto com a Petrobras. A informação foi dada ao Valor pelo presidente da PDVSA, Rafael Ramírez, em resposta a rumores de que a falta de aportes pela petrolífera venezuelana poderá levar a estatal brasileira a executar as obras sozinha. A mensagem também foi transmitida ao governo brasileiro pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que teve reuniões de trabalho ontem com o colega Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto.

A integração energética esteve no centro das discussões. Petrobras e PDVSA assinaram quatro acordos envolvendo a exploração de petróleo e de gás natural, o intercâmbio de bens e serviços e a construção da refinaria brasileira, no porto de Suape. Ramírez deixou claro que, se Petrobras tiver fôlego suficiente para acelerar o cronograma de implantação da refinaria, prevista para 2012, a PDVSA não pretende se opor. "Não vemos problema nenhum e, se a Petrobras quiser, podemos pensar na antecipação", comentou Ramírez, que acumula o cargo de ministro de Energia e Petróleo.

Em sua visita ao Brasil, a primeira ao exterior depois de reeleito no último domingo para um novo mandato de seis anos, Chávez disse que Lula tirou o país do "marasmo econômico" e avaliou ser "perfeitamente possível" o país crescer 5% "e muito mais" nos próximos anos. "É um país que tem todas as condições de ser uma potência mundial", afirmou Chávez, defendendo uma aliança com a Venezuela e as demais nações sul-americanas.

Após cinco horas de reunião com o presidente brasileiro, no Palácio do Planalto, o venezuelano afirmou que Lula manifestou o desejo de visitar o líder cubano Fidel Castro, que há quatro meses se recupera de cirurgia em Havana. Uma das possibilidades estudadas para a data da visita de Lula à ilha é um pouco antes ou em seguida à posse do presidente eleito da Nicarágua, Daniel Ortega, marcada para 10 de janeiro.

Chávez aproveitou a visita ao Brasil para defender a disposição brasileira em negociar com o gabinete de Evo Morales, após a nacionalização dos hidrocarbonetos bolivianos. Ele elogiou a "valentia" de Lula ao preservar o diálogo com a Bolívia, apesar das pressões da "direita" - na semana passada, na Venezuela, Chávez chegou a trocar o sobrenome do ex-governador Geraldo Alckmin por Aldwyn, provavelmente confundindo-o com o ex-presidente chileno Patricio Aldwyn, o primeiro a governar o Chile após a redemocratização do país.

"Temos que ajudar o Evo", disse Chávez, sobre o seu principal parceiro na América do Sul. "Lula deixou bem claro e foi muito valente quando aqui o atacaram duro, indicando a direita que ele não havia defendido os interesses do Brasil. Lula se pôs de pé com muita firmeza e disse que tinha que ajudar a Bolívia. Esse é o sentimento que nos move: ajudar a Bolívia é ajudar a integração dos nossos povos."

Para o presidente venezuelano, a sua reeleição, bem como a de Lula, além das vitórias de Rafael Correa no Equador e de Ortega na Nicarágua, mostram que a América Latina está vivendo um "terremoto político". "Não estamos vivendo uma época de mudanças, mas uma mudança de época", afirmou Chávez.

Mesmo após ensaiar alguma disposição para dialogar com os Estados Unidos, ele abriu um tiroteio contra o governo americano. "Aspiramos ter uma relação de respeito, boas relações políticas e integrais com qualquer governo, mas sempre que haja respeito."

O chanceler Celso Amorim destacou quatro tópicos sobre os quais se apoiou o encontro bilateral de ontem: a refinaria em Pernambuco; a exploração do poço de petróleo de Carabobo-1, na faixa do Orinoco; o campo de exploração de gás Mariscal Sucre; e o Gasoduto do Sul. Em relação a esse último ponto, Amorim afirmou que foram reabertos grupos de trabalho envolvendo não apenas brasileiros e venezuelanos, mas outros países do continente para prosseguir as negociações que permitam a construção do supergasoduto, que passará pelo Uruguai e irá até a Argentina.

Amorim ressaltou que o encontro de ontem foi especificamente sobre questões energéticas. Acrescentou que em janeiro, antes do encontro de cúpula do Mercosul, os chanceleres vão se encontrar para debater acordos industriais, científicos, tecnológicos e agrícolas. "A reunião de ontem realça o caráter estratégico de nossa parceria". A impressão foi reforçada pelo chanceler venezuelano, Nicolás Maduro: "Foi mais do que um encontro econômico. Foi um encontro de povos para debater projetos estruturantes e condições propícias para a nossa integração".

Após o encontro com Lula, Hugo Chávez partiu para Buenos Aires e Montevidéu. Depois, viaja para Cochabamba, na Bolívia, onde participará da reunião de cúpula da Comunidade Sul-Americana de Nações.