Título: Copom projeta inflação mais baixa e sinaliza novos cortes da Selic em 2007
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 08/12/2006, Finanças, p. C2

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central diz, pela primeira vez, como vê a política fiscal em 2007: continuará expansionista. A informação consta da ata, divulgada ontem, da sua reunião, realizada na semana passada, que cortou os juros básicos da economia em 0,5 ponto, para 13,25% ao ano.

No documento, o Copom não faz juízo de valor sobre a política fiscal. Como em meses anteriores, apenas diz que a economia sofre estímulos não só da política monetária e do aumento de emprego e renda, mas também de "impulsos fiscais ocorridos desde o último trimestre do ano passado". A novidade é que a ata diz que tais impulsos também são "esperados para o próximo ano".

Segundo a ata, os três diretores que na semana passada votaram por um corte de apenas 0,25 ponto nos juros básicos sustentam que os riscos de descumprimento da meta de inflação justificam essa desaceleração. Os cinco membros que votaram por um corte de 0,5 ponto acham que os dados disponíveis ainda não sustentariam tal conclusão.

No cenário central de projeção de inflação do BC, houve melhora. A ata diz que, mantidos os juros estáveis nos 13,75% ao ano vigentes até a semana passada, a inflação cairia abaixo do centro da meta de 2007, fixada em 4,5%. E, na hipótese de os juros serem reduzidos gradualmente como esperado pelos analistas do mercado - até chegarem a 12% no fim de 2007 -, ainda assim a inflação ficaria abaixo do centro da meta; na projeção feita na reunião anterior, em outubro, a inflação superava a meta.

Os três diretores do BC que votaram pela desaceleração dos cortes de juros dão um peso maior ao que não está contemplado nessas projeções - ou seja, aos riscos de a inflação se acelerar mais do que o esperado.

O discurso deles é que a política monetária trabalha com uma série de incertezas. A ata volta a listar três delas. Uma é o fato de que, após seguidas reduções, a taxa de juros já está mais próxima da taxa de equilíbrio - ou seja, daquela que não provoca aceleração nem desaceleração na inflação. Outra observação é que há incertezas sobre como movimentos da taxa de juros afetam a atividade econômica e inflação - às vezes, o efeito é maior que o esperado. Finalmente, a ata lista uma série de estímulos que já foram dados à economia, que não tiverem seus efeitos plenamente capturados. É o caso dos cortes de juros feitos em 2006, que serão completamente absorvidos pela economia em 2007, já que eles atuam com certa defasagens; do aumento do emprego e da renda real; e, finalmente, dos estímulos fiscais, que, sabe-se agora pela ata, chegarão a 2007.

Os cinco membros que votaram pelo corte de 0,5 ponto percentual não ignoram esses riscos. Na verdade, eles não o consideram tão relevante frente às boas perspectivas inflacionárias.

A ata deixa claro que, na próxima reunião, em janeiro, a hipótese de corte de 0,25 ponto estará de novo em debate. Segundo a ata, "seria necessário aguardar a evolução do cenário macroeconômico até a próxima reunião do comitê para, então, reavaliar a conveniência de reduzir a taxa Selic em 0,25 ponto percentual".

Na semana passada, quando foi divulgado o placar da reunião do Copom, o mercado financeiro passou a apostar majoritariamente em um corte de 0,25 ponto. "Muita gente esperava uma ata que descrevesse um cenário mas sombrio, mas as informações são praticamente todas positivas", disse o economista-chefe da Concórdia Corretora, Elson Teles. "Com isso, ganha um pouco de força a hipótese de um corte de 0,5 ponto, embora a aposta em um corte de 0,25 ponto permaneça dominante."

"O conteúdo da ata não mostra nada que possa justificar a defesa de um corte menor de juros feita pelos dissidentes", afirma Joel Bogdanski, do Banco Itaú. "O cenário inflacionário é benigno, com projeções abaixo da meta, e a demanda está sob controle."

Na avaliação do economista, os dados a serem divulgados nas próximas semanas não serão capazes de alterar esse cenário positivo, o que fará com que o mercado se incline cada vez mais para um corte de 0,5 ponto.

Na ata, o Copom reviu de 5,4% para 4,8% a sua projeção para o reajuste das tarifas em 2007. Como a inflação projetada está abaixo do centro da meta, isso significa que os preços livres teriam variação confortavelmente abaixo de 4,5%.

A última projeção do BC que se tem conhecimento sobre a inflação de 2007 foi divulgada em setembro, no relatório trimestral de inflação. Na ocasião, o índice previsto era 4,3%. De lá para cá, sabe-se que caiu pelo menos duas vezes - é o que o BC informou na ata de outubro e, novamente, na ata de ontem. Ou seja, as projeções do BC estariam hoje muito próximas das previsões do mercado financeiro - 4,1%. O Copom avalia que a aceleração da inflação em outubro (o IPCA subiu de 0,21% para 0,33%; e o IGP-DI, de 0,24% para 0,81%) tem "caráter transitório".