Título: Perda de receita faz banco pedir nova TR
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 08/12/2006, Finanças, p. C1

Embora os bancos digam que a sua principal preocupação é com o equilíbrio do sistema de financiamento imobiliário, setores do governo identificaram a proposta dos bancos de alterar o cálculo da TR como uma tentativa de proteger receitas que estão sendo perdidas nos fundos de investimento.

Com as quedas de juros básicos, fundos de investimentos de varejo que captam recursos do pequeno depositante já perderam competitividade. A combinação de juros básicos de 13,25% ao ano com taxas de administração de 4,5% ao ano fazem com que muitos fundos já paguem remuneração inferior à poupança. Só não ocorre migração maciça de recursos porque esse é o grupo de investidores menos informado e menos atento.

Não há estatísticas agregadas do sistema financeiro sobre quanto as receitas com tarifas de fundos rendem aos bancos, mas números de algumas instituições dão uma idéia da importância desses recursos. No caso do Banco do Brasil, essa receita mais que duplicou em cinco anos, chegando a R$ 1,417 bilhão nos 12 meses encerrados em setembro. Entre as receitas de prestação de serviço, só perdem para o pacote de tarifas do banco.

É verdade, também, que a perda de receita com a administração de recursos de terceiros deverá ser compensada com o aumento de outras formas de captação dos bancos, que geram receitas de intermediação.

Alguns administradores de recursos de terceiros dizem que as tarifas mais elevadas só se aplicam a fundos dirigidos a pequenos investidores - que têm custos operacionais mais altos. É mais caro gerenciar resgates, aplicações e dar suporte a 1 milhão de cotistas espalhados pelo país, com aplicação média de R$ 600, que administrar um fundo exclusivo com patrimônio de R$ 600 milhões.

O argumento contrário é que os bancos de varejo tipicamente trabalham com custos fixos. Mantêm extensas redes de agências e equipamentos de informática para prestar outros serviços bancários. São mínimos os custos marginais para captar recursos para os fundos.

O vice-presidente de administração de recursos de terceiros da Caixa, Wilson Risolia, considera que essa discussão sobre custos perderá sentido em breve. Os juros estão caindo. Quando chegarem mais próximos dos padrões internacionais, altas taxas de administração se tornarão inviáveis. Por exemplo, se a taxa básica brasileira chegar perto da americana - 5,5% ao ano - uma tarifa de administração de 4,5% ao ano é claramente despropositada. "A saída é reduzir as taxas de administração", disse. "Se um fundo tiver uma estrutura de custo que não permita reduzir a taxa, não sobreviverá."