Título: Balança comercial das autopeças deve subir e bater recorde em 2007
Autor: Olmos, Marli
Fonte: Valor Econômico, 08/12/2006, Empresas, p. B1

Apesar da valorização do real, a indústria de autopeças se prepara para um crescimento de 10% na balança comercial de 2007. Resultado de uma expectativa de crescimento de 4,5% nos embarques para o exterior, o saldo resultará em US$ 2,2 bilhões positivos, quase cinco vezes maior do que o setor obteve há dois anos.

Mesmo com o câmbio favorável às importações, os fabricantes de autopeças ainda preferem fazer as compras no mercado interno. É o que mostrou levantamento feito pelo Sindicato Nacional da Indústria de Componentes Automotivos (Sindipeças) com base em pesquisa com as principais empresas do setor.

As projeções que a entidade acaba de preparar mostram que as exportações de 2007 chegarão ao total de US$ 9,2 bilhões. Um avanço em relação à receita de US$ 8,8 bilhões em 2006, que avançou 17,6% em relação a 2005.

Mas este pode ser o último ano de euforia nas vendas externas, segundo o presidente do Sindipeças, Paulo Butori. O dirigente explica que o fabricante de componentes automotivos que fornece para grandes empresas do exterior não pode romper contratos mesmo que a exportação não seja conveniente com a valorização do real. Esses contratos costumam ter uma variação de três a cinco anos. "Mas muitos deverão entrar no último ano em 2007", afirma Butori.

A subsidiária brasileira da Eaton, uma empresa americana, tem 30% do faturamento atrelado às vendas no exterior. O presidente, Carlos Alberto Briganti, explica que a maior parte das vendas é feita para a própria matriz da empresa nos Estados Unidos. "A partir de 2004 invertemos o modelo de negócio, até então mais voltado para o mercado interno, e começamos a direcionar boa parte dos esforços nas exportações. Mas a situação cambial preocupa", afirma o executivo.

A Delphi já sentiu a participação das vendas externas no faturamento cair. Para este ano, dos US$ 800 milhões em receita que a companhia alcançará no Brasil e Argentina, 16% virão das vendas externas. "Essa fatia chegou a passar de 20%", afirma Gabor Déak, presidente da empresa.

Mas se no cenário externo as empresas se preparam para o último ano de boas vendas, no mercado interno a situação está melhor por conta das encomendas das montadoras, que aceleraram o ritmo com o aumento da demanda doméstica.

A indústria automobilística prevê que 2007 será o melhor ano em vendas internas da história do setor. As montadoras devem ficar com 60% da produção brasileira de componentes em 2007. O Sindipeças conta com um aumento de 3,1% na produção de veículos no próximo ano, o que deverá somar 2,7 milhões de unidades.

Em conseqüência, a indústria de autopeças deverá atingir um faturamento de US$ 29,5 bilhões em 2007. Total maior que os US$ 28,4 bilhões deste ano, que também representaram um crescimento de 17,4% na comparação com o resultado de 2005. O departamento de economia do Sindipeças, alerta, porém, que, por conta do câmbio, o crescimento nominal será de 5,4%.

Segundo levantamento do Sindipeças, as empresas do setor não devem demitir em 2007. Espera-se até um ligeiro incremento de 0,5% no nível de emprego, num total de 200 mil postos. Assim, o setor também trabalhará em 2007 com ociosidade mais baixa, de apenas 14%. Isso poderia significar uma oportunidade para investimentos em ampliação do parque industrial.

Os fornecedores de peças também esperam investir mais em 2007. A projeção é de que os recursos somem US$ 1,35 bilhão, 3,8% mais do que em 2006. O ritmo caiu este ano. A soma do que foi gasto com investimentos em 2006 - US$ 1,3 bilhão - representa retração de 7,1% em relação a 2005.

No ano passado, os fabricantes de peças estavam mais animados com investimentos. A soma dos recursos aplicados foi 66% maior do que o total de 2004.

"O empresário está resistente em fazer investimentos por conta dos problemas de infra-estrutura", diz Butori. "Ele pensa que às vezes não vale a pena ampliar a produção se mais adiante tiver de enfrentar um apagão", completa.