Título: Petrobras leva bancada do CE a rebelar-se contra governo
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 08/12/2006, Política, p. A7

Uma das parlamentares cearenses mais atuantes na luta pela construção da Siderúrgica Ceará Steel, a senadora Patrícia Saboya Gomes (PSB-CE) ameaça assumir posição de independência em relação ao governo, se a Petrobras descumprir o acordo para fornecimento do gás. Ela cobra do presidente Luiz Inácio Lula da Silva uma posição sobre o assunto, e diz que uma eventual solução não favorável ao Ceará significará para ela "rompimento com o governo".

A senadora lembra que a siderúrgica foi uma promessa de campanha de Lula. "Não se investe no Nordeste apenas com o Programa Bolsa Família. É preciso muito mais que o Bolsa Família para que os pobres deixem de ser pobres no nosso Estado e no Nordeste", disse.

Patrícia teve uma dura conversa com a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), há cerca de duas semanas, sobre a ameaça da Petrobras de descumprir o acordo para fornecimento do gás. Na última quarta-feira contou com a parceria do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), presidente do seu partido, numa cobrança pública ao presidente da estatal, Sérgio Gabrielli, durante audiência pública no Senado.

A audiência pública com Gabrielli, na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), destinava-se à discussão das relações entre a Petrobras e o governo boliviano. Mas o problema da siderúrgica foi transformado no foco do debate. O ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, estava presente e acabou fazendo uma proposta que atendeu aos interesses dos parlamentares cearenses. Sugeriu a realização de uma reunião de conciliação entre todas as partes interessadas, sob a condução do próprio ministro: a senadora e representantes da Petrobras, do governo cearense e das empresas acionistas (a coreana Dongkuk, a italiana Danieli e a Vale do Rio Doce). Patrícia aguarda que a reunião seja marcada para a próxima semana.

Repetindo argumento de Dilma na conversa que teve com a senadora, o presidente da Petrobras alegou que o projeto poderá resultar em prejuízos para a estatal estimados entre US$ 500 milhões e US$ 1 bilhão. Os senadores rejeitaram o argumento. "Primeiro, não é prejuízo, e sim subsídio. Segundo, não seria concedido pelo governo federal e sim pelo Ceará. Terceiro, não seria ajuda para os coreanos, como alegou o presidente da Petrobras, e sim para investidores no desenvolvimento do Estado", disse Tasso.

A ameaça da Petrobras de não cumprir o acordo de fornecimento de gás por 20 anos causa embaraços ao ex-ministro Ciro Gomes (PSB), eleito deputado federal, e seu irmão, Cid Gomes (PSB), governador eleito, aliados do presidente. Os dois se encontraram com Patrícia e Tasso no Senado, na semana passada, e discutiram a necessidade de uma mobilização para garantir o projeto. Cid, futuro governador, quer evitar problemas institucionais com o Palácio do Planalto. Ciro fez críticas duras, mas tem se mantido em silêncio a maior parte do tempo. "A discussão mudou de patamar. Antes, era uma molecagem dizer que havia alguma falha do Estado do Ceará. É pura e simples mentira. É um pretexto sujo e intolerável", disse.

Mas é Patrícia quem mostra maior revolta. "Como é que o governo quer iniciar um governo novo, quer iniciar uma conversa, um diálogo com a oposição, se não tem capacidade sequer de dialogar com sua base aliada?".