Título: Aeronáutica descentraliza controle de tráfego
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 08/12/2006, Brasil, p. A5

Depois de três dias de tumultos e desorganização nos vôos comerciais, o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Luiz Carlos Bueno anunciou ontem, após reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um pacote de medidas para garantir a normalidade e segurança do transporte aéreo no país - nenhuma delas destinada a atender às queixas dos controladores de vôo contra baixos salários e atritos provocados pela militarização do comando de tráfego comercial. Reservadamente, contudo, a Aeronáutica, com autorização de Lula, começou a negociar o atendimento de algumas reivindicações dos controladores de vôos para que eles colaborem com a normalização do tráfego aéreo.

Ontem, a principal decisão da Aeronáutica foi descentralizar o controle, hoje concentrado em Brasília. O comandante Bueno garantiu que a situação dos vôos se normalizará nos próximos dias, com o conserto do equipamento de rádio do controle aéreo do Cindacta 1, em Brasília, cuja pane levou ao colapso de grande parte do tráfego de aviões nesta semana. "O tráfego aéreo em dezembro e janeiro vai ser absolutamente normal", disse, com a ressalva de que poderão ocorrer atrasos "normais" de 30 a 40 minutos em alguns vôos. Ele lembrou que o governo já está gradativamente treinando novos controladores, e que 363 serão treinados só no próximo ano.

As medidas anunciadas ontem, segundo o comandante do Cindacta 1, coronel Carlos Vuyk de Aquino, se destinam a evitar novas crises como a desta semana e aumentar a segurança, no futuro. A descentralização do controle de tráfego aéreo levará cerca de oito meses para entrar em funcionamento, tempo necessário para a compra e instalação dos novos equipamentos, calculou. Lula determinou que o Cindacta 1, hoje responsável pelo controle de 80% dos vôos no país (cerca de 2,6 mil por dia), transferirá parte dessa responsabilidade aos centros de controle de vôo do Rio, São Paulo e Belo Horizonte (hoje encarregados apenas de acompanhar chegadas e partidas, a chamada aproximação das aeronaves).

Serão comprados também novos equipamentos para "apoio estratégico" desses centros, para reforçar os sistemas existentes a fim de evitar uma nova "experiência angustiante" como a desta semana, segundo explicou o brigadeiro. A Aeronáutica firmará contratos de "manutenção preventiva e corretiva" dos sistemas de comunicação, algo que antes ficava a cargo dos engenheiros da Força Aérea Brasileira, nem todos especializados no equipamento usado.

Também serão comprados novos equipamentos de comunicação por satélite e telefônica. Bueno não soube informar quanto será gasto. "Há dinheiro suficiente no orçamento", afirmou. O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, disse que o governo está fazendo um diagnóstico dos recursos necessários e prometeu "liberar o que for preciso".

O governo designou também uma equipe de especialistas em avaliação de riscos do Instituto Tecnológico da Aeronáutica e do Centro Tecnológico da Aeronáutica para avaliar falhas e danos nos Cindactas do país.

Bueno reconheceu que não havia especialistas no Brasil para diagnosticar o problema ocorrido no sistema de controle de rádio do Cindacta 1 - responsável pela crise desta semana -, e que, por sorte, um técnico francês foi encontrado em viagem a Manaus e pôde socorrer a Aeronáutica. O comandante chegou a dizer que o sistema que entrou em pane está "desgastado", especialmente depois de atualizações de software realizadas no ano passado. Depois, espantou-se quando lhe pediram detalhes. "Eu disse desgastado? Foi uma falha de comunicação, peço desculpas."

Bueno negou haver qualquer problema ou atrito com os controladores de tráfego aéreo, que elogiou pela "colaboração" e "entrosamento". Negou rumores de sua possível demissão, e disse que o presidente Lula "ficou muito satisfeito" com as medidas decididas e apresentadas ontem.

No dia 10 de dezembro o quadro de 175 controladores de vôo do Cindacta 1 será aumentado para 182 e um aparelho de rádio do centro de controle de Campo Grande, que seria transferido ao Mato Grosso, será adaptado para reforçar o sistema de reserva em Brasília. Progressivamente, a descentralização do controle de vôo vai aumentar a área de responsabilidade de outros centros de controle espalhados no país.