Título: Ministro está "perdido", diz deputado após reunião
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 08/12/2006, Brasil, p. A5

Três deputados integrantes da comissão especial criada pela Câmara para acompanhar o desenrolar da grave crise do sistema aéreo brasileiro estiveram ontem com o ministro da Defesa, Waldir Pires. Carlos William (PTC-MG), Alceu Colares (PDT-RS) e Alberto Fraga (PFL-DF) saíram do encontro com três explicações para o atual colapso do setor no país: o baixo número de especialistas para solucionar os problemas técnicos dos equipamentos, falta da quantidade recomendável de aparelhos de comunicação aérea e a crise por que passa a profissão de controlador de vôo, composta por militares e civis e atingida por graves defasagens salariais.

A falta de técnicos ficou clara no último colapso do setor, quando um problema interrompeu a comunicação entre os aviões e as torres do Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle do Tráfego Aéreo de Brasília, o Cindacta 1. Constatado o problema, surgiu uma questão preocupante: não há, no Brasil, um só especialista capaz de resolver o problema. Foi necessário entrar em contato com a empresa italiana que fabrica os equipamentos usados pela central.

Por sorte, um funcionário francês dessa companhia estava a serviço em Manaus e foi chamado às pressas. "Se o problema voltar a ocorrer, será outro colapso. Não temos um técnico para solucionar problemas dessa gravidade", explicou William, após o encontro com Pires . "O ministro disse que este incidente é relativamente normal. O problema foi não ter um técnico especializado no momento do incidente", afirmou Fraga.

O segundo problema apresentado por Pires foi a falta de equipamentos de comunicação. Reflexo disso foi a determinação feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ontem, para que sejam comprados quatro equipamentos de comunicação semelhantes ao que falhou na terça-feira. Cada aparelho custará cerca de US$ 3 milhões.

O sistema experimenta também a insatisfação dos controladores de vôo. Hoje, 20% desses profissionais são civis. Os demais são militares. A questão deforma o setor, já que os planos salariais são vinculados à hierarquia das Forças Armadas. Hoje, um controlador ganha entre R$ 1.500 e R$ 3.000, muito abaixo dos rendimentos de profissionais de outros países.

O aumento não é possível, porque um sargento - patente dos controladores militares - não poderia ganhar mais do que os tenentes. "Uma das saídas é criar gratificações", sugere Fraga. Além dos salários, o Brasil precisa de 150 novos controladores.

A comissão não ficou satisfeita com a afirmação do ministro de que o problema técnico estaria resolvido. Fraga afirmou que Pires não conhece os problemas técnicos e de pessoal, e está sendo enganado com a omissão de informações por parte da Aeronáutica. "Senti o ministro, coitado, perdido".